Obra 'Campo elétrico', de Rebeca Carapiá

"Direito à forma" traz trabalhos de 30 artistas, como "Campo elétrico", de Rebeca Carapiá

Sesc Sorocaba/Divulgação

Rubem Valentim passou a vida inteira sendo chamado de artista concretista, quando na verdade, dizia ele, suas obras eram “construtivas”.

O pintor, escultor e gravador baiano, que morreu aos 69 anos, em 1991, se destacou por lançar mão de cores sólidas e contrastes em suas obras, no intuito de ressaltar os formatos geométricos. Muitos deles, inclusive, representando símbolos de religiões afro-brasileiras.

Agora, o artista soteropolitano recebe seu devido reconhecimento com a mostra temporária “Fazer o moderno, construir o contemporâneo: Rubem Valentim”, que abre nesta sexta-feira (22/9), na Galeria Lago, no Instituto Inhotim. A mostra tem curadoria de Igor Simões e cocuradoria de Lucas Menezes.

A exposição integra o Programa Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra, que inaugura, no mesmo dia, “Direito à forma”, outra mostra temporária, que ocupará a Galeria Fonte. As duas exposições ficam em cartaz até setembro de 2024.

“Essas duas mostras estão profundamente conectadas”, ressalta Simões. “Primeiro porque a gente está mostrando, simultaneamente, o Rubem Valentim, a sua centralidade na arte brasileira, para qualquer noção do que se possa discutir sobre arte moderna ou contemporânea”, emenda. “Por outro lado, estamos com um grupo de artistas negros – alguns históricos, mas a maioria jovem – que estão discutindo questões formais”, emenda ele.

“Fazer o moderno, construir o contemporâneo: Rubem Valentim” conta com obras da coleção do Instituto Inhotim e trabalhos do artista cedidos pelo Museu de Arte Moderna da Bahia, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e Museu de Arte da Pampulha.
 
Artista plástico Rubem Valentim

Inhotim ressalta a contribuição de Rubem Valentim (1922-1991) para a arte moderna e contemporânea no Brasil

Masp/divulgação
 

Posicionadas ao centro da galeria, as obras de Valentim estão rodeadas por trabalhos dos artistas Mestre Didi, Rosana Paulino, Emanoel Araujo, Jaime Lauriano, Rebeca Carapiá, Allan Weber, Bené Fonteles, Rubiane Maia, Froiid e Jorge dos Anjos. A disposição dos trabalhos reflete o quanto Valentim influenciou outros artistas brasileiros.
 

'É motivo de celebração o fato de nós termos muito mais artistas negros no mercado, nos espaços das galerias e instituições. Porque o que nós conhecemos como arte brasileira é, na verdade, arte-branco-brasileira'

Igor Simões, curador

 

Conexão atlântica

“Direito à forma”, por sua vez, é uma mostra coletiva, com trabalhos de 30 artistas negros, que transita por videoinstalações, fotografias, pinturas e esculturas. Com cocuradoria de Deri Andrade, a mostra partiu do pensamento da historiadora Beatriz Nascimento a respeito da importância do Oceano Atlântico como conexão com a identidade dos povos negros. Dizendo ser uma pessoa “afroatlântica”, ela afirmava que havia uma conexão de pensamento cultural e artístico brasileiro com base nas raízes africanas.

Assim, artistas como Ayrson Heráclito, Ana Cláudia Almeida, M0XC4, Mulambö e Rommulo Vieira Conceição, entre outros, estão representados na mostra com obras que, de alguma forma, fazem referência ao Atlântico.

“(‘Direito à forma’) é uma exposição que traz múltiplas linguagens formais, artísticas, com foco na produção de autoria negra”, resume Andrade. “Mas não são necessariamente trabalhos que vão lidar com uma discussão sobre a ancestralidade. Essa é a chave da discussão para que a gente entenda que esses artistas podem discutir sobre diversos assuntos que não necessariamente se limitem apenas a uma questão ancestral ou uma questão negra”, complementa.

O curador Igor Simões observa que “é motivo de celebração o fato de nós termos muito mais artistas negros no mercado,  nos espaços das galerias e instituições. Porque o que nós conhecemos como arte brasileira é, na verdade, arte-branco-brasileira, afinal, se formos analisar, a maioria dos artistas contemplados nessa categoria são brancos. Então estamos mostrando aqui que há diversos artistas brasileiros negros que estão com vários e excelentes trabalhos”.

MOSTRAS INHOTIM

Exposições “Fazer o moderno, construir o contemporâneo: Rubem Valentim” e “Direito à forma”. A partir desta sexta-feira (22/9), nas galerias Lago e Fonte, no Instituto Inhotim, em Brumadinho. De quarta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30. R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Mais informações no site inhotim.org.br.