Quando pisou no palco pela primeira vez diante de uma plateia, Sérgio Andrade tinha 17 anos. Ao lado dos irmãos mais velhos, Waltinho e Roberto Andrade, ele dava o pontapé inicial na trajetória da pernambucana Banda de Pau e Corda, que em 1973 lançava seu primeiro álbum, “Vivência”. Passados 50 anos, chegou a hora de celebrar esse longo percurso. Essa celebração veio na forma do recém-lançado álbum “Entre a flor e a cruz”, que mescla inéditas com regravações de sucessos do grupo.





Único remanescente da formação original, Sérgio diz que o caráter comemorativo do álbum é o que justifica a inclusão de algumas das músicas mais conhecidas que o grupo emplacou ao longo dessas cinco décadas, como “Areia”, “Flor d'Água” e “Vivência”. Já a inclusão de novos temas se relaciona com o momento de retomada que a Banda de Pau e Corda vive desde 2021, quando lançou o disco “Missão de cantador”, o primeiro de inéditas após um hiato de 29 anos.

“Quisemos, por um lado, que esse novo trabalho fosse um retrovisor do tempo, que nos permitisse olhar para o passado da Banda de Pau e Corda. Por outro lado, também estamos olhando para frente, com músicas novas, algumas autorais e outras que fazem parte do cancioneiro nacional, como a que dá nome ao disco, 'Entre a flor e a cruz', que é do PC Silva e do Gean Ramos Pankararu”, diz o vocalista.

Ele integra o grupo ao lado de Júlio Rangel (viola e vocal), Sérgio Eduardo (contrabaixo), Yko Brasil (flauta transversal e pífano), Zé Freire (violão e vocal) e Alexandre Baros (bateria, percussão e vocal), que é coprodutor do álbum, ao lado de José Milton – nome que também esteve por trás do disco de estreia do grupo e dos seis títulos seguintes. 




 

 

Conexão com o público

Sérgio diz que o critério de seleção dos temas resgatados do passado para serem regravados foi a resposta do público. São músicas que nunca saíram do repertório da Banda de Pau e Corda. “Isso porque são as que melhor representam o trabalho que a gente vem fazendo ao longo desses 50 anos – algumas com uma conotação mais romântica, como 'Areia' e 'Flor d'Água', e outras mais politizadas, como é o caso de 'Lampião'. São temas que contam a história do grupo.”

Nas regravações, houve a preocupação de se manter fiel aos arranjos originais, quase todos assinados por Waltinho. A diferença são as participações especiais. “Entre a flor e a cruz” conta com os auxílios luxuosos de Lenine (em “Moer cana”), Fagner (em “Areia”), padre Fábio de Melo (em “Esperança”), Juliana Linhares (em “Carcará”) e Marcos Valle (em “Pelas ruas do Recife”).
 
“Nossa ideia era mostrar que é possível celebrar 50 anos de estrada sempre se reinventando, mas sem esquecer nem reescrever o passado”, diz. Ele observa que a simples inclusão de novas tecnologias de gravação e as interpretações dos novos instrumentistas já são suficientes para dar ares de novidade a uma canção como “Lampião”, lançada em 1973.




 
• Leia também: Banda de Pau e Corda e Quinteto Violado gravaram disco em BH

Sobre as participações especiais, Sérgio diz que são, antes de mais nada, artistas que os integrantes da Banda de Pau e Corda admiram. Ele diz que a presença do padre Fábio de Melo em “Esperança”, canção lançada em 1974, no álbum “Redenção”, se justifica pelo caráter transcendente, quase religioso, da letra. “Essa música foi feita num período muito difícil, com a ditadura militar e uma seca histórica castigando o Nordeste, mas é uma letra positiva, com um olhar para o futuro.”

Sobre a participação de Juliana Linhares em “Carcará”, diz: “É uma música fortíssima, que a gente queria regravar, mas que é muito marcada pela interpretação de Maria Bethânia, então a gente precisava de uma voz que deixasse pelo menos à altura. Quando estávamos fazendo o 'Missão de cantador', Juliana estava lançando o (álbum) 'Nordeste ficção', que nos impressionou muito, pelo vigor do canto dela. Pensamos que seria a pessoa certa para somar nessa música”.
 

Juliana Linhares canta o clássico 'Carcará' com a banda de Pau e Corda

(foto: Clarice Lissovsky/divulgação)
 

Homenagem a Marcos Valle

Marcos Valle empresta a voz a um frevo de sua autoria, ao lado de Novelli e Paulo Sérgio Valle, o que encontra ressonância na relação que a Banda de Pau e Corda tem com o tradicional ritmo pernambucano. “Marcos está completando 80 anos, então foi uma feliz coincidência tê-lo conosco nesse momento”, pontua Sérgio. Sobre Fagner, ele afirma que sua voz cairia bem em uma música romântica, que é o caso de “Areia”.





“Essa música ficou dois meses no topo das paradas de sucesso em São Paulo e tocou muito no Brasil inteiro. Ela não poderia deixar de constar no disco, e pensamos de imediato no Fagner para cantar, porque é amigo nosso e é um artista que admiramos muito.” Lenine também mantém uma relação próxima com a banda.

“Nosso produtor, Rafael Moura, me mostrou 'Moer cana', que eu já conhecia, mas fiquei encantado ao ouvir de novo. Rafael tinha produzido um trabalho com Lenine e sugeriu que ficaria bonita na voz dele. Liguei para o Lenine, e ele na hora topou gravar. A música é de um amigo em comum, Chico César, então foi um encontro lindo”, comenta. 

(foto: Reprodução)
“ENTRE A FLOR E A CRUZ”

• Banda de Pau e Corda
• Biscoito Fino (12 faixas)
• Disponível nas plataformas de streaming

compartilhe