O cartunista Quinho, chargista do Estado de Minas, é o grande vencedor da edição comemorativa dos 50 anos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, reconhecido como o maior prêmio de humor gráfico do Brasil. O mineiro ainda venceu a categoria temática. Natural de Manhuaçu, na Zona da Mata, o artista de 53 anos levou as duas premiações com um cartum sobre “crise da meia idade”.
O anúncio foi feito neste sábado (26/8), às 19h, durante a cerimônia de abertura do Salão de Humor de Piracicaba, no Teatro Erotides de Campos, na cidade do interior paulista. Quinho recebeu o prêmio e em seguida foi visitar o Armazém 14 do Engenho Central, que recebe a exposição das obras participantes da quinquagésima edição do evento. “É um reconhecimento imenso ao meu trabalho. Estou muito feliz”, afirmou o cartunista.
O artista passou 25 anos sem participar do salão, mas se diz muito contente em voltar em meios às comemorações de meio século da premiação, que foi responsável por firmá-lo como um dos grandes nomes do humor nacional.
“O salão é legal porque revela novos talentos para o mercado e, além de tudo, ajuda a firmar o humor no cotidiano, que é uma coisa muito interessante, principalmente para o povo brasileiro. Mudou minha vida e eu sou muito grato”, afirma.
Crise da meia idade
Em 2023, o salão premiou seis categorias – cartum, charge, caricatura, tiras/HQ, saúde e temática –, que teve o tema "50 Anos: Crise da meia idade". Quinho, um dos responsáveis por colocar Minas Gerais no centro dos holofotes dos cartum nacional, reinventou uma de suas publicações do Estado de Minas para se enquadrar ao tema.
“Fiz um jovem correndo atrás do dinheiro, com o tempo em seu bolso. Ao mesmo tempo, ele está olhando para o futuro, quando já seria maduro e com o dinheiro no bolso. Mas logo ele se depara com sua imagem mais velha correndo atrás do tempo que perdeu quando estava correndo atrás de dinheiro. É um ciclo que não se fecha”, explica Quinho.
Com 53 anos, o humorista diz se identificar com o tema e destaca a importante reflexão sobre a busca incansável por dinheiro, que leva as pessoas a perderem momentos importantes de suas vidas.
“Essa narrativa é perfeita para os dias atuais, inclusive me vejo muito nela. Acho que perdemos muito tempo correndo atrás de dinheiro. Claro que ele é importante, mas temos que valorizar a vida e as coisas legais. Num determinado ponto da vida, essas reflexões são inerentes a qualquer ser humano”, afirma.
Veterano
Quinho é veterano da premiação e participou da 23ª (1996), 24ª (1997) e 25ª (1998) edição, na qual foi vencedor da categoria caricatura, com o retrato de Tim Maia. Desde então, o mineiro não havia mais participado da mostra. “Fui selecionado em todas as categorias que participei. Meus desenhos estão na exposição da exposição geral do Salão de Piracicaba, o que, para mim, já é muito honroso. Eu ainda tive a felicidade de vencer em uma das categorias e o grande prêmio (nesta 50ª edição). Estou muito feliz”, comemora o artista.
Por isso, ele decidiu que este seria o momento perfeito para seu retorno e participou de quatro categorias: cartum, caricatura, charge e temática. Suas obras inscritas ficarão expostas até 29 de outubro, no Armazém 14 do Engenho Central, em Piracicaba.
Espaço de reflexão
O Salão Internacional de Humor de Piracicaba foi fundado em 1974, após tentativa frustrada, de artistas e jornalistas da cidade de inserir uma mostra de humor gráfico no Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba.
Os paulistas partiram para o Rio de Janeiro, em meio à ditadura militar, para encontrar apoio. Lá, recorreram ao jornal O Pasquim e receberam o “sim” do cartunista Jaguar, que disponibilizou suas obras para exposição, mas foi barrado pela Editora Abril, que publicava seus trabalhos.
Assim, o primeiro Salão de Humor de Piracicaba nasceu independente, como um espaço de reflexão, discussão e inovação sobre arte e humor e logo se tornou referência mundial, sendo considerado um dos maiores prêmios de humor existentes.
O menino Marcos e Son Salvador
Marcos de Souza Ravelli, o Quinho, nasceu em 1970. Desde muito cedo, o garoto se interessou por pintura clássica, ilustração e desenho de humor, que futuramente viriam a se tornar sua profissão.
“Eu olhava o jornal para ver charges, principalmente as de Son Salvador, e imaginava o quão legal seria trabalhar com arte. Eu queria isso para minha vida”, afirma. Quando começou a desenhar, Marcos decidiu adotar o apelido Quinho, a corruptela de “Marquinhos”, como era carinhosamente chamado pela família e amigos.
Em 1994, com 24 anos, decidiu que iria se inspirar em seus ídolos Bill Waterson, Ziraldo e Son Salvador, chargista do EM falecido em novembro de 2019, e expor seus desenhos.
Despretensiosamente se inscreveu no Salão Nacional de Humor Henfil, o que mudaria sua vida. A cerimônia do prêmio belo-horizontino contou com a presença de grandes nomes do humor gráfico brasileiro, como Ziraldo, que instantaneamente gostou de Quinho e foi o responsável por lhe informar que havia sido campeão.
“Mandei um desenho e ganhei o primeiro lugar no salão de BH. Fui apadrinhado pelo Ziraldo”, conta o mineiro. O autor de “Menino maluquinho”, inclusive, ajudou Quinho a seguir adiante na carreira. “O Ziraldo começou a me incluir nos projetos dele. Publiquei nas revistas Bundas e Palavra, e no O Pasquim. A partir daí, sempre batendo papo comigo e me encorajando. É um cara maravilhoso, que abriu as portas para mim”, revela o ilustrador.
Inclusive, foi durante um convite de Ziraldo para participar de uma exposição no Rio, em 1995, que Quinho chegou ao EM. “Lá, conheci o cartunista Melado e fiquei sabendo de uma vaga no Diários Associados. Foi assim que comecei a trabalhar no jornal”, relembra o cartunista.
Ao longo de 28 anos, Quinho trabalha no grupo Diarios Associados. Atualmente, tem portfólio de mais de mil obras. No início da carreira, o artista abordava temas sobre futebol em seus trabalhos, mas logo migrou para política e economia, que atraiu atenções internacionais para suas críticas e sátiras divertidas.
Além do próprio Salão Internacional de Piracicaba, o cartunista coleciona prêmios nacionais e internacionais. Entre eles se destacam o Festival Internacional de Quadrinhos; Salão Carioca de Humor; Troféu HQ Mix; Troféu Líbero Badaró; Society For News Design, dos Estados Unidos; e The European Newspaper Award, da Áustria.
"Minas tem se revelado como um grande celeiro de artistas. Creio que a introspecção do mineiro o leva muito à reflexão e reflexão leva à charge. Daqui saíram grandes nomes, como Ziraldo, Son Salvador, Aroeira e Henfil”, afirma o ilustrador.
Novos talentos
Ele ainda destaca a importância das novas gerações de artistas. “É importante que as pessoas se sintam sempre incentivadas pelo amor e que incentivemos os novos talentos. Tem muita gente boa surgindo nos quadrinhos e nos cartuns. A arte é sempre uma linguagem muito bem-vinda e muito importante para viver o dia a dia. Ninguém vive sem humor.”
* Estagiária sob supervisão da subeditora Tetê Monteiro
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