Cinema falando de cinema. A metalinguagem ajuda a descrever o documentário "Nelson Pereira dos Santos – vida de cinema". O filme explora a obra e o legado de um dos maiores cineastas do Brasil, dirigindo clássicos como ‘Rio 40 graus’, ‘Vidas secas’ e ‘Memórias do cárcere’. O longa, que foi destaque na mostra Cannes Classic do Festival de Cannes, teve sua sessão inaugural nessa terça (10/10), no Festival do Rio.
A história de Nelson Pereira dos Santos é contada pelas diretoras Aída Marques e Ivelise Ferreira, viúva do cineasta. “A gente trabalhou neste filme na época da pandemia, e, nos oito meses de isolamento, a única pessoa que me fez companhia foi o Nelson, de dentro da tela do meu computador. Muitas vezes parecia que ele tava ali comigo e a gente conversando como sempre era. A gente foi muito amigo, além de casados”, relembra Ferreira. Considerado pai do Cinema Novo, Nelson Pereira dos Santos faleceu em 2018.
Apesar da história ser de Nelson e contada por ele, por meio de imagens de arquivo, Ivelise conta que o filme também tem muito dela “A gente fazia tudo junto; Então, fazer esse filme também é um pouco de mim, porque eu conhecia muito a história dos filmes dele, mesmo os filmes que eu não trabalhei com ele, que eu não conhecia ou nem era nascida. É uma proximidade muito grande com Nelson”, define.
O cineasta produziu filmes ao longo de seis décadas e foi um dos responsáveis por colocar o cinema brasileiro no radar do mundo inteiro. Então, para falar de um nome tão importante, nada melhor que o próprio Nelson para relembrar os principais momentos, com narração em primeira pessoa. Para colocar o projeto em prática, a equipe reuniu um material de mais de 80 horas de gravação, de diferentes momentos da carreira do diretor.
“Descobrimos verdadeiras preciosidades, como as imagens inéditas do início dos anos 60, quando Nelson era jovem, além do making of de ‘Juventude’, o primeiro filme que Nelson fez”, aponta Ivelise.
Quem foi Nelson Pereira dos Santos
Nelson foi o primeiro cineasta brasileiro a se tornar membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a sétima cadeira da ABL entre 2006 e 2018. Sua história se confunde com a do cinema nacional e, até hoje, segue influenciando novos talentos.
Presente na premiére do filme, o diretor Walter Salles lembrou o trabalho do amigo. “Nelson é um mestre maior do cinema e não só do cinema brasileiro. Eu acho que ele deu régua e compasso pro Cinema Novo, junto com Glauber Rocha e com todos os outros craques que vieram atrás deles. Nelson foi também um farol para minha geração e para mim em particular. Eu tive um privilégio de estar perto dele em alguns projetos, que foram inesquecíveis”, resume.
Já emocionado antes mesmo de o filme começar a ser exibido, Salles conta que o documentário é uma forma de manter Nelson mais próximo. “Eu vim aqui matar um pouquinho da saudades dele e saber que, a cada filme brasileiro que nasce, tem um pouco de Nelson Pereira dos Santos em algum momento, de alguma forma. É um ecoar incessante na obra dele, que continua até hoje muito fortemente. E era uma pessoa adorável. Então eu era apaixonado por ele”, define.
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