Ovo, osso, mirim, aia, sopapos, arara, radar: todas essas palavras são palíndromos. Podem ser lidas em qualquer direção (normal ou de trás para frente) que mantêm seu sentido. Fácil, não? Mas vá criar uma frase que faça sentido. Definitivamente, não é para qualquer um.





“O bom palíndromo é aquele que menos se parece com um, que esconde esse conceito de ler de trás para a frente”, explica o editor e revisor Sílvio Lourenço de Souza, autor de “Amar, dócil e bélico drama”, palíndromo que também é  um aforismo.
 

Encontro inédito no Brasil, que será realizado neste sábado (19/8) em São Paulo e transmitido pelo YouTube, vai reunir palindromistas de vários locais do país. Tanto o nome quanto o horário também são palíndromos: Lá Una Anual, que vai das 8h08 até as 21h12. Realizado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o evento vai contar com palestras, oficinas, debates, desafios, show e vários lançamentos literários.

 

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Tudo começou no Twitter, conta Sílvio de Souza, por meio do perfil @OPalindromista, criado em 2018 por Ricardo Cambraia, mineiro de Campo Belo e  radicado em Brasília. O nome dele é referência entre os adeptos – inclusive, escreveu o livro “O palindromista” (2020).





Em março de 2021, surgiu a série semanal  #desafiopalindromo. A cada semana, um curador propõe o tema para um palíndromo – são escolhidos os três melhores de cada vez (já foram realizados 120 desafios). Dessa maneira, o número de adeptos foi crescendo no universo digital.


Articulação

Em abril deste ano, um grupo de palindromistas decidiu fazer o primeiro encontro presencial. “É uma organização coletiva, feita pelo pessoal que participava dos desafios no Twitter”, continua Sílvio, que conseguiu apoio da Mackenzie, onde é doutorando em letras, para sediar o encontro.

O evento deste sábado também vai marcar a fundação da Liga Ágil – Associação Brasileira de Palindromistas. O primeiro fruto desse encontro é a edição de estreia da ArtSinistra, revista semestral da associação.





Revista ArtsiNistra vai divulgar o palíndromo brasileiro

(foto: Reprodução)
Sílvio é também editor da Carótide, que vai lançar uma coleção de livros de palíndromos, iniciativa de Ricardo Cambraia. O primeiro título, de Ana Lia, é “A diva não tá à toa na vida”.
 
O escritor mineiro Leo Cunha também participará do encontro como mediador de uma entrevista com vários palindromistas. Cunha vai lançar seu mais recente livro, “Osso nosso – Palíndromos caninos” (Aletria Editora), ilustrado por Angelo Abu.

De acordo com Sílvio, o interesse pelo palíndromo pode começar de diferentes maneiras.

“Algumas pessoas veem uma palavra, radar, por exemplo, e acham legal poder ler de trás para a frente. No segundo momento, podem descobrir palíndromos como o bem conhecido 'socorram-me, subi no ônibus em Marrocos.' No terceiro momento, vão descobrir que existem palindromistas. O conhecimento vai aumentando e tudo se torna mais fascinante. Digo isso por causa da minha experiência.”





Na opinião dele, nos dois últimos anos, a palindromia atingiu outro status no Brasil. “Deixou de ser apenas algo inusitado. Hoje, com o coletivo que criamos, estamos acolhidos dentro da universidade. O palíndromo é uma atividade entre o lúdico e o poético, agora tem a entidade que promove o estudo da língua portuguesa de maneira organizada. Dessa maneira, deixa de ser algo de nicho. Acredito que agora o palíndromo pode encontrar mais admiradores, pois o nosso objetivo é conquistar novos adeptos”, finaliza Sílvio de Souza.

LÁ UNA ANUAL – 1º ENCONTRO BRASILEIRO DE PALINDROMISTAS

Neste sábado (19/8), das 8h08 às 21h12, no auditório do prédio 5 da Universidade Presbiteriana Mackenzie (Rua da Consolação, 930, São Paulo). O evento será transmitido pelo YouTube (youtube.com/@TvMackenzie)



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