cena do filme Pura adrenalina, de Wes Anderson

"Pura adrenalina", o primeiro longa-metragem de Wes Anderson, será exibido nesta sexta-feira no Cine Humberto Mauro

FCS/divulgação

Diretor que despontou em meados dos anos 1990, cuja filmografia se destaca pela singularidade estética, Wes Anderson tem parte de sua obra reunida no panorama que o Cine Humberto Mauro apresenta a partir desta sexta-feira (25/8). A mostra  “O excêntrico Wes Anderson” reúne nove títulos, incluindo o que marcou sua estreia em longas-metragens, “Pura adrenalina” (1996), e os sucessos “O Grande Hotel Budapeste” e “Os excêntricos Tenenbaums”.

“Wes Anderson se esquiva do convencionalismo da linguagem cinematográfica tradicional para engendrar um estilo próprio. Ele imprime identidade artística ao conjunto da obra. Acho interessante olhar para um artista com esta marca autoral tão forte com foco em suas preocupações, nas mensagens subjacentes”, aponta Rodrigo Azevedo, programador do Cine Humberto Mauro.

De acordo com ele, no atual momento do cinema produzido nos Estados Unidos, Wes Anderson se abre como uma perspectiva. “Hollywood passa por transformações com a greve dos roteiristas, por exemplo, e com o desvínculo dos filmes de heróis, a grande aposta da última década. Acho que é o momento de serem pensadas outras propostas, outras estéticas e outros diretores. Wes Anderson certamente é um deles”, ressalta Azevedo.
 
 

Comédia, drama e estranheza

O cineasta, de 54 anos, desenvolveu estética meticulosa e peculiar, que o distingue dos outros realizadores de sua geração, aponta o programador. Ele destaca os enquadramentos rigorosos, planos fixos para apresentar lugares e personagens, bem como a capacidade de Anderson de criar uma dimensão em que comédia, estranheza, drama e primor visual se misturam.

“A principal característica do diretor é a excentricidade visual, as cenas com forte carga pictórica, como se fossem pinturas ou fotografias. Os personagens aparecem como se estivessem posando, e não como se fosse atuação. Com isso, Wes Anderson parece buscar de um outro modo a potência das imagens”, diz.

Se na obra do cineasta há claro diálogo com a pintura e a fotografia, existe também relação estreita com o teatro e a literatura. “É como se ele estivesse transitando por essas outras áreas”, diz Azevedo, aludindo ao deslocamento que os filmes promovem na percepção do espectador.

“O cinema sempre tentou se parecer com a realidade, e os diálogos que Wes Anderson busca com outras artes acabam movendo o cerne estético, no sentido de provocar em quem assiste a sensação de estar em outro lugar. Muitos diretores trabalham com referências do teatro e da literatura, mas acabam decantando isso na linguagem cinematográfica. No caso dele, não. É direto, expressões estão colocadas ali na tela, em cada cena, em primeiro plano, sem essa decantação”, ressalta.

Amplo percurso

A programação busca oferecer ampla visão da obra do cineasta. “Pegamos desde o primeiro, 'Pura adrenalina', até 'Ilha dos cachorros', de 2018. Não temos os filmes mais recentes dele, mas 'O excêntrico Wes Anderson' contempla um percurso de criação muito grande e completo”, comenta Azevedo.
 
 
“Pura adrenalina” será exibido amanhã, na faixa “História permanente do cinema”, em sessão comentada pelo crítico e pesquisador Júlio Cruz.

Azevedo adianta que o debate abordará elementos presentes na obra que o cineasta viria a desenvolver depois. “Vamos tentar entender quais são as questões que permanecem e já estavam ali, na raiz. De fato, é um filme diferente do que ele viria a realizar depois, mas algumas sementes plantadas frutificaram em produções posteriores”, observa.

“Além de ter concorrido ao Oscar, 'O Grande Hotel Budapeste' reúne muitos elementos marcantes de Wes Anderson. 'Os excêntricos Tenenbaums' também traz muitas dessas singularidades dele. E 'Moonrise kingdom', meu favorito, é síntese de tudo o que de melhor ele propõe, mesclando absurdo com verossimilhança. É um filme em que adultos agem como crianças e crianças agem como adultos, com mise-en-scène em que os elementos característicos de sua obra são exacerbados”, diz Rodrigo Azevedo.

PROGRAMAÇÃO

»  Sexta (25/8)
15h – “Três é demais” (1998)
17h – “Pura adrenalina” (1996). Sessão comentada por Júlio Cruz
20h – “Os excêntricos Tenenbaums” (2001)

» Sábado (26/8)
15h – “A vida marinha com Steve Zissou” (2004)
17h30 – “Viagem a Darjeeling” (2007)
19h30 – “O fantástico Sr. Raposo” (2009)

» Domingo (27/8)
18h – “Moonrise kingdom” (2012)
20h – “O Grande Hotel Budapeste” (2014)

“O EXCÊNTRICO WES ANDERSON”
Desta sexta-feira (25/8) a 31/8. Cine Humberto Mauro (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca, com retirada de ingressos uma hora antes da sessão. Informações: (31)3236-7400.