'A cultura ballroom celebra os corpos marginalizados pela sociedade, por isso é muito importante um evento como este, que dá visibilidade e apresenta o movimento para a população'
Haninne, dançarino de ballroom
A Rua Guaicurus, no Centro de Belo Horizonte, foi palco de um movimento político que celebra diversidade de gênero, sexualidade e raça: a cultura ballroom – “convidada especial” da Virada Cultural, encerrada ontem.
Surgida em Nova York nos anos 1970, as ballrooms reuniam pessoas negras LGBTQIA+ em festas onde elas podiam dançar e se expressar sem ser alvo de preconceito e discriminação.
“Ballroom é a sala do baile. Mulheres trans e travestis pretas que trabalhavam nos bailes da alta sociedade se reuniam em locais alugados para fazer as próprias festas”, explica Malena Rodrigues, de 20 anos, bailarina conhecida na cena mineira do estilo, onde todas as pessoas têm nomes artísticos.
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Cultura de resistência
Lyra Cosmo, outro destaque do ballroom, diz se trata da “cultura de resistência de mulheres trans, pretas e periféricas LGBTQIA , pessoas à margem da sociedade da cultura cisgênero heteronormativa em que a gente vive”.
De acordo com Lyra, a Ballroom chegou à capital mineira por volta de 2015, tendo como pioneiros o Trio Lipstick, grupo de performance, pesquisa e produção da cultura, e Cristal Lopes, artista transativista e diva do carnaval de Belo Horizonte.
Na apresentação de ontem, as artistas apresentaram ao público algumas das modalidades da ballroom, que tem por tradição promover batalhas de performances, uma espécie de concurso. Uma das categorias é a runway, inspirada em desfiles de moda e em caras e bocas das top models nas passarelas tradicionais.
Todo produzido, com vestido longo em tons de azul, o enfermeiro Halisson Nanine, de 30 anos, foi aclamado vencedor da categoria e desfilou pela Rua Guaicurus, transformada em passarela.
“A cultura ballroom celebra os corpos marginalizados pela sociedade, por isso é muito importante um evento como este, que dá visibilidade e apresenta o movimento para a população”, diz o enfermeiro, cujo nome artístico é Haninne.
Baiano, ele se mudou para Belo Horizonte há pouco mais de um ano para estudar a cultura ballroom. Quem quiser conhecer o movimento que coloriu a Guaicurus na tarde ontem pode participar dos bailes realizados semanalmente em vários locais. A agenda sempre é divulgada na página @mgballroom no Instagram”.
“É muito importante ocupar espaços como festivais e eventos culturais, porque a ballroom é feita exclusivamente por mulheres trans, mulheres pretas e pessoas cujos corpos não são aceitos pela sociedade normativa. A cultura surgiu justamente para que pessoas que performam ou são transgêneras possam caminhar com sustentabilidade no mundo normativo”, defende Haninne.
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Além do Baile de Todas as Cores, o Palco Guaicurus recebeu ontem a festa Alta Fidelidade 100% Vinil, realizada na capital mineira há 14 anos. O evento celebra todos os estilos de música, desde que o som venha do disco de vinil.
'Dança é terapia. Ela cura qualquer coisa, por isso é uma alegria poder dançar com as pessoas na rua'
Latrel, dançarino
A terapia chic no Quarteirão do Soul
A chuva forte da tarde não desanimou o público da Virada, que dançou como se o quarteirão fechado da Praça Sete fosse quadra de baile. O DJ A Coisa e Evandro MC, destaques da cultura urbana de BH, apresentaram o show “Imaginaras”, com hip hop e soul. Também apresentaram os primeiros vinis de rap produzidos na capital mineira.
Os grupos Enigma e Turma do Passinho Raul Latrel convocaram o público a se soltar. “Dança é terapia. Ela cura qualquer coisa, por isso é uma alegria poder dançar com as pessoas na rua”, contou Latrel, de 55 anos.
Dançarino desde a década de 1980 e coordenador da Turma do Passinho, fundada há 16, Latrel usava terno de cetim em dois tons de azul. Contou que tem 23 ternos no armário. “É tradição do soul os dançarinos se apresentarem sempre bem-vestidos”, comentou.
Eduardo Siqueira, de 48, professor de matemática, era um dos mais animados do Enigma, tradicional grupo de dança que se apresenta desde a década de 1980 nas quadras da capital.
“Dançar é bom para a saúde física e mental”, garante Siqueira. “Quem quiser, é só vir dançar com a gente”, convida. O grupo mantém página no Instagram (@enigmadance), com informações e agenda de eventos.
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