Durante muitos anos, Mateus Solano escondeu a calvície. Usou aplique, spray, maquiagem e até chegou recorrer aos truques de câmeras para disfarçar a falta de cabelos bem no topo da cabeça. O fato de ser alto (ele tem 1,90 m) também o ajudou manter esse segredinho. Só que o ator da nova novela das seis da Globo,"Elas por elas", que estreia nesta segunda-feira (25/9), na faixa das 18h, cansou das artimanhas e decidiu assumir que faz parte do time dos carecas.
"Foi a primeira novela em que eu já cheguei e disse que não ia colocar nada para cobrir a minha calvície. Bati o pé. Esse é meu lugar de fala! Vim lutar pelos calvos", disse o ator.
Solano reconhece também que partia mais dos outros (leia-se diretores e produtores) do que dele mesmo essa preocupação de esconder o buraco cada vez mais proeminente em seu cocuruto.
"Sempre questionei essa coisa de que galã não poderia ser careca. Se bem que nunca me vi como galã. Mas as pessoas me convenciam a esconder. Falei logo para Amora (Mautner, a diretora) que a primeira cena de Jonas seria de costas. Ela achou graça, mas respeitou a minha decisão", contou.
'Bati o pé. Esse é meu lugar de fala! Vim lutar pelos calvos'
Mateus Solano, ator
Gravidez e casamento
Jonas é o seu personagem na releitura de Alessandro Marson e Thereza Falcão do texto de Cassiano Gabus Mendes de 1982. Um homem que era noivo da Adriana (Thalita Carauta), mas a traiu com amiga rica da turma de jovens. Helena (Isabel Teixeira) acabou engravidando, e os dois se casaram, mas, o empresário percebe 25 anos depois que nunca esqueceu a ex.
"Ele vai ficar mexido com esse reencontro das sete mulheres porque também vai rever Adriana. Ao perceber que foi totalmente dominado por anos, Jonas decide tomar as rédeas de sua vida e a trama dele começa", explicou Solano, que quatro meses depois de ter encerrado contrato fixo com a Globo, volta com um vínculo por obra.
Em "Elas por elas", ex-amigas que romperam relações por causa de um crime são convocadas para uma reunião depois de décadas sem se ver. Uma delas quer descobrir se seu irmão foi assassinado pelas colegas na juventude.
O novo folhetim faz parte da onda de remakes que tomou de assalto a televisão nos últimos tempos. É um resgate da trama de Cassiano Gabus Mendes lançada em 1982, agora reescrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson. A primeira versão da novela era estrelada por atrizes como Aracy Balabanian, Eva Wilma e Esther Góes.
O texto original foi adaptado para obedecer ao avanço do feminismo. "Não teria como a gente fazer um remake fiel com tantas coisas tendo acontecido em 40 anos", diz a dramaturga Thereza Falcão. "O papel das mulheres mudou muito. Isso nos obrigou a abrir novas histórias. Reflete anos de revolução feminina."
Agora as sete protagonistas são mais donas de si. Diferentemente do folhetim original, quase todas as protagonistas trabalham fora de casa nesta versão. Além disso, casar deixou de ser o objetivo número um da vida delas.
"Eu fui criada nessa sociedade em que você não podia ficar sozinha", diz Isabel Teixeira, vestida com as roupas da vilã Helena. "Novela é democrática. Tem que falar para o mundo como está agora. Tem que estar aqui."
No início da história, a ricaça Helena seduz o amado de uma das suas amigas fiéis, engravida e o força a se casar com ela. A mágoa que ficou represada entre eles ao longo de 25 anos é despejada a partir do reencontro das ex-colegas.
Teixeira assistiu à novela de 1982 recentemente no Globoplay para estudar a interpretação de Aracy Balabanian, atriz morta em agosto, que deu rosto a Helena na primeira versão.
"Às vezes eu ficava constrangida vendo a primeira versão. Havia coisas que não cabem mais", afirma, lembrando o aviso de conteúdo colocado pela plataforma de streaming no início dos episódios. "Essa obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada", diz o letreiro.
Refazer a novela injetando diversidade e reposicionando o papel da mulher na sociedade é uma forma de incitar diálogo com outros tempos, diz a atriz, que ficou famosa por interpretar Maria Bruaca na nova "Pantanal", do ano passado.
Protagonista negra
Se antes todas as sete protagonistas eram brancas, agora há uma única negra. Taís, feita primeiro por Sandra Bréa, é vivida desta vez pela cantora Késia, ex-'The voice Brasil' que está estreando nas novelas.
Realizada profissionalmente e apaixonadíssima, Taís pensa estar em sua melhor fase quando é convidada para rever as antigas amigas. O problema é que ela descobre estar namorando com o marido de uma delas, a advogada Lara, interpretada por Deborah Secco.
Lara sempre acreditou levar uma vida de conto de fadas ao lado do marido Átila e das filhas, até se dar conta que estava sendo traída.
Quanto Átila morre, Lara tenta descobrir quem era a amante dele com ajuda do detetive fajuto Mário Fofoca, um dos personagens mais famosos da trama original, que ganhou até filme. Vivido por Luiz Gustavo, ele agora surge na pele de Lázaro Ramos.
O ator conta que, para criar a nova versão do personagem, se inspirou em investigadores atrapalhados de "Os encanadores da Casa Branca" e a recente "Only murders in the building". Humor pastelão deve guiar toda a novela, se depender da diretora Amora Mautner.
* O repórter Guilherme Luís viajou ao Rio de Janeiro a convite da TV Globo
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