A história da população de uma região interiorana de Minas Gerais que, em um lugar historicamente voltado para a mineração, inventou uma linguagem própria para se diferenciar dos chefes das mineradoras, é o enredo de Camaco, montagem mineira que acaba de ser premiada com o Kikito de Ouro no Festival de Cinema de Gramado. Camaco é o nome dado ao dialeto que os moradores da cidade em questão criam como uma forma de camuflar a comunicação, para contrapor o poder das grandes empresas. A regra é simples: a segunda sílaba torna-se a primeira e, pronto, surge uma nova palavra. É um filme de resistência.



Formada em comunicação social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e próxima da conclusão de pós-graduação em cinema na Escuela Internacional de Cine y TV, em Cuba, Luiza Azevedo Garcia assina a montagem do filme, que tem como diretor e roteirista o também mineiro Breno Alvarenga. A produção recebeu os prêmios de melhor filme pela crítica e melhor montagem.

Breno é graduado em comunicação social pela UFMG, é mestre em comunicação social pela UFPE (2020) e doutorando em Cinema e Audiovisual pela UFF. Realizou dois intercâmbios com estudos em cinema, na Espanha e na Argentina, e ministrou a disciplina A Canção do Cinema, como estágio docente na UFPE. Tem artigos e trabalhos publicados na área de som do cinema. Além disso, é diretor e roteirista audiovisual, atuando nessas funções em diversas montagens audiovisuais.

Aos 31 anos, Luiza já trabalhou em outras produções, com montagem, edição ou na direção, incluindo documentários menores e animações, entre outros. Em Entre Amazonas e Tupis, o primeiro curta que comandou como diretora e montadora, conta a história de um estabelecimento icônico no Centro de BH. O documentário foi realizado em conjunto com Breno, e é o trabalho de conclusão de curso dos dois na UFMG. Faz um passeio pelo cotidiano de Nonô, dono do Rei do Caldo de Mocotó, bar localizado entre a Avenida Amazonas e a Rua Tupis. Nos diversos encontros e casos que ali se dão, o público se torna espectador das vivências do centro da cidade.





 

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Luiza participou de outros projetos, como a série documental Fronteiras Fluidas, sobre lideranças indígenas no Brasil, exibida no canal Curta!, e a produção O destino da Senhora Adelaide. Também fez parte do Cinema no Rio São Francisco, produzindo e levando cinema para cidades ribeirinhas. Em entrevista à revista digital LABO Plural Singular, dedicada à arte, Luiza disse que adora filmar e editar o real. A partir da graduação, passou a estudar sobre o cinema em sua teoria. "Na prática, comecei a trabalhar com audiovisual e fui me levando para o lado do documental, que é uma paixão."

Camaco tem como pano de fundo a atividade mineradora em cidade do interior mineiro

(foto: Divulgação)

Sobre a presença feminina do mercado cinematográfico, ela declarou ao canal que, se comparados a pré-história do cinema e agora, o cenário é melhor, mas ainda longe do ideal. "Existem ainda os setores mais masculinos do set e do processo como um todo. Exitem ainda homens que dão menos credibilidade quando é a mulher que está na frente do filme ou de alguma equipe. Mas, não vamos ver apenas o lado negativo. Em BH, por exemplo, vários editais pontuam melhor os projetos que possuem diretoras mulheres ou equipe plural, e isso é um avanço pra diminuir desigualdades", conta.

Para a mãe de Luiza, Tânia, o prêmio em Gramado é motivo de orgulho. "Luiza sempre foi crítica, independente, dedicada, responsável, e muito criativa. Já ganhou outros prêmios, mas esse é mesmo o mais importante", comemora.

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