Representantes de 25 filmes argentinos presentes no festival de cinema de San Sebastián, na Espanha, protestaram contra Javier Milei, candidato de extrema direita às eleições presidenciais do país.
Em manifesto divulgado no festival, os cineastas expressaram “profunda preocupação pelas palavras do candidato presidencial de um partido de extrema direita que ameaça fechar o Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais”.
Ramiro Marra, candidato a chefe de governo de Buenos Aires por La Libertad Avanza, o partido de Milei, escreveu recentemente no X (antigo Twitter): “Vamos fechar o INCAA”.
Em mensagem na mesma rede social, o Festival de San Sebastián expressou “apoio ao cinema argentino, ao INCAA e ao restante das instituições culturais do país”.
A Argentina se destaca na 71ª edição do festival, com dois filmes competindo na mostra oficial: “La Práctica”, de Martín Rejtman, e “Puan”, de María Alché e Benjamín Naishat. O país também contribui com praticamente metade das produções da mostra “Horizontes latinos”, dedicada ao cinema da América Latina.
Caso Tenório Jr. vira filme
A ditadura militar que vigorou de 1976 a 1983 na Argentina é tema do filme dirigido pelo espanhol Fernando Trueba. A animação “Atiraram no pianista”, com desenhos de Javier Mariscal, aborda a investigação de um jornalista americano sobre o brasileiro Francisco Tenório Junior, pianista que desapareceu em Buenos Aires após se apresentar com Vinicius de Moraes na cidade, em 1976.
Trueba, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1994 com “Sedução”, tomou contato com o caso Tenório Jr. em 2004. Entrevistou artistas e amigos que conheciam o músico, até ter a ideia de produzir o documentário em animação.
O resultado é a combinação de “música, história, política e memória”, afirmou Trueba, no sábado (23/9), após a exibição do filme no festival.
Tudo indica que Tenório foi sequestrado por agentes do Estado quando ia comprar sanduíche depois de um show. Torturado na Escola Mecânica da Marinha (Esma), ele foi assassinado pelo soldado Alfredo Astiz, o “Anjo da Morte”, que buscava ocultar aquela prisão sem justificativa.