“Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”, diz o ditado iorubá, referindo-se à reinvenção do presente a partir do entendimento do passado – conceito ligado à diáspora africana.
O provérbio inspira a exposição “Desordenamento”, que a artista visual Rebeca Miguel apresenta no Centro Cultural UFMG, reunindo 38 quadros. Criado entre 2019 e 2023, o conjunto desloca mulheres de sua realidade para que elas possam simplesmente descansar.
“Volto ao passado e trago a minha criança para o presente. Sou eu trazendo a pequena Rebeca para o momento do agora, quando a essência dela pode existir e sua existência pode ser plena”, afirma Rebeca.
O título da mostra traz um paradoxo: como desordenar o caos, se já se trata de algo caótico? A artista explica: “'Desordenamento' nasceu de um incômodo. Nas obras, falo desta sociedade em que muitas coisas estão fora do lugar, embora, para grande parcela das pessoas, tudo está acontecendo como deveria acontecer.”
Desordenar o caos, diz, significa “dar dignidade àqueles que sofrem com o passado”.
Rebeca, de 25 anos, amava desenhar desde jovem e ouvia que deveria se arriscar no mundo da moda. Chegou a se matricular em um curso na área. “Percebi que a pintura me deixava mais livre para me expressar, então decidi deixar a moda para trás”, diz a estudante da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.
“DESORDENAMENTO”
Pinturas de Rebeca Miguel. Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174, Centro). De terça a sexta, das 9h às 20h; sábados e domingos, das 9h às 17h. Até 12/11. Entrada franca.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria