A cantora Daniela Mercury no palco

A cantora e compositora baiana lançará no MecaInhotim vídeo em homenagem a Zé Celso Martinez Corrêa, que tem direção da artista plástica mineira Jeane Terra

Célia Santos/divulgação

"Comemoro mais o futuro do que o passado", afirma Daniela Mercury, para logo após completar: "A arte é fundamental para não se perder a memória". É com o olhar que mira o que está por vir, mas que também reverencia o que já foi, que a cantora e compositora baiana, 58 anos de vida, 32 de carreira solo e 40 de música chega a Minas Gerais como uma das principais atrações do Meca Inhotim, que será realizado desta sexta (4/8) a domingo (6/8), em Brumadinho.

Daniela é o destaque de sábado (5/8) do festival em Inhotim, que, além de shows, traz uma programação de palestras, encontros e exibições. Cada show é único, ela diz, pois só define o repertório na véspera. Mas há um momento da apresentação de amanhã que já foi definido. 

Está prevista uma homenagem a Zé Celso Martinez Corrêa, o encenador e fundador do Teatro Oficina, morto aos 86 anos, no último dia 6 de julho, vítima de um incêndio em seu apartamento, em São Paulo.

Segunda faixa de "Baiana", álbum que Daniela lançou em dezembro passado, "Macunaíma" nasceu de um texto que a cantora pediu a Zé Celso. Ele compôs a letra com Fernando de Carvalho. Mário de Andrade, Abaporu, Anitta, Fernanda Montenegro, Pabllo Vittar, são vários os nomes citados na verborragia modernista que o diretor criou. A própria Daniela cantou a música no casamento do dramaturgo com o ator Marcelo Drummond, em 6 de junho.

Homenagem a Zé Celso

Com o show em Inhotim, o primeiro que a cantora faz em um festival após a morte de Zé Celso, ela convidou a artista plástica mineira Jeane Terra, que assina parte da cenografia de "Baiana", para criar um trabalho. O vídeo resultante desta obra será lançado neste sábado, com exibição no telão durante a performance de "Macunaíma".

"A música (com 5min40) é muito viva, alegre e dançante. Virou uma canção pop com um texto completamente erudito, louco e improvável, porque o Zé sempre fez isso. Ele tem textos profundos que falam diretamente com o público. E também sempre foi múltiplo, trabalhou muito com música", afirma Daniela. 

Em cena, com banda e bailarinos, ela vai desfiar boa parte do novo repertório. "Baiana" nasceu durante a pandemia, mas a cantora quis documentar o momento em que o disco foi gerado de outra maneira.
 
"Fui produzindo as canções individualmente. Já sabia que quando lançasse o disco, teríamos saído da pandemia. Fiquei pensando até que ponto a gente aguentaria falar de pandemia. Ao mesmo tempo, 'Baiana' nasce no período de reclusão em que tivemos que lidar fortemente com o presente e o passado, porque não havia futuro."

No período do isolamento, Daniela começou a sonhar com a infância. "As memórias vieram tão nítidas que o álbum acabou sendo espontaneamente sobre elas. 'Baiana' (a faixa-título) é um samba-reggae triste. Já a música para o Caetano ('Caetano filho do tempo') começou como um samba de roda por conta de Santo Amaro (da Purificação, cidade natal do cantor e compositor), mas acabou com um groove mais arrastado, quase um samba pagode."

O ativismo de Daniela, que se intensificou nos últimos anos, está expresso em várias canções. "Mulheres do mundo", que abre o disco, é um samba-reggae. "Ele é algo que trago lá atrás, então não quero me desvencilhar. Mas vou misturando com outras sonoridades. A música é um samba-reggae sinfônico", diz ela sobre a canção, outra de letra extensa, que fala de
mulheres comuns, "médicas, enfermeiras, professoras, cozinheiras" e de suas próprias revoluções, em todo o país.
 

Samba de Engomadeira

Também com foco no feminino, o samba "Engomadeira" celebra Salvador, mas não a cidade para turista ver, e sim aquela que Daniela conheceu na infância e na juventude, como o próprio bairro que dá título à canção. "Era ali que andava quando menina, bairros proletários que vêm da minha memória como bailarina e depois fazendo universidade."

