Com 'Sem Coração', apelido da protagonista que usa marca-passo e inicia a vida sexual de meninos, os diretores Nara Normande e Tião participam da sessão Horizontes

'Sem Coração' conta a história de garota que usa marca-passo às voltas com a adolescência e o início da vida sexual

Venice Film Festival/divulgação

"Sem Coração", que concorre na sessão Horizontes, foi exibido na terça-feira (5/9), no 80º Festival de Veneza, na Itália. É o único filme brasileiro concorrendo no evento italiano. Ele partiu de uma ideia inusitada dos diretores Nara Normande e Tião: prolongar a história de seu primeiro curta-metragem.


Filha de um pescador, Sem Coração participa da iniciação da vida sexual dos meninos, mas por trás de seu silêncio sente uma vontade ferrenha, o que cativa outra menina de sua idade, Tamara.

"O curta também se chamava ‘Sem Coração’ e o fizemos em 2014. Foi uma experiência muito bonita com os atores", explica Nara Normande, de 36 anos. "A personagem existiu na minha infância. Eu não a encontrei, mas ouvi falar dela", acrescenta.

O ambiente da praia, as brincadeiras, a crueldade e a inocência da adolescência se misturam em um filme com tons fantasiosos, ambientado em 1996.
 

Eduarda Samara, a revelação

Sem Coração é interpretada por Eduarda Samara, jovem que Nara Normande e Tião escolheram imediatamente, ainda no primeiro dia de seleção de atores para o curta.

O carisma da atriz foi tanto que após terminar o curta, ela seguiu com a carreira, e ganhou papel em "Bacurau", sucesso do cinema brasileiro em 2019.

Nara Normande e Tião não acharam que sua primeira colaboração, premiada no Festival de Cannes, foi suficiente. A história pedia mais minutos.
 
"O contato com Eduarda Samara foi muito forte. A gente saiu de lá com a sensação de que poderíamos contar mais coisas, porque é um universo muito grande. É um universo com muito contraste", acrescenta a diretora.

Depois de anos, os jovens cresceram e alguns se tornaram criminosos. Entra em cena a outra protagonista do longa, Tamara, interpretada por Maya de Vicq, prima do diretor na vida real.

"Os adolescentes estão vivendo, estão se descobrindo. Então, é tudo muito mais inocente de alguma forma. E, assim, quando se é adulto, já não se enxerga da mesma forma", completa Tião.