O fim de "Lakers: Hora de vencer" foi doloroso. A série terminou de forma abrupta no domingo (17/9), cancelada por sua emissora, a HBO, logo depois da exibição do último episódio da segunda temporada. Criador e produtor do programa, Max Borenstein escreveu nas redes sociais que aquele não era o final planejado para a trama.
Para evitar um fim tão melancólico, a produção inseriu mais duas cenas, preparadas para o caso do cancelamento. A primeira, simples, mostra o dono do time, Jerry Buss, prometendo o time à filha Jeanie como herança.
A segunda, hilária, é uma montagem ao som de Pat Benatar mostrando os finais felizes de todos personagens humilhados na quadra.
Ares de ridículo
O desfecho improvisado soou corporativo ao destacar o sucesso do Lakers, com ares de ridículo graças ao teor das cartelas da montagem. Ao informar sobre o diagnóstico de Aids de Magic Johnson, por exemplo, a série destaca que seu rival, Larry Bird, foi o primeiro a ligar para o colega.
O desfecho original da temporada, por sua vez, é a prova máxima dos méritos do segundo ano. A imagem de Johnson debaixo do chuveiro, sentado e cabisbaixo, foi o estranho fim adequado para uma série que, impossibilitada de construir um painel histórico completo, diagnosticou bem a lógica interna do esporte.
Uma baita ironia, porque "Hora de vencer" teve uma última temporada dedicada à derrota. Além de 1984, a série retomou a história no campeonato de 1980 e 1981, quando o Lakers foi eliminado de forma prematura, vexatória e em crise.
Com isso, o programa abraçou um escopo mais amplo para entender como a rivalidade do time com o Celtics definiu a década no basquete americano. Foi uma decisão arriscada, em especial comparada à ergonomia do primeiro ano, que acompanhava apenas uma edição da NBA, e pelo número reduzido de episódios, de 10 para sete.
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Nos piores momentos, a segunda temporada de "Hora de vencer" fez jus às críticas de que seria um verbete da Wikipédia dramatizado. O penúltimo episódio corre tanto para chegar na final do campeonato que abrevia o drama do incêndio da casa de Kareem Abdul-Jabbar, líder do time dos Lakers.
A situação beira o alucinógeno, sobretudo por ser um evento que acontece no começo daquele torneio.
Mas o ritmo frenético serviu para Borenstein e os roteiristas explorarem melhor o que torna o esporte tão atraente ao público. Se a primeira temporada se obrigava a explicar o renascimento do time nos anos 1980, a segunda trabalha o lado emocional que moveu a liga naqueles anos.
Sacrifício feminino
No entendimento do programa, tudo mora no ego ferido – e masculino –, o que sacrificou mulheres importantes na história, como Jeanie Buss e Claire Rothman.Assim, os novos episódios deram amplo espaço para a pequenice de espírito, elevando figuras históricas a personagens fascinantes. A temporada se moveu na base da emasculação, em especial do lado dos técnicos do Lakers daquele momento, Paul Westhead e Pat Riley, vividos com esmero por Jason Segel e Adrien Brody.
A transição no comando foi a parte mais atraente do segundo ano. Segel teve amplo espaço para construir o isolamento e a queda de Westhead, demitido por sua insegurança e teimosia excêntricas. Já Brody contornou o tempo curto dado pela série para fabricar a ascensão de Riley – a maior liderança da história do time – na chave da personalidade impulsiva.
Os dois personagens também são criados nos entornos da figura midiática de Johnson, que se torna o centro do Lakers ao assinar um acordo milionário de 25 anos com a franquia.
O time, assim, é remodelado à figura de seu dono, Jerry Buss, que por acaso vê mais um casamento naufragar no período.
Daí que a decisão de fundamentar a temporada – e o fim – nas derrotas faz tanto sentido. Com tempo de vida abreviado, "Hora de vencer" foi preciso ao olhar a influência da cultura dos Lakers no esporte como uma questão de temor dentro dos vícios. Nesse sentido, o terror de perder move muito mais um jogador que o prazer da vitória.
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