Nesta terça-feira, dia 26 de setembro, Gal Costa (1945-2022) completaria 78 anos. A cantora baiana morreu em novembro do ano passado, em decorrência de um infarto, quando se recuperava de uma cirurgia na face. Atenta e forte, Gal deixou um legado perene para a música do país, abrindo caminhos para artistas que vieram depois dela.
O dia 26/9 também marca a data de nascimento de Filipe Catto, cantora que aproveitou a data para fazer o lançamento do disco “Belezas são coisas acesas por dentro”. Com 10 faixas, o projeto fonográfico traçou um caminho inverso do usual: nasceu após um show.
A apresentação em questão foi feita em maio passado, a convite do Sesc São Paulo, e, inicialmente, não teria outros desdobramentos. Filipe confessa que ficou um pouco reticente em aceitar a proposta, mas decidiu encarar o desafio. Juntou-se a Ismael Caneppele e Cris Lisbôa para criar o roteiro da apresentação.
A setlist foi feita pelo trio, sob um recorte pessoal, com as músicas que mais dialogavam com as vivências de Catto, que é uma mulher trans e não binária.
Quando o grupo saiu do palco, todos viram que o que era para ser apenas uma noite divertida entre amigos havia se tornado algo muito maior. “Todo mundo se empenhou tanto, a equipe deu tanto de si que o show ficou deslumbrante. Quando estreamos, parecia que já tínhamos feito aquilo um milhão de vezes”, comenta.
Artista gigantesca
A cantora se diz muito inspirada pela afirmação existencial presente no repertório de Gal Costa. “Gal para mim é uma coisa muito gigantesca como artista; eu a vejo como uma síntese cultural do Brasil. Ela representa muito para mim, o trabalho dela também tem toda uma camada política. São músicas que vêm ao encontro da minha vida e das minhas questões.”
Após a boa recepção do show, Catto teve a ideia de entrar no estúdio com sua banda, formada por Michelle Abu (bateria), Fábio Pinczowski (guitarra e direção musical) e Gabriel Mayall (baixo), para gravar o disco da mesma forma que foi tocado no palco, tudo ao vivo, sem o retorno do metrônomo e com algumas improvisações. O resultado são faixas vibrantes, com interpretações viscerais e boas doses de rock.
No repertório estão clássicos como “Tigresa”, “Vaca profana” e “Esotérico”, além de lançamentos mais recentes, como “Sem medo nem esperança", de 2016.
“Esse disco é um retrato de uma coisa que aconteceu de fato, não é uma pintura a óleo em que tu vai construindo as camadas. É uma fotografia analógica com flash. É o encontro dessas quatro pessoas tocando juntas. Foi muito gostoso poder fazer um disco rock’n’roll completamente no pelo e doidão”, diz Catto.
Em 2018, ao lado de Céu e Maria Gadú, Filipe Catto gravou os backing vocals da música “Cuidando de longe”, parceria entre Gal e Marília Mendonça (1995-2021). A cantora conta que foi impactada pela beleza e a presença da baiana e, por isso, nomeou o disco com o trecho de “Lágrimas negras”.
“É muito importante para mim ter tido este contato com ela. Minha impressão sobre a Gal é a de uma mulher generosa e muito bonita. Ela tinha um olhar sereno, era uma pessoa tranquila, muito observadora e, sobretudo, muito receptiva, fazia todo mundo se sentir à vontade”, afirma.
O show definido por Filipe como “uma missa que evoca Gal Costa” será apresentado na próxima quinta (28/9), em São Paulo, e ainda não tem data marcada em Belo Horizonte, algo que a cantora espera que mude logo.
“BELEZAS SÃO COISAS ACESAS POR DENTRO”
• Disco de Filipe Catto
• 10 faixas
• Disponível a partir desta terça (26/9) nas plataformas digitais
*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes