Cantora Carô Rennó e pianista Wagner Sander sorriem no altar após fazerem recital em igreja

A cantora Carô Rennó e o pianista Wagner Sander querem formar público com o projeto 'Música na nave'

Marcelo Goulart/divulgação
 

Iniciado em junho deste ano, o projeto “Música na nave: recital de canções brasileiras” terá apresentação neste domingo (1º/10), na Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, com repertório de câmera interpretado pela mezzo-soprano Carô Rennó e o pianista Wagner Sander.


Nas sessões realizadas em igrejas localizadas nas regionais da capital mineira, o programa reúne obras de compositoras – Chiquinha Gonzaga, Babi de Oliveira, Carmen Vasconcellos e Helza Cameu, entre elas –, além de Heitor Villa-Lobos, Waldemar Henrique e Cláudio Santoro.


O embrião do projeto remonta a meados da década passada, quando Carô desenvolvia dissertação de mestrado, na UFMG, sobre “Dez estudos vocalizados”, de Carmen Vasconcellos (1918-2001).


“Todo o conteúdo do recital é apoiado na minha pesquisa. Como dentro da universidade tem um grupo de resgate da canção brasileira formado por Mauro Chantal, Guida Borghoff, Mônica Pedrosa e Luciana Monteiro, entre outros, acabei chegando em Carmen Vasconcellos. Esta compositora teve atuação importante aqui em Belo Horizonte”, diz.


Chamou a atenção de Carô o fato de Carmen ser tratada sempre como professora – o que efetivamente foi –, embora trabalhasse como regente, autora, pianista e cantora. “Quando ela se formou e começou a atuar, não era socialmente bem-visto que mulheres fossem artistas da música, compositoras, regentes. Então, o 'professora' vinha como um endosso”, destaca.

 

'Se não conhecemos a música de câmara das compositoras, não é porque ela seja menos bonita ou careça de técnica; é só porque existia um contexto que gerou esse apagamento. Muitas mulheres não puderam se colocar nesse lugar. Chiquinha Gonzaga o fez e pagou um preço social alto por isso'

Carô Rennó, mezzo-soprano

 

Luz para as mulheres

Nesse período, Carô estreitou a parceria musical com Wagner Sander. Depois da defesa da dissertação, ela deveria apresentar um recital. “O programa partiu dos 'Dez estudos vocalizados', incluindo canções de Carmen e também de Babi de Oliveira e de Helza Cameu”, explica.


Por falta de divulgação, a apresentação se restringiu ao círculo acadêmico. “Ficamos com o desejo de repetir a experiência, levá-la para mais pessoas, jogar luz sobre a produção intelectual das mulheres na música, que foi tão apagada. 'Música na nave' tem origem nesse contexto da pesquisa”, diz.


Posteriormente, foram incluídas no repertório peças criadas por homens, postas lado a lado com a produção feminina com o intuito de mostrar que não há diferença. “Se não conhecemos a música de câmara das compositoras, não é porque ela seja menos bonita ou careça de técnica; é só porque existia um contexto que gerou esse apagamento. Muitas mulheres não puderam se colocar nesse lugar. Chiquinha Gonzaga o fez e pagou um preço social alto por isso”, observa.


“Quanto mais projetos surgirem, mais força o segmento terá. A gente precisa de mais representação em editais de música erudita, o que às vezes não acontece porque a pessoa tem em mente que são necessárias grandes estruturas. Acho importante colocar ideias como essa, das igrejas, à disposição”, afirma. “Sem o apoio do Fundo Municipal de Cultura esse projeto não seria possível”, acrescenta.

 

'Uma coisa legal é que em cada igreja é diferente, porque são públicos diferentes, mas a forma como as pessoas reagem é sempre a mesma. Elas ficam muito felizes, degustam o evento, volta e meia pedem bis'

Wagner Sander, pianista

 


Wagner Sander pontua que o fato de as apresentações ocorrerem depois da missa permite alcançar um público amplo e diverso. Durante os recitais, as pessoas filmam, marcam a dupla nas redes sociais, comentam e trocam impressões entre si, conta o pianista.


“Uma coisa legal é que em cada igreja é diferente, porque são públicos diferentes, mas a forma como as pessoas reagem é sempre a mesma. Elas ficam muito felizes, degustam o evento, volta e meia pedem bis”, ressalta.


Carô Rennó explica que não se trata de explorar repertório já conhecido. “É comum as pessoas trabalharem com temas que o público conhece, como se fosse só isso o que segura a audiência. Nosso público é atento do início ao fim. O projeto tem o caráter de formação, no sentido de as pessoas chegarem em casa e digitarem no Google para descobrir que compositora ou música é aquela que ouviram na igreja. O 'Música na nave' se sustenta em dois pontos: jogar luz sobre a obra de compositoras mulheres e formar público”, afirma.

“MÚSICA NA NAVE: RECITAL DE CANÇÕES BRASILEIRAS”

Com Carô Rennó (mezzo-soprano) e Wagner Sander (piano). Neste domingo (1/10), às 19h, na Igreja São Francisco de Assis (Av. Otacílio Negrão de Lima, 3.000, Pampulha). Entrada franca.