Desde o início do século 20, corre o boato dizendo que Franz Kafka (1883-1924) caminhava perto de casa quando viu uma garotinha chorando por ter perdido sua boneca. Comovido com a cena, ele se apresentou como “carteiro de bonecas” e disse que não havia motivo para choro, porque a boneca estava viajando pelo mundo e que ele se encarregaria de entregar à garotinha todas as cartas que recebesse.
Por três semanas, Kafka escreveu e enviou missivas à menina em nome da boneca, descrevendo as façanhas dela em sua aventura pelo mundo.
As cartas e a menina, no entanto, nunca foram encontradas. O rumor foi investigado por estudiosos do autor, mas, aos poucos, foi deixado de lado. Somente em 2006 a história voltou à tona quando o escritor catalão Jordi Sierra I Fabra lançou “Kafka e a Boneca Viajante”, no qual escreveu as supostas cartas.
Foi o livro de Fabra, portanto, que serviu de inspiração para o ator e dramaturgo paulista Rafael Primot montar o musical homônimo, que segue em curta temporada no CCBB, desta quinta a segunda-feira (9/10).
Brígida, a protagonista
Na peça, que tem direção de João Fonseca, Alessandra Maestrini é Brígida, a Boneca Viajante. É ela quem vai conduzir a narrativa.
“Assim como nas histórias dos livros do Kafka, a linha entre realidade e ficção, na peça, é tênue”, conta a atriz. “A gente tem várias dimensões que vão se encontrando ao longo do caminho, inclusive uma dimensão de metalinguagem, porque no nosso espetáculo assumimos que é uma companhia de teatro contando uma história”, acrescenta.
A adaptação do texto, aliás, foi feita como se o elenco fosse uma companhia já estabelecida, embora eles nunca tivessem trabalhado todos juntos, lembra a atriz.
O resultado final é fruto da colaboração de João Fonseca, Maestrini, Carol Garcia (que interpreta Rita, a menina dona da boneca), André Dias (que faz Kafka e em outras cenas o Soldadinho de Chumbo), Lilian Valeska (que interpreta Dora e a Gaivota, em outra cena) e Tony Lucchesi, diretor musical do espetáculo.
Dividida em quatro partes, a peça inicialmente apresenta o encontro de Kafka com a menina, passa pela decisão dele de enviar as cartas em nome da boneca, as aventuras de Brígida e, por fim, a aceitação de Rita com a perda.
“Kafka vai, aos poucos, assumindo um papel de pai. E a Brígida vai crescendo e amadurecendo. Ela vai enfrentando os desafios da vida”, destaca Maestrini.
Trilha com Cartola e Rita Lee
“Embora seja associado ao público infantil, porque o lado lúdico é inegável, o espetáculo é também para adultos. Ele fala das nossas questões internas, coisas com as quais a gente se depara na vida e tem que lidar. Tudo com muitos sentimentos, mas também com muita leveza e humor”, emenda a atriz.
A trilha sonora, por sua vez, transita pela MPB e o rock brasileiro. Estão lá canções de Caetano Veloso, Candeia, Cartola, Chico Buarque, Djavan, Lenine, Raul Seixas e Rita Lee. “Até Biquini Cavadão tem”, lembra Maestrini.
“KAFKA E A BONECA VIAJANTE”
Adaptação do livro homônimo de Jordi Sierra I Fabra. Direção: João Fonseca. Com Alessandra Maestrini, Carol Garcia, André Dias e Lilian Valeska. Desta quinta (5/10) a segunda-feira (9/10). Quinta, sexta e segunda, às 19h; sábado e domingo, às 17h. CCBB BH (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). Ingressos à venda por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) na bilheteria do teatro ou pela plataforma Eventim.
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