Natural de Pedro Leopoldo – embora tenha vivido grande parte da infância em Vespasiano –, Leonardo Fernandes construiu sua carreira no teatro. Ao longo dos 20 anos trabalhando como ator e diretor, apresentou centenas de peças e levou, em 2016, o prêmio APCA de melhor ator pelo solo "Cachorro enterrado vivo".





Com “Pérola”, adaptação que Murilo Benício fez da peça homônima de Mauro Rasi, que estreia nesta quinta-feira (28/9) nos cinemas, Leonardo faz sua primeira incursão no cinema como coprotagonista. No longa, ele interpreta Mauro, filho da personagem-título. Ao saber da morte da mãe, Mauro se lembra da convivência familiar, construindo por meio da memória o retrato de Pérola. 

“Esse trabalho foi o primeiro com essa grande projeção (que o cinema dá). E já começar fazendo um autor de teatro, com os conflitos pelos quais uma pessoa de teatro passa, foi uma honra muito grande”, ressalta o ator.
 

 

Na entrevista a seguir, o ator conta como o personagem chegou até ele, os paralelos que traçou entre a própria vida e a de Mauro Rasi e como foi ser dirigido por Murilo Benício.




 
 
Como o papel do Mauro chegou até você?
Foi por meio da Cynthia Falabella, que estava fazendo a produção de elenco. Ela me convidou para um teste. Fiz o teste para esse papel e aí rolou.

Você já conhecia esse texto do Mauro Rasi?
“Pérola” eu não conhecia. Fui ler por causa do filme.

Qual foi sua primeira impressão?
Tive uma identificação porque eu, como a maioria das pessoas que conheço que optaram por fazer teatro, passei pelos conflitos que o Mauro passa em relação à profissão: como é isso de viver de teatro, se daria certo ou não, essas coisas. Apesar de a minha família sempre ter me incentivado, eu tinha essa preocupação, porque é uma profissão difícil, é uma profissão dura.

Sua carreira até então foi praticamente toda no teatro. E, agora, fazendo um filme com maior projeção, você interpreta um personagem que é do teatro. O que isso representa para você?
Este trabalho foi o primeiro com essa grande projeção (que o cinema dá). E já começar fazendo um autor de teatro, com os conflitos pelos quais uma pessoa de teatro passa, foi uma honra muito grande. Na primeira leitura do texto, já cheguei com o peso dessa responsabilidade de fazer o Mauro, porque ele foi muito importante para o teatro brasileiro. Foi o precursor do teatro besteirol.





Como foi a construção desse personagem? Você procurou fazer uma cópia fiel do que foi o Mauro Rasi ou concebeu outro Mauro para o filme?
Optei por não me preocupar em fazer o Mauro ipsis litteris. Mas fui no coração dele. Esse foi o caminho que escolhi, fazer esse Mauro intenso, com amor muito grande pela arte e pela família.
 
 
“Pérola” é o segundo trabalho de Murilo Benício como diretor. Como foi ser dirigido por ele?
Foi muito bacana. Já em “O beijo no asfalto” ele se mostrou um excepcional diretor. Com “Pérola” também. Acho que é um acerto dele, porque ele é muito cuidadoso. Ele tinha um caderno, um storybook em que ia desenhando as cenas todas. Ele realmente sabia dar pra gente um terreno que era de muita confiança, deixando os atores livres. E isso é desafiador, porque quando o diretor é também ator, ele tem suas escolhas como ator.

A avó do Mauro nunca aparece, fica somente dentro de um quarto, sem ninguém se importar muito com ela. Dá a impressão de que ela é um contraponto da própria Pérola, que mantém uma personalidade efusiva e amável com os filhos, mas não se importa muito com a mãe. Como você enxerga essa personagem?
A Pérola é muito afetiva, carinhosa e calorosa. Em relação à própria mãe, vejo como um contraponto, sim. Como se fosse uma forma de dizer que ninguém é uma pessoa só. Nós somos vários. E, no caso da Pérola com a mãe, tem, sim, uma questão mal resolvida. Acho que a casa é muito importante nessa narrativa para entender isso. Num campo metafórico, ela é uma extensão da própria Pérola. Afinal, Pérola é uma mulher afável, alto astral e colorida. Isso se reflete no ambiente todo. Então, voltando a pensar no campo metafórico, na casa como extensão de Pérola, a impressão que me dá é que essa mãe fechada em um dos cômodos representa algo dentro da própria Pérola, algo que ela não quer olhar. Talvez a própria questão com a bebida, não sei.

“PÉROLA”

(Brasil, 2023, 91min.) Direção: Murilo Benício. Com Drica Moraes, Leonardo Fernandes, Rodolfo Vaz, Valentina Bandeira. Estreia nesta quinta (28/9), no UNA Cine Belas Artes, Cineart Cidade.

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