O espetáculo de dança “BWV 988: Trinta possibilidades de transgressão” chega a Belo Horizonte nesta sexta-feira (4/8) e fica em cartaz até segunda (7/8), no Teatro 1 do CCBB- BH. A montagem teve sua estreia mundial na Bélgica, durante a Bienal de Mons de 2018, em seguida desembarcou em Brasília e esteve em pausa desde então.
A coreografia concebida em conjunto pelo pianista Gustavo Carvalho, pela coreógrafa e bailarina Jacqueline Gimenes e pelo artista visual francês François Andes foi criada a partir de “Variações Goldberg BWV 988”, uma das peças mais complexas e importantes de Johann Sebastian Bach, compositor do barroco alemão.
A música foi ouvida pelo grupo durante residência artística realizada no Museu Bispo do Rosário, no Rio de Janeiro, espaço que abrigou o hospital psiquiátrico da Colônia Juliano Moreira, um dos maiores do país.
A partir dessa composição musical e da vivência realizada no museu, o trio passou a pensar nas noções de transgressão na sociedade e daí surgiu o nome do espetáculo. “Ele significa que cada uma dessas variações traz uma possibilidade de transgressão”, explica o pianista Gustavo Carvalho.
Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) foi um artista sergipano que viveu grande parte da vida às margens da sociedade, no manicômio que mais tarde viria a se tornar o museu frequentado durante o processo de pesquisa realizado por Gustavo, Jacqueline e François. Nos mais de 50 anos em que viveu no hospício, Bispo do Rosário criou diversos bordados, que viriam a ocupar galerias e encantar plateias pelo mundo.
'Queremos mostrar justamente o poder que a arte tem de transformação. Uma montagem como essa pode atingir e transformar muito mais do que a segregação e o isolamento'
Gustavo Carvalho, pianista
Novo território
A inauguração do museu ocorreu no ano 2000, após os avanços da reforma psiquiátrica, como forma de ressignificar o território por meio da arte. Ex-internos ainda hoje frequentam o ateliê de prática artística oferecido pela instituição fluminense.
E foi justamente por meio do contato e da troca de experiências com antigos usuários do sistema de saúde mental e com profissionais da área que ocorreu todo o processo de concepção da coreografia, do cenário e da trilha sonora de “BWV 988: Trinta possibilidades de transgressão”. Ao longo de cerca de um mês e meio, os artistas realizaram intercâmbios com o público em performances e workshops
O resultado das trocas foi integrado ao trabalho que será apresentado no CCBB BH. “A própria concepção do espetáculo acontece através da vivência no território que foi um local de internações e da convivência com pessoas que foram submetidas a essas situações. Queremos mostrar justamente o poder que a arte tem de transformação. Uma montagem como essa pode atingir e transformar muito mais do que a segregação e o isolamento”, afirma o pianista.
No palco, Jaqueline Gimenes protagoniza o solo de dança. A bailarina foi solista do Grupo Corpo e é considerada um dos grandes nomes da dança contemporânea no país. Gustavo Carvalho interpreta a obra de Bach ao vivo. Junto ao piano, forma o segundo personagem em cena.
“Variações Goldberg” teria sido composta por Bach depois de ele receber a encomenda de um aristocrata que sofria de insônia. O músico, então, criou a peça para que o o nobre pudesse ouvi-la durante as noites que passava em claro.
“A partir daí, criamos a personagem interpretada por Jacqueline, que atravessa o tempo da noite, que representa esse lugar onde nós todos somos confrontados pelos nossos próprios fantasmas e angústias”, afirma o pianista Gustavo Carvalho.
Bordados de Bispo
Os elementos cênicos e os figurinos ficaram a cargo de François Andes, que criou todo um universo gráfico para a coreografia. Os desenhos do artista visual foram posteriormente bordados nos mantos e vestidos da personagem como uma fomra de reverenciar a obra de Arthur Bispo do Rosário.
Diversos detalhes presentes nos desenhos de François foram transformados em elementos da cena. A paisagem noturna é construída por cordas, que formam uma espécie de labirinto que precisa ser atravessado pela bailarina. Segundo Gustavo, “isso representa nós mesmos, neste momento de confronto com todos”
Depois de quatro anos em pausa, o espetáculo passou por uma breve reformulação.A reestreia contará com projeções criadas pelo videomaker e artista visual Eder Santos.
Bate-papo
A temporada do espetáculo em Belo Horizonte contará também com programação paralela, que oferecerá duas oficinas e roda de conversa. No sábado (5/8), logo após a apresentação, o público terá a oportunidade de participar de bate-papo com o elenco.
Nesta quinta-feira (3/8), será realizada a oficina de expressão corporal "Transgressão: construção e desconstrução dos limites do corpo”, com Jacqueline Gimenes.
De sexta-feira a domingo (4 a 6/8) será ministrada a oficina “Transgressão dos limites do papel”, a cargo do artista visual François Andes.
“BWV 988: TRINTA POSSIBILIDADES DE TRANSGRESSÃO”
De sexta (4/8) a segunda (7/8), às 20h, no Teatro 1 do CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). Após a sessão de sábado (5/8), haverá bate-papo com o elenco. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis no site bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB BH
OFICINAS
>> “Transgressão: construção e desconstrução dos limites do corpo”, com a bailarina Jacqueline Gimenes, nesta quinta (3/8), das 10h às 12h, no Teatro 2 do CCBB BH. Vagas: 20.
>> “A transgressão dos limites do papel”, com o artista visual François Andes. Sexta (4/8) e domingo (6/8), das 14 às 17h, e sábado (5/8), das 10h às 13h, no Teatro 2 do CCBB- BH. Vagas: 25. Inscrições para ambas atividades via formulário publicado no perfil @arsetvita.
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro
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