O que, afinal, faz uma obra literária ser de alta qualidade? Diriam os críticos, embasados na hierarquia estabelecida e influenciada por epistemologias europeias, que a forma em que o texto foi escrito, as alegorias utilizadas e as camadas de interpretação que a obra possibilita ao leitor são o termômetro para essa medição. Em último caso, vem a história propriamente narrada no livro.





Thomas Mann (1875-1955) fez isso com maestria, em 1912, quando lançou “Morte em Veneza”. Uma adaptação do romance para os palcos chega a Belo Horizonte neste fim de semana. 

A transposição do livro para o teatro foi feita por Vinicius Coimbra, que também dirige o espetáculo, e Roberto Cordovani, que interpreta o protagonista Gustav Aschenbach na peça.

Bloqueio criativo

“Morte em Veneza” acompanha Aschenbach, prestigiado escritor de meia-idade que decide viajar para sair de seu bloqueio criativo. Ele parte de Munique para Veneza, na Itália, e lá conhece o jovem Tadzio, cuja beleza o deixa obcecado. 

À primeira vista, poderíamos classificar a obra como uma história homoafetiva. Há na trama, no entanto, muitas outras questões que vão além da sexualidade do protagonista, como a redescoberta pelas alegrias da vida e a obsessão do artista na busca pelo belo.





“São essas múltiplas interpretações que a gente leva para o palco”, afirma Cordovani. “Tem outras questões, como o Aschenbach se dando conta de que não viveu metade daquilo que está descobrindo e que pode morrer feliz”, comenta.

No palco, Cordovani contracena com projeções do ator Guilherme Cabral, que interpreta Tadzio. Como os dois personagens nunca trocaram palavra alguma, as aparições do jovem se confundem com memórias e pensamentos do protagonista.

Pandemia à espreita

O cenário também transita entre o concreto e o virtual. Além dos objetos cênicos no palco, ruas de Veneza e o contexto epidêmico que a cidade viveu na época - havia na Itália, nesse período, uma epidemia de cólera - são projetadas em tela. 





“É uma montagem muito sofisticada. Ela tem nuances, transparência e sombras que ajudam o público a fazer essa viagem a Veneza com o Gustav”, conclui Roberto Cordovani.

“MORTE EM VENEZA”

Adaptação do romance de Thomas Mann. Texto de Vinicius Coimbra e Roberto Cordovani. Direção: Vinicius Coimbra. Com Roberto Cordovani e Guilherme Cabral. Nesta sexta (22/9) e sábado (23/9), às 20h; domingo (24/9), às 17h. No Teatro Feluma (Alameda Ezequiel Dias, 275, 7º andar, Centro). Ingressos à venda por R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia) na bilheteria do teatro ou pelo site Sympla. 

OUTRAS PEÇAS EM CARTAZ EM BH


• “QUEM TÁ DESESPERADO, GRITA!”
Sérgio Mallandro transita entre os formatos de show de calouros e stand-up comedy, reunindo histórias engraçadas e momentos marcantes de sua vida. O comediante é famoso por suas pegadinhas e bordões, como “Glu-glu-Ie-ié”. Neste sábado (23/9), às 21h, do teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos a R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia), na bilheteria do teatro ou pelo site do Eventim.
 

Maria Cutia encena 'Como a gente gosta', nesta sexta (22/9), na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza

(foto: Tati Motta/divulgação)
 

  “COMO A GENTE GOSTA”
Em comemoração aos seus 17 anos, o Grupo Maria Cutia de Teatro realiza mostra comemorativa de espetáculos de seu repertório, com exibição gratuita de peças em praças da cidade. “Como a gente gosta”, inspirado em “As you like it”, de Shakespeare, com direção de Eduardo Moreira, do Grupo Galpão, é a atração desta sexta (22/9); a de amanhã é “Aquarela”, espetáculo infantil que transita entre a dança, as artes plásticas e a música. Em cada apresentação, o cenário e os figurinos são pintados pelos atores em cena, sendo transformados em uma aquarela. Não é necessária retirada prévia de ingressos para nenhuma apresentação. Nesta sexta-feira (22/9), às 20h, na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza. Sábado (23/9), a partir das 16h, no Centro Cultural Venda Nova. 

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