Em 20 de junho, Anna Carolina Jatobá deixou a Penitenciária Feminina Santa Maria Eufrásia Pelletier, em Tremembé, interior de São Paulo, após a Justiça conceder progressão para o regime aberto. Alexandre Nardoni continua preso, também em Tremembé, na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, onde cumpre pena no regime semiaberto.
Quinze anos após a condenação pela morte de Isabella Nardoni, enteada dela e filha dele, os dois continuam sendo um casal. Mesmo com o período na cadeia (ela foi condenada a 26 anos, ele a 31) nunca mudaram uma vírgula do que afirmaram durante o julgamento, em março de 2010. Afirmam ser inocentes.
Não há, no Brasil deste milênio, um crime com tamanha repercussão do que o caso Isabella Nardoni, a menina de 5 anos que, em março de 2008, foi jogada da janela do sexto andar do prédio onde seu pai morava com a nova companheira e os dois filhos pequenos do casal. A discrição dos condenados não gerou, ao longo deste tempo, tantas notícias como a do trio responsável por outro crime célebre, do casal Richthofen (2002).
Ainda assim, há muito o que dizer sobre o crime. Com estreia amanhã (17/8), na Netflix, o documentário "Isabella: O caso Nardoni" revira o caso do avesso. Mesmo que não tenha conseguido nenhuma declaração de Jatobá e Nardoni e seus familiares (após várias tentativas), o longa conta com fortes depoimentos. Foi produzido sob sigilo, e só muito próximo do lançamento a plataforma começou a anunciar o projeto.
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Simonal e Chacrinha
Dirigido por Claudio Manoel (o ex-Casseta) e Micael Langer, dupla que lançou os documentários "Simonal – Ninguém sabe o duro que dei" (2009), "Chacrinha – Eu vim para confundir e não para explicar" (2021) e a série "Meu amigo Bussunda" (2021), o filme traz algumas cartas na manga.
A começar pelo extenso depoimento da mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira. É a fala dela, acompanhada de sua mãe, Rosa, e da sobrinha Giovanna (da mesma idade que Isabella), que abre o documentário. Neste momento, ela não comenta sobre o crime, mas sim as lembranças da gravidez precoce (tinha 17 anos), de imagens do parto (com Alexandre Nardoni acompanhando cada momento) etc.
Dois especialistas no caso – o jornalista Rogério Pagnan, autor do livro "O pior dos crimes – A história do assassinato de Isabella Nardoni", e a criminóloga Ilana Casoy, autora de "A prova é a testemunha" e "Casos de família – Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni" – atuaram como consultores do projeto.
Passada uma década e meia, a tragédia é revista de uma forma diferente do sensacionalismo com que foi coberta pela imprensa. A própria é colocada em xeque várias vezes, lembrando absurdos que houve na cobertura – como um detector de mentiras colocado em um programa de TV em cima da polêmica entrevista que os Nardoni deram ao "Fantástico".
O documentário tenta ainda contrapor as versões da acusação e da defesa, ouvindo o promotor Francisco Cembranelli (que se tornou uma estrela na época, como mostrar as imagens das várias entrevistas que ele concedeu à TV) e o advogado Roberto Podval.
Banheiros químicos para a 'plateia'
Recupera, minuto a minuto, tudo o que ocorreu no edifício nos 15 minutos que mostram a chegada da família até a descoberta da menina, ainda viva, jogada da janela. Relembra detalhes que ninguém mais deve se dar conta, como o depoimento do casal à polícia, marcado no dia do aniversário de Isabella.
As imagens mostram que foram colocados até banheiros químicos em frente à delegacia para atender à massa de gente que foi ver de perto a chegada da dupla.
Ou então a decisão do juiz que presidiu o julgamento, de colocar caixas de som na frente do tribunal para que a multidão de populares pudesse ouvir o veredito.
Pior ainda é ouvir Ana Carolina, a mãe, contar como ela passou os quatro dias isolada em um quartinho do tribunal durante o julgamento – ela foi colocada ali a pedido da defesa, que poderia chamá-la (e não a chamou) para um depoimento.
Mesmo com tantas armas, e fazendo o uso delas corretamente, o filme não avança sobre o que realmente aconteceu na noite de 29 de março de 2008. Só os dois condenados têm essa resposta – e eles, já está mais do que provado, não irão falar sobre isto.
“ISABELLA: O CASO NARDONI”
• (Brasil, 2023, 104min., direção de Cláudio Manoel e Micael Langer). O documentário estreia nesta quinta (17/8), na Netflix