Dupla de maior sucesso do funk melody brasileiro, ritmo que estourou nos anos 1990, Claudinho e Buchecha têm sua trajetória relembrada na cinebiografia “Nosso sonho”, que estreia no circuito comercial nesta quinta-feira (21/9). A ideia do filme surgiu entre 2013 e 2014 – pouco mais de uma década após a morte de Claudinho em acidente de carro, em 2002, aos 26 anos –, a partir do núcleo de criação da produtora Urca Filmes.
O diretor Eduardo Albergaria conta que a sugestão veio do corroteirista Fernando Velasco. “Todos fomos tomados por um entusiasmo absurdo, porque éa uma ideia tão evidente e tão boa que achamos, de verdade, que alguém já estava fazendo (o filme)”, diz. Num impulso, a equipe procurou Buchecha para compartilhar a ideia.
O músico seguia carreira solo, após o luto pela perda do companheiro. Buchecha recebeu todos em casa. “Não nos conhecíamos. Falei de maneira simples e direta que queríamos transformar a história da dupla em filme, e, antes de mais nada, queríamos saber que história era essa. Contaríamos a versão dele”, explica Albergaria.
Da pipa ao palco
Tudo começou na infância. Claucirlei Jovêncio de Souza, o Buchecha, e Cláudio Rodrigues de Mattos, o Claudinho, se consideravam quase irmãos, soltando pipa e tomando banho de rio em Boaçu, na cidade de São Gonçalo (RJ). Com a mudança de Claudinho para o Salgueiro, os dois ficaram um período separados. A dupla se reencontrou na juventude e passou a participar de concursos de funk.
Paralelamente ao percurso dos jovens humildes rumo ao sucesso – contado de forma leve, baseada na amizade dos dois –, “Nosso sonho” traz sua cota de drama na relação conflituosa de Buchecha com o pai. Albergaria diz que a história da dupla na música é bastante conhecida, tornando-se necessário encontrar um ponto de intimidade que desse estofo e singularidade ao longa.
“A gente entendia que o Brasil viveu coletivamente uma catarse, o arrebatamento com o sucesso da dupla e a passagem do Claudinho. Precisávamos de um ponto de vista, nada mais natural que fosse o do Buchecha”, diz.
Amendoim, o personagem
Um fato aparentemente banal acabou se revelando determinante para a história, comenta o diretor. “Buchecha nos recebeu na casa dele com uma bandeja de amendoim torrado. Ele nos contou, corajosa e generosamente, sua história de vida, os problemas com o pai. No meio daquele relato, percebemos que o amendoim não era só amendoim: era um personagem. Muito do que chega agora às telas nasceu naquele dia”, afirma Eduardo Albergaria.
Além da pesquisa para o roteiro, pessoas próximas da dupla foram ouvidas. Todas confirmaram o que Buchecha revelou à equipe, especialmente sobre a figura iluminada do parceiro, observa o cineasta. Claudinho foi o motor por trás do sucesso da dupla: entusiasmado o tempo todo, tentando convencer o amigo de que o sonho poderia se tornar realidade.
“A forma como Claudinho aparece ali, todas as pessoas com quem a gente conversou falavam dele da mesma maneira. Por uma questão de cautela, pesquisamos tudo. A gente foi se encantando com os relatos em uníssono sobre a essência desta pessoa, deste anjo que passou na vida do Buchecha”, ressalta Albergaria.
• Leia também: Especialista analisa a criminalização do funk
No final do processo, o diretor teve acesso aos arquivos da família de Claudinho – fotos, vídeos e documentos.
“Foi um novo espanto para mim. Ao reviver os arquivos, não consegui flagrar nada que dissesse o contrário do que já havia ouvido sobre o personagem iluminado, sempre sorridente. A gente terminou a jornada com a sensação de que é um filme feito com muito carinho, mas também com muita verdade e honestidade”, conclui Eduardo Albergaria.
Buchecha abre o coração
Buchecha se sente “premiado e privilegiado” por ter a história de sua vida e do sucesso que conquistou com o parceiro levada para as telas de cinema. O músico conta que se dispôs a abrir o coração, desde que foi procurado pela equipe do filme. “Especialmente sobre a ligação com meu saudoso pai. Sempre foi um relacionamento difícil e, ao mesmo tempo, sempre houve uma comunhão grande entre nós”, aponta.
