Cena de Ebounda

"Ebounda", sobre ritual traumático ao qual é submetida a menina do título, na República Centro-Africana, é um dos títulos do festival

FestCurtasBH/Divulgação

Desde 2017, os organizadores do FestCurtasBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte pretendiam montar uma edição que desse mais visibilidade aos filmes de mulheres latino-americanas. Com o avanço de pautas feministas e do debate a respeito do papel da mulher na sociedade, era natural que o festival acompanhasse esse movimento. Alguns esboços foram feitos, e, quando uma mostra especial já estava quase pronta, veio a pandemia. 

Agora, finalmente, a ideia saiu do papel. O 25º FestCurtasBH, que começa nesta quarta-feira (11/10), terá duas mostras com destaque à produção audiovisual de mulheres. “A gente poderia ter feito essas mostras no ano passado ou no anterior, mas nossa ideia era fazer em uma edição que fosse totalmente presencial”, conta a coordenadora de produção e curadoria do festival, Ana Siqueira.

As duas mostras serão apresentadas em paralelo com as tradicionais competitivas (Internacional, Brasil e Minas), nas quais os cineastas concorrem ao Troféu Capivara e A R$ 5 mil, e com as mostras paralelas (Outro duplo, Da fronteira ao urgente, Sessão maldita, Animação, Juventudes e Infantil), cujos diretores também concorrem ao Troféu Capivara e a prêmio conferido pelo júri popular (R$ 3 mil). 

Ao todo, serão exibidos 142 filmes nacionais e internacionais. Os curtas também estarão disponíveis na plataforma do Cine Humberto Mauro (cineHumbertoMauro/MAIS).

São filmes que contam uma outra história do cinema. Se a gente conhece pouco a história do cinema da América-Latina, o que dirá desse cinema feito por mulheres

Ana Siqueira, curadora do FestCurtasBH

 

Feminismo latino 

Uma das mostras especiais é dedicada ao cinema feminino da América Latina. Foram convidadas as curadoras peruanas Ivonne Sheen e Mónica Delgado. “Elas fizeram um trabalho incrível, que é intergeracional”, diz Siqueira.

“A Mónica, que tem mais décadas de carreira (em comparação com a Ivonne), pegou a primeira parte da mostra, que vai dos anos 1960 a 1990. E a Ivonne pegou dos anos 1990 até os dias de hoje. É uma conversa intergeracional pensando na história da América Latina a partir do olhar de duas curadoras mulheres e de cineastas mulheres”, comenta. 

O recorte, segundo Siqueira, traz diversidade de filmes e propostas, todas com forte engajamento estético e político - às vezes, mais discreto e, às vezes, mais evidente. 

“São filmes que contam uma outra história do cinema. Se a gente conhece pouco a história do cinema da América-Latina, o que dirá desse cinema feito por mulheres”, diz Siqueira. Ela observa que os quase 30 filmes dessa seção foram feitos por mulheres que tratam questões da vida íntima como alegoria para abordar a vida política de seu país de origem.

Entre os curtas de destaque está o peruano "Cargadores" (1971), de Joëlle de La Casinière. O filme acompanha o trabalho de carregadores de rua de Cuzco, definidos no curta pela diretora como “seres humanos que transportam nas suas costas uma enorme trouxa com todas as tristezas do mundo”, e que se confundem com a massa de objetos que transportam.

A segunda mostra especial é dedicada à obra da cineasta e artista multimídia Cauleen Smith. Reunindo desde os primeiros curtas produzidos por ela, na década de 1990, até os trabalhos mais recentes, a mostra traça um retrospecto da carreira da estadunidense, que virá à capital mineira durante o festival para participar de sessões comentadas e performance inédita. 

Ela ainda aproveita o FestCurtasBH para apresentar pela primeira vez no Brasil “Space station: A rock in a river”, instalação que ocupará a Galeria Mari’Stella Tristão, no Palácio das Artes, com acesso gratuito; e a versão remasterizada de “Drylongso” (1998), curta que acompanha um jovem estudante de fotografia negro que lida com questões de raça, gênero e identidade.

“Cauleen é uma artista multidisciplinar. É alguém que está na galeria, no museu, está produzindo disco. A gente tinha vontade de olhar para a produção dela de uma forma mais dedicada ao trabalho completo dela para entender essa multiplicidade de práticas”, diz Siqueira.

Em 2019, Cauleen inscreveu o filme “Sojourner” no FestCurtas BH e conquistou o prêmio oficial do júri na ocasião. “Trazê-la é uma forma de recuperar esse cinema de minorias, que, por conta dessa situação específica de quem produziu, sofre mais com a falta de circulação e de preservação”, afirma Siqueira. 

25º FESTCURTASBH

Desta quarta (11/10) a 22/10, entre 15h e 21h, no Cine Humberto Mauro, na Sala Juvenal Dias, no Espaço Mari'Stella Tristão e na Galeria Aberta Amilcar de Castro, do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). (31) 3236-7400. Entrada franca. Programação completa em: festcurtasbh.com.