Cantor e compositor Cesar Lacerda

César Lacerda lança álbum com inéditas e também canta músicas que fez para Gal Costa, Maria Bethânia e Ceumar

Lou Alves/divulgação

“Porquê da voz” (2013), “Paralelos & Infinitos” (2015), “O meu nome é qualquer um” (2016), “Tudo tudo tudo tudo” (2017) e “Nações, homens ou leões” (2021) são os álbuns do cantor e compositor mineiro César Lacerda em seus 10 anos de carreira.

Em 2023, o diamantinense celebra a vida com um olhar para o passado no recém-lançado “Década”, com duas faixas inéditas e releituras. Seis das 13 faixas trazem letras escritas por ele para outros intérpretes, como “Minha mãe”, gravada por Gal Costa e Maria Bethânia em 2018.

“Esta década é comemorada com delicadeza e iluminação. Os últimos 10 anos foram de muita insurgência e movimentação no Brasil e no mundo. Minhas músicas são uma tentativa de abrir caminho de luz em meio aos conflitos”, afirma Lacerda.

A inédita “Faz o teu”,  faixa de abertura, “nasce do sentimento de 'ecoansiedade' sobre a crise climática”, diz o mineiro.

'Poesia de reflorestamento'

César explica que o álbum “Década” é a sua tentativa “de relembrar a todos que é possível e necessário que nossa vida seja mais inclinada a menos consumo e mais reflorestamento das relações humanas com a natureza.”

As releituras contemplam canções que já denunciavam, nos cinco álbuns anteriores, problemas que a sociedade ainda se recusa a resolver, como o desmatamento. “Eu diria que é uma poesia de reflorestamento da nossa episteme”, diz César.

Por isso estão em “Década” as músicas “Porquê da voz”, “Touro indomável”, “Faz parar, “Isso também vai passar” e “Desejos de um leão”.
 
Já a inédita “O amor fincou raízes por aqui” é dedicada a pessoas importantes para o autor. “É uma canção de amor que dedico à minha companheira, Victória, e ao meu poeta preferido, Leonardo Fróes, que tem uma trajetória superlinda. Ele reflorestou uma região no interior do Rio de Janeiro, e a poesia dele decerto fala desses temas.”

Em seu novo álbum, César Lacerda dá voz a “Espiral”, composição dele gravada pela cantora Ceumar; “O fazedor de rios”, interpretada pela primeira vez por Luiz Gabriel Lopes; “Desculpa”, por Nina Fernandes; “Oriki”, registrada por Flávio Tris, e “Lute contra mim”, cantada por Paula Mirhan.

“Minha mãe”, escrita para Gal e Bethânia, finalmente ganha a voz de seu autor. “Esta canção é muito especial. Foi encomendada para o disco da Gal, ‘A pele do futuro’. Marcos Preto, diretor artístico do disco, havia me convidado para musicalizar um poema do Jorge Mautner, pensando na interpretação da Gal e da Bethânia”, conta.

“Foi imensurável o prazer de poder escrever para as estrelas mais luminosas da minha constelação pessoal”, revela. Mas a canção também representou um desafio. “Gal tinha textura vocal mais aguda, muito distinta da Bethânia, que canta tons mais graves. Fazer o dueto foi complexo e muito interessante.”
 

Regravar esta música é “um diamante” cravado em sua trajetória, diz Lacerda. “As letras do Jorge (Mautner) têm uma coisa que me lembra a minha própria vida. De certo modo, é uma oração, que me lembra a minha mãe,uma  pessoa muito importante na minha trajetória musical, pois é pianista. Sou músico por causa dela também”, afirma.

 

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Se a letra de Jorge Mautner ativa lembranças, a melodia transporta seu autor à terra natal. “Essa música me lembra um pouco os sons de Diamantina, onde nasci. É uma canção feita para Nossa Senhora Aparecida. A sonoridade a coloca em um lugar que é muito da Bethânia, mas também é muito meu”, diz.
 

'Nos próximos 10 anos, virão ainda mais desafios, mas também mais cura. Tenho a vontade de que as canções sirvam como massagem para o coração das pessoas'

César Lacerda, cantor e compositor

 

Voz e violão

Com 10 anos de carreira, César Lacerda é cantautor experiente. Mas confessa: “Década” o deixou “meio tenso” – o álbum saiu em agosto.

“Agora está tudo legal, muita gente está ouvindo e de fato se apaixonando pelo disco. O formato de voz e violão me coloca desnudo, e é uma forma positiva das pessoas se aproximarem das canções”, observa.

Ao falar do futuro, o mineiro sabe o que o aguarda. “Nos próximos 10 anos, virão ainda mais desafios, mas também mais cura. Tenho a vontade de que as canções sirvam como massagem para o coração das pessoas e também para mim, porque, afinal de contas, elas acabam se refletindo na minha própria escuta, no meu desejo de mudança”, conclui.

Capa do disco Década

Capa do disco Década

Tiago de Macedo/Lou Alves
“DÉCADA”

• Álbum de César Lacerda
• YB Music
• 13 faixas
• Disponível nas plataformas digitais


* Estagiária sob supervisão da editora-adjunta Ângela Faria