Claudinho e Buchecha são interpretados, respectivamente, por Lucas Penteado e Juan Paiva. O cantor e compositor, que atuou como consultor e produtor musical do longa, acompanhou algumas filmagens.
Buchecha revela que, no primeiro momento, via mais de Claudinho em Lucas do que ele próprio em Juan. No entanto, mudou de ideia após assistir ao filme finalizado.
“Sentia que o Juan tinha pouco de mim, porque ele é mais quieto, mais calado. O Lucas tem a alma de zoeira que o aproxima mais do Claudinho. Agora, atuando juntos, os dois são nota 10. Foi um acerto escolher esses dois meninos, atores grandiosos. Após assistir à primeira sessão, posso dizer: agora eu vejo muito do Buchecha no Juan. O elenco trabalhou arduamente para essas personificações. Estou muito feliz com todas as escolhas do filme”, afirma.
Sintonia total
Lucas Penteado destaca a sintonia fina do diretor com o elenco do longa. Eduardo Albergaria compartilhou com a equipe tudo o que imaginava para os dois papéis principais, revela o ator.
“É diferente você viver um personagem que não existe e viver um ícone nacional. A gente se vale de personas no nosso dia a dia, ninguém é uma coisa só. Então, como interpretar alguém que tem sua imagem tão disseminada, tão reconhecida? A construção só vem depois de você ouvir o que o diretor acredita, o que entende do personagem”, explica.
O ator não economiza elogios ao colega de cena. Lucas Penteado, com formação ligada ao teatro, destaca a expertise de Juan Paiva na linguagem audiovisual.
“Fazia um ano que eu não atuava. De repente, estaria ali ao lado do melhor ator da atualidade, na minha opinião. Tem-se que reconhecer a técnica deste cara, depois de centenas de trabalhos na TV. Quando são dois protagonistas, você precisa de conexão com a outra pessoa, e o Juan foi muito gentil. Para mim, foi mais uma oportunidade do que desafio”, diz.
Juan Paiva conhece Lucas Penteado há muitos anos, os dois já trabalharam juntos antes. “Quando nos vimos pela primeira vez, a energia bateu de cara. Eu o vejo como um gigante, olho de baixo para cima. É uma troca muito sincera em cena. Atuei com liberdade porque ele me deu essa liberdade. Sou retraído, fico mais na minha, mas com ele é uma parada diferente”, pontua.
O ator diz que não viveu a época do estouro da dupla e do funk melody, precisava de subsídios para encarar o papel com verdade.
“Buchecha foi muito generoso, abriu as portas de casa e nos deu a oportunidade de conhecer o universo pessoal dele, a família. Então pudemos tocar no íntimo. As pessoas conhecem o Buchecha, mas não o Claucirlei, e eu tinha de entrar nesta vida”, ressalta Juan. n
“NOSSO SONHO”
(Brasil, 2023, 120 min., de Eduardo Albergaria, com Juan Paiva e Lucas Penteado) – Cinebiografia de Claudinho e Buchecha, dupla pioneira do funk nacional. Estreia nesta quinta-feira (21/9) nos cinemas de Belo Horizonte.
HITS DA DUPLA
. “Conquista”
Disco “Claudinho & Buchecha”, 1996
. “Nosso sonho”
Disco “Nosso sonho”, 1996
Disco “Claudinho & Buchecha”, 1996
. “Nosso sonho”
Disco “Nosso sonho”, 1996
. “Rap do Salgueiro”
Disco “Claudinho & Buchecha”, 1996
Disco “Claudinho & Buchecha”, 1996
. “Quero te encontrar”
Disco “A forma”, 1997
. “Só love”
Disco “Só love”, 1998
. “Xereta”
Disco “Só love”, 1998
. “Fico assim sem você”
Disco “Vamos dançar”, de 2002
Disco “A forma”, 1997
. “Só love”
Disco “Só love”, 1998
. “Xereta”
Disco “Só love”, 1998
. “Fico assim sem você”
Disco “Vamos dançar”, de 2002