Uma multidão sob o sol acompanha o cortejo fúnebre. Há dois caixões à vista, e ficamos sabendo, por meio de um estandarte, que um deles é o de Amaro Vaqueiro, nascido em 1953, morto em 1998. Um santinho com o escrito "um homem nasce para ser o que é" é jogado sobre o caixão, que vai desaparecendo sob a terra. Enquanto o enterro ocorre, um menino, ensanguentado, corre pela caatinga.
A sequência dura só um minuto e seu impacto, acentuado pela fotografia em preto e branco, é forte. Este é o início de "Cangaço novo", série nacional em oito episódios que estreia nesta sexta (18/8), no Prime Video. O começo promissor será referendado pelo primeiro episódio, que acompanha aquele menino, Ubaldo, na idade adulta.
Criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, produzida pela O2 Filmes e dirigida por Fábio Mendonça e Aly Muritiba, "Cangaço novo" é um nordestern (um bangue-bangue à brasileira) contemporâneo. Foi rodado no Nordeste e traz como cenário o interior do Ceará, mais especificamente a fictícia Cratará.
Depois da sequência de apresentação, a série chega (já em cores) aos tempos atuais. Um homem sem camisa está na caçamba de uma caminhonete. Esta faz parte de um pequeno comboio de carros. Tiros são dados para o alto, até que o percurso é interrompido por uma moto. Uma mulher desce e grita para que o homem da caçamba venha ao encontro dela. Ela o ameaça - não é preciso muito esforço para compreender que aquele é Ubaldo.
Para situar como o menino ensanguentado se tornou o homem acovardado na boleia, um flashback nos apresenta o personagem. Em São Paulo, Ubaldo (o ator pernambucano Allan Souza Lima, radicado no Rio desde a juventude) acaba de ser demitido do banco em que trabalhava. Nós o vemos vestir uma farda de policial militar e chegar a um hospital, onde está seu pai moribundo. O homem, quando fica sabendo pelo filho que ele vai fazer uma diligência no Ceará, se entristece.
No momento seguinte, Ubaldo está explicando para um amigo que vai ao Ceará pois recebeu uma carta dizendo que ele teria herdado um dinheiro. Sem emprego e com o pai (que não sabe que ele foi expulso do exército) doente, é o que lhe resta. Toma um ônibus achando que rapidamente resolveria a questão e poderia voltar para casa.
Ubaldo não poderia imaginar que aquele rincão é a sua casa. Os mais velhos de Cratará observam com espanto a figura alta caminhar pela cidade. Ele logo fica sabendo que é a personificação de seu verdadeiro pai, Amaro Vaqueiro, que nunca soube existir. Descobre também, da pior maneira, que tem duas irmãs. Uma doce e muda, Dilvânia (Thainá Duarte), outra agressiva e poderosa, Dinorah (Alice Carvalho).
Esta última é a líder de uma gangue que assalta bancos. Única mulher no bando, não teme os comparsas - muitos deles é que a temem, na verdade. Dinorah quer Ubaldo longe, mas uma série de acontecimentos vai colocá-lo como líder da gangue. "Um homem nasce para ser o que é", é como se o destino dele já estivesse traçado.
Os oito episódios serão disponibilizados já na estreia. Todos eles começam como o primeiro - com flashbacks em preto e branco. Ainda que o elenco principal traga intérpretes menos conhecidos (mas o trio principal já participou de produções de peso, Allan teve inclusive um papel no filme "Aquarius"), "Cangaço novo" também tem participações de atores nordestinos importantes, Marcélia Cartaxo, Hermila Guedes e Luiz Carlos Vasconcelos entre eles.
As cenas de ação convencem, e Alice Carvalho já no piloto desponta como estrela da série. A trilha emplaca uma versão de "Da lama ao caos", de Chico Science e Nação Zumbi, com Jorge Du Peixe nos vocais. Se os demais episódios confirmarem a boa realização do primeiro, vai dar até para torcer para o grupo de cangaceiros.
• “CANGAÇO NOVO”
A série, em oito episódios, estreia nesta sexta (18/8), no Prime Video