Dizer que o livro “Afinação da interioridade – A canção popular brasileira na musicalização de adultos”, do violonista, compositor e professor de teoria musical Kristoff Silva, traz apenas o resultado de sua tese de doutorado é incorrer em erro comum, com o qual Kristoff já se acostumou.
A publicação, que será lançada neste sábado (23/9), em BH, “passa em revista todos os aspectos musicológicos implicados na canção popular brasileira”, afirma o compositor e professor José Miguel Wisnik, responsável pela apresentação do livro.
“Um tipo de pesquisa como essa não começa exatamente quando se ingressa no doutorado, e sim numa perspectiva de pesquisador a respeito de sua trajetória de vida”, destaca Kristoff Silva, que já acompanhou músicos do calibre de Caetano Veloso, Elza Soares, Elomar, José Miguel Wisnik, Luiz Tatit e Arnaldo Antunes, entre outros.
Rodas de violão
Essa trajetória começou em Belo Horizonte, no bairro Santa Efigênia, quando Kristoff ouvia canções nas rodas de violão. Fazia isso ainda na infância, por volta de1976 e 1977.
“Afinação da interioridade” é um passeio por quatro séculos da cultura do país. Nessa incursão, o autor mostra como o que é conhecido hoje como música popular foi se desenvolvendo e sendo desenvolvida por pessoas que não necessariamente tiveram educação musical formal.
Ao longo da linha do tempo que se inicia por volta do século 17, Kristoff mostra como elementos da música (intervalos, escalas, modos e tons) foram se embrenhando no universo popular.
• Leia também: Márcio Borges, que nunca estudou música, compõe peça sinfônica que será apresentada neste domingo
O que ele coloca em discussão, contudo, é a importância e a necessidade da educação musical – a mínima que seja. Para justificar seu ponto de vista, destaca que compositores populares que jamais estudaram música formalmente não compuseram apenas por inspiração, mas por meio do conhecimento musical que chegou a eles por outras vias.
Como exemplo, Kristoff cita o samba “Na tina”, de Nei Lopes e Wilson Moreira, gravado por Clara Nunes. “Quando alguém que não passou por escola formal compõe ‘Na tina vovó lavou, vovó lavou’, essas notas não são apenas casuais, elas são produto do conhecimento que a pessoa tem. Ela cria melodia com toda a lógica que aprendeu ouvindo”, explica.
“Assim, podemos dizer que a canção popular, de maneira geral, constrói nos ouvintes um sentido de tradição no qual o próprio repertório da pessoa se torna um significante complexo que guarda informações. Assim, mesmo de ouvido, as pessoas adquirem conhecimento”, continua Kristoff.
Lições de Noel
Para além da parte teórica, “Afinação da interioridade” traz letras de canções que exemplificam o argumento do autor. Portanto, não é motivo de espanto encontrar um samba de Noel Rosa no capítulo que trata sobre a tonalidade abordada no Brasil de 1780.
Tudo isso será tema de bate-papo durante o lançamento, neste sábado. “Mas não vai ser nada chatão, do tipo xalalá teórico”, tranquiliza Kristoff, em tom brincalhão. “Estarei com o violão, falando e tocando. Será uma espécie de microaula show”, conclui.
“AFINAÇÃO DA INTERIORIDADE: A CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA NA MUSICALIZAÇÃO DE ADULTOS”
• Livro de Kristoff Silva
• Editora Zain
• 343 págs
• R$ 54,90
• Lançamento neste sábado (23/9), às 18h, na Casa Esmeralda – Escola Neijing (Rua Baturité, 13, Floresta). Entrada franca. Exemplares à venda no evento e no site editorazain.com.br