O russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), autor dos clássicos “Crime e castigo” e “Os irmãos Karamazov”, está de volta aos palcos com a adaptação de “O sonho de um homem ridículo”, conto sobre os conflitos vividos por um homem comum na Moscou do século 19. Mergulhado em reflexões sobre a falta de significado da vida, o protagonista adormece e se depara com o mundo fantástico do universo onírico.
Parceria da Companhia Lúdica dos Atores, de Belo Horizonte, com a Pauliceia Companhia de Teatro, de São Paulo, a peça “O sonho de um homem ridículo” está em cartaz desta quinta-feira (31/8) a domingo (3/9), na Funarte, na capital mineira.
“Optamos por ‘Sonho de um homem ridículo’ porque, com apenas um personagem, a peça dá conta de debater temas muito profundos”, afirma Léo Horta.
Pesquisa durou seis meses
A partir dos encontros virtuais, a dupla foi em busca da equipe para desenvolver o projeto. O processo de pesquisa perdurou por seis meses. Léo e Alexandre estudaram a obra de Dostoiévski, o período histórico da Rússia no momento em que passa a trama e vida do escritor, que escreveu o conto ao deixar o exílio.
Ao construir a dramaturgia, a dupla adaptou o período histórico em que se passa o conto ao mundo contemporâneo. “Fizemos a transposição da Rússia do século 19 para a Minas Gerais do século 21. A peça é rodeada de questões acerca da mineiridade. Inserimos essa cultura no cenário e no figurino, entre outras coisas”, explica o ator.
Depois do roteiro pronto, foram mais 12 meses de ensaios. Quando estava tudo certo, a dupla decidiu adiar a estreia. “Isso foi em outubro de 2022, no período das eleições. Decidimos esperar mais um pouco, achamos que não seria a melhor hora”, comenta Léo Horta.
Apresentada no interior de Minas desde maio, a peça traz um homem decepcionado com sua existência às voltas com problemas psicossomáticos profundos. Deprimido, ele decide tirar a própria vida, agoniado com a rotina sem sentido.
“O personagem se dirige até sua casa para fazer isso, mas no meio do caminho há o encontro inusitado que planta uma semente nele. Ao dormir, sonha com um mundo fantástico”, revela o ator. Aquele mundo onírico não foi contaminado pelo vício da consciência. Ali, o ser humano vive em paz consigo mesmo.
Mineiridade e Barroco
Escrito em 1877, o conto ganhou elementos do Barroco, marca registrada da cultura de Minas Gerais. “Dentro do que pesquisamos, tivemos reverberações por caminhos diversos, entre eles outros mestres da literatura e também grandes filósofos, como é o caso de Nietzsche e de Camus”, comenta Horta.
A mineiridade transparece em elementos como recipientes artesanais de barro, a roda e a cadeira de madeira colocadas no centro do palco, além de alguns livros de época.
Léo Horta diz que o espetáculo provoca o espectador a pensar sobre temas aparentemente comuns que podem transformar a vida cotidiana em algo mais saudável e positivo.
“Dostoiévski traz diversas possibilidades universais. Cada espectador pode absorver um pouco do que está ali e refletir sobre o seu eu pessoal a partir dessa provocação”, diz Léo. O ator cita, por exemplo, o momento em que o personagem reflete sobre a empatia durante conflitos que vivencia.
Resgate de Shakespeare
Criada em 2003, a Companhia Lúdica dos Atores surgiu com a proposta de estudar, pesquisar e montar a obra de Shakespeare com enfoque popular. “Ao longo dos anos, esste autor foi tratado como algo burguês e elitista. Hoje, com todo o conteúdo que temos, sabemos que isso é uma inverdade”, comenta Léo.
Recentemente, o grupo se voltou para a variada gama de grandes autores a serem explorados no palco. O primeiro deles é Dostoiévski, com “O sonho de um homem ridículo”.
“O SONHO DE UM HOMEM RIDÍCULO”
Peça com o ator Léo Horta, inspirada em conto de Dostoiévski. Sessões de hoje (31/8) a sábado (2/9), às 20h, e domingo (3/9), às 19h. Galpão 3 da Funarte MG (Rua Januária, 68, Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Vendas on-line no site Sympla.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria