"Apesar de ser um dos nomes principais do modernismo e existirem milhões de estudos sobre sua obra, há lacunas na biografia dele (Oswald de Andrade)"
Mariano Marovatto, escritor
Uma menção mínima, quase sem importância, foi o ponto de partida para que o escritor carioca Mariano Marovatto iniciasse a pesquisa que redundou em "A guerra invisível de Oswald de Andrade" (Todavia). Hoje e amanhã, ele lança o livro em Belo Horizonte – nesta quinta (17/8), na Livraria Quixote, e na sexta (18/8), na Faculdade de Letras da UFMG.
Em meio a uma pesquisa sobre Vinicius de Moraes, Marovatto descobriu um parágrafo que mencionava que em 1939, quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, o Poetinha esteve em Lisboa, onde se encontrou com Oswald. A referência se repetiu em algumas publicações, mas nada mais havia sobre isto.
"Parei para pensar: o Oswald conhecia algumas pessoas em Lisboa por causa da viagem que ele fez em 1923 com a Tarsila. Ele deveria ter uma entrada maior do que Vinicius, na época só um estudante de letras de 25 anos voltando de Oxford. Este já estava com 50. Comecei a pesquisar jornais, episódios em crônicas de outros autores em Lisboa na mesma situação. Fui montando um quebra-cabeças e, de repente, eu tinha uma história gigante", conta ele.
"A guerra invisível" cobre o ano de 1939 na vida de Oswald. Foi um período de hiato produtivo, entre dois marcos, o teatral "O rei da vela" (1937) e o primeiro volume de "Marco zero – A revolução melancólica" (1943). Por outro lado, e é este o cerne da pesquisa de Marovatto, foi bastante movimentado do ponto de vista pessoal.
“OSVALDO”
Ele mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou um período escrevendo diariamente para o Meio-Dia, jornal recém-criado na então capital federal. Oswald chega à cidade um pouco depois de outro ícone modernista, Mário de Andrade. "Alcoolizado numa mesa de bar no bairro da Glória, ele teria dito aos rapazes da Revista Acadêmica: 'Ele vai me imitar, não dou seis meses e o Osvaldo (como Mário passou a chamar o autor do 'Manifesto antropofágico' depois que eles se desentenderam) virá morar no Rio'.", escreve Marovatto.
Na época casado com Julieta Guerrini (seu quarto casamento, que durou somente quatro anos), Oswald embarcou com ela, em 7 de agosto de 1939, no vapor Almeda Star, com destino a Londres. De lá, ele iria para Estocolmo, na Suécia, participar como representante do Brasil do congresso do PEN Club, a organização internacional de escritores fundada há um século.
A data oficial do início da guerra é 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia. O congresso é, obviamente, cancelado, e Oswald se vê em Paris no início do conflito. "É uma grande aventura", comenta Marovatto, como ele escapa da França (fuga que envolve até uma ambulância) e consegue chegar a Portugal.
É ali que ele se encontra com Vinicius, e também com outros brasileiros, já que Lisboa era considerada um lugar seguro diante do conflito. Entre eles estava até um certo Arnon de Mello, então um jovem jornalista que trabalhava para os Diários Associados.
Anos depois, ele entraria para a história como governador de Alagoas e depois senador. Foi com este cargo que ele assassinou, por engano, um colega, José Kairala, em 1963 (seu alvo era outro senador, Silvestre Péricles). Oswald tentou dissuadi-lo de ir a Paris, mas não conseguiu convencê-lo. Mello encontrou-se na Cidade Luz com sua noiva, Leda Collor – sim, os futuros pais de Fernando Collor de Mello.
LACUNAS
O encadeamento narrativo de Marovatto mostra seu protagonista em articulação com muitas pessoas públicas, artistas e políticos, brasileiros e estrangeiros. "Apesar de ser um dos nomes principais do modernismo e existirem milhões de estudos sobre sua obra, há lacunas na biografia dele. Me impressionou a mobilidade do Oswald no Rio não ter sido assunto antes, não ter se desdobrado em outros estudos, até mais do que a viagem para a Europa."
Marovatto nomeou seu livro de "A guerra invisível" porque era este o título da obra que Oswald anunciou que faria depois de sua aventura europeia. Anunciou o nome durante uma entrevista ao jornal português Diário de Lisboa, poucos dias antes de retornar ao Brasil. Neste retorno, em 23 de outubro de 1939, ele pouco ficou no Rio. Havia deixado o Meio-Dia (que revelou-se um jornal nazista) e voltou a São Paulo. Após umas poucas entrevistas, nunca mais falou sobre "A guerra invisível".
“A GUERRA INVISÍVEL DE OSWALD DE ANDRADE”
• De Mariano Marovatto
• Todavia
• 144 páginas
• R$ 69,90 (livro) e R$ 44,90 (e-book)
>> Nesta quinta (17/8), o autor lança a obra a partir das 19h, na Livraria Quixote ( Rua Fernandes Tourinho, 274 – Savassi). Durante o lançamento, ele conversa com o professor da UFMG Gustavo Ribeiro. Na sexta (18/8), às 9h30, os dois voltam a se reunir para bate-papo no auditório 2003 da Faculdade de Letras da UFMG (Avenida Antônio Carlos, 6.627 – câmpus Pampulha).
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