'Estou com 37 anos, sinto que minha geração é a última que viveu o mundo analógico. Mas, ao mesmo tempo, somos ultradigitais. Por isso, acho que a gente carrega uma nostalgia constante'
Julia Branco, cantora e compositora
O segundo álbum da cantora mineira Júlia Branco tem produção de Ana Frango Elétrico, releitura de música de Caetano Veloso e inédita de Arnaldo Antunes. “Baby blue” chega às plataformas cinco anos depois do elogiado “Soltar os cavalos”.
A primeira faixa, “In/to Cora”, entrega um dos temas presentes no disco: a maternidade. Mãe de primeira viagem, Júlia concilia a carreira e os cuidados com Cora, prestes a completar 2 anos.
Boa parte das 10 faixas foi composta no período mais intenso da pandemia. Grávida, ela refletia sobre as intensas transformações geradas tanto pela maternidade e quanto pela crise sanitária. “Essas duas coisas me afetaram muito. Falo que a maternidade é tema do disco, mas o grande tema é o tempo”, diz.
Inicialmente, o projeto teria a produção de Chico Neves, amigo de longa data e produtor do disco de estreia da mineira. Devido às dificuldades em conciliar horários naqueles tempos pandêmicos, os dois decidiram por outra pessoa. Ana Frango Elétrico trouxe as referências de seu som indie e experimental.
“Admiro o trabalho da Ana há bastante tempo, sempre tive vontade de trabalhar com ela. Convidei e ela supertopou”, diz a cantora.
Entre amigos
Ana veio para BH e se hospedou na casa de Júlia. Chico Neves também colaborou, pois o álbum foi gravado em seu estúdio, em Macacos, Nova Lima. A cantora diz que este trabalho é, ao mesmo tempo, nostálgico e futurista.
“Estou com 37 anos, sinto que minha geração é a última que viveu o mundo analógico. Mas, ao mesmo tempo, somos ultradigitais. Por isso, acho que a gente carrega uma nostalgia constante”, comenta Júlia Branco.
O álbum foi batizado com o título de uma das faixas. Ela diz que até tentou fugir para outras cores. “Mas o azul me persegue”, brinca.
“O disco tem sonoridade mais solar e alegre, mas as letras têm densidade e um pouco da ambivalência constante entre melancolia e alegria. Gosto muito do título, porque de alguma forma ele traz tudo isso”, comenta.
Tudo começou na infância, quando sua mãe, Lúcia Castello Branco, escreveu para ela o livro “Júlia toda azul”. “Baby blue” também remete ao pós-parto, quando a queda hormonal faz os sentimentos oscilarem. “O corpo fica meio fora de si”, revela.
Além disso, o blues foi referência sonora. E o azul remete aos olhos da pequena Cora. “São muitos signos interessantes”, diz a artista.
Referências harmônicas vieram de Marvin Gaye e dos tropicalistas Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso.
“As harmonias fizeram o disco chegar em outro lugar. Queria que ele soasse menos límpido, então trouxemos mais ruídos e a voz um pouco mais velada”, comenta.
'Estou muito feliz com este show. Depois que o mundo começou a se abrir para os eventos, entrei em outra quarentena, com o nascimento da minha filha. Tem muito tempo que não volto para o palco'
Julia Branco, cantora e compositora
Pop elegante
Pela primeira vez ao lado de banda completa, Júlia descreve o novo trabalho como “pop elegante”. “Queria que as pessoas ouvissem o disco e se sentissem bem. Foi tão duro o que a gente viveu, então quis um som que as pessoas colocassem para ouvir sentindo uma coisa gostosa, a nostalgia boa de coisas que a gente já ouviu”.
Arnaldo Antunes mandou a inédita “Infinito”. A amizade dos dois começou em 2015, quando a antiga banda de Júlia, Todos os Caetanos do Mundo, lançou faixa em parceria com o ex-Titã. Ela também apresenta a releitura de “Lost in paradise”, de Caetano Veloso.
“Arnaldo é imensa referência, amigo muito querido. Escrevi para ele falando do momento que eu estava vivendo e pedi uma canção. Ele mandou cinco muito lindas, mas esta tinha tudo a ver com o que eu queria dizer sobre o vaivém da vida. É uma poesia muito linda, foi um presentão.”
Júlia sobe ao palco do Centro Cultural Unimed BH Minas, neste domingo (27/8), para lançar “Baby blue”. Estará acompanhada por Yuri Velasco (bateria), Lucas Ferrari (teclado), Luiza Rosa (teclado e voz) e Pedro Fonseca (baixo).
“Estou muito feliz com este show. Depois que o mundo começou a se abrir para os eventos, entrei em outra quarentena, com o nascimento da minha filha. Tem muito tempo que não volto para o palco. Vou chegar carregada da energia do encontro e do retorno”, conclui Júlia.
“BABY BLUE”
Lançamento do disco de Júlia Branco. Neste domingo (27/8), às 19h, no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria e no site Eventim.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
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