Para a cantora, a participação em movimentos sociais é essencial. "Eu via a necessidade de participar de atos durante o período terrível de governo que tivemos. Agora temos que continuar nos defendendo, pois é muito difícil educar, fazer as pessoas entenderem o valor da democracia, de que matéria ela é feita."
 
Para ela, mesmo que "Baiana" traga muito da memória, não é um disco sobre o passado. "As músicas que prevalecem falam da atualidade."
 
Cantora Adriana Calcanhotto segura uma rosa

Adriana Calcanhotto é atração desta sexta (4/8) no Inhotim

Leo Aversa/divulgação
 

Ainda que sua estreia solo tenha se dado com o álbum "Daniela Mercury" (1991), foi depois do segundo, "O canto da cidade" (1992), que sua carreira deslanchou – e com ela o axé chegou a todo o Brasil. A maioria da plateia do Meca é formada por pessoas que não tinham sequer nascido quando ela despontou.

"Lido com o público jovem o tempo inteiro. Acho que o show será uma ótima oportunidade de mostrar a modernidade do meu trabalho. Comecei a incluir música eletrônica há 23 anos. Essa coisa de 'esse artista quem gosta é meu pai' é meio que descartada quando (o público) me vê. E gosto desta tensão, da dificuldade em seduzir, ter desafios. E isto acontece principalmente porque me atualizo."

Mesmo assim, ela garante que antigos sucessos, "O canto da cidade", "Swing da cor", "O mais belo dos belos" entre eles, estarão no show. "Canto as músicas antigas mais pelo público do que por mim. Por mim, eram só as novas. Não que não goste das antigas, mas tenho sempre vontade de ficar com o novo. Mas eu alterno os momentos; há uma interação muito grande com a plateia, movimento. Não é para assistir sentado", comenta.   

Atrações paralelas

O Meca vai ocupar três espaços de Inhotim, mas o público poderá visitar todas as atrações do instituto durante o evento. O palco principal do festival será no Magic Square. A igrejinha e o auditório de Inhotim vão receber outras atrações do evento.
 
Arte, cultura, diversidade serão tema de debates durante o dia. Entre os convidados estão as atrizes Bárbara Paz e Bruna Carvalho, os jornalistas Milly Lacombe, Chico Barney e Álvaro Pereira Júnior. A programação diurna ainda terá a presença de vários DJs. Haverá também uma feira com marcas independentes de Belo Horizonte e de São Paulo de roupas e acessórios.
 
Duas festas, Heavy Love e Alta Fidelidade, vão acontecer durante o festival. Completando a programação serão exibidos os documentários "Belchior: Apenas um coração selvagem", "Cássia Eller" e "O barato de Iacanga".
 
Russo Passapusso e a dupla Antônio Carlos e Jocafi sorriem para a câmera

Russo Passapusso (ao centro) e a dupla Antônio Carlos e Jocafi encerram o MecaInhotim, no domingo (6/8)

Pedro Soares/divulgação
 

PROGRAMAÇÃO

. Hoje (4/8)
17h - Melly
18h30 - Rodrigo Amarante
20h15 - Adriana Calcanhotto
22h15 - Lamparina
0h - L'Homme Statue

. Sábado (5/8)
17h - Tuyo
18h30 - Las Ligas Menores
20h - Luedji Luna
22h - Daniela Mercury
0h - Wealstarcks + FBC

. Domingo (6/8)
14h15 - Ana Frango Elétrico 
16h - Alto da Maravilha (Russo Passapusso e Antônio Carlos & Jocafi)

MECA INHOTIM

Desta sexta (4/8) a domingo (6/8), a partir das 10h, em Inhotim, Rua B, 20, Brumadinho. Ingressos - sexta: R$ 580 e R$ 290 (meia); sábado: R$ 780 e R$ 390 (meia); domingo: R$ 380 e R$ 190 (meia); passaporte para os três dias: R$ 1.580 e R$ 790 (meia). À venda no ingresse.com. Informações e programação completa: instagram.com/mecalovemeca