Maria Clara Strambi tinha apenas cinco anos, quando ela fez sua primeira publicidade. Ao perceber que a filha gostava dos holofotes, a mãe da então pré-adolescente pediu para que a filha se dedicasse à sua verdadeira paixão: atuar. Formada há cerca de um ano em Teatro e já tendo experiência em cinema, a atriz faz agora sua estreia na TV: ela dá vida a Ariane, na série ‘João sem Deus’, produção da Ventre Studio que estreia na sexta-feira (13/10) no Canal Brasil e na Globoplay.





A obra de três episódios foca na luta das vítimas das violências sexuais cometidas pelo médium João de Deus. A história gira em torno das irmãs Cecília e Carmem, interpretadas por Karine Teles e Bianca Comparato, respectivamente, que se reencontram após as denúncias contra o religioso começarem a ser divulgadas e entram em conflito sobre o homem ser ou não um criminoso. 

Ariane é filha de Carmem. É uma adolescente que nasceu e cresceu em Abadiânia, no entorno do Distrito Federal, onde o religioso era tido como o poderoso milagreiro. Se no começo a jovem é apenas uma adolescente como outra qualquer, ao longo da história, Ariane passa a ser perceber como mais uma vítima de João de Deus.

Com muita carga dramática, Maria Clara traz um crescimento linear para a personagem, o que exigiu muita preparação, como a própria atriz contou ao Estado de Minas. Confira o bate-papo.

Estado de Minas: Primeiro, meus parabéns pela série, que é seu primeiro trabalho na TV. O que você sentiu quando viu a série pronta?
 
Primeiro, obrigada. Eu estava com muito medo, porque é o primeiro trabalho e já estava contracenando com pessoas que eu sempre admirei e acho a responsabilidade grande pelo próprio tema. Mas acho que a condução da Marina Person (diretora) e do set como um todo transpareceu no resultado final, então eu fiquei muito feliz com que eu assisti.





EM: Sua personagem, Ariane, tem uma carga muito forte,que vai crescendo ao longo da história. Como que foi começar nessa inocência da personagem que tá ali só querendo ser uma adolescente normal e se vê no meio desse caso tão chocante?
 
 Eu sempre gosto de pensar que, quando a gente está fazendo um trabalho de atriz, é quase como se no começo do seu trabalho já estivesse contido o fim dele. Então, você tem uma uma responsabilidade de construir a trajetória de uma forma que ela faça sentido. Não posso começar de um jeito e, de repente, a personagem mudou e teve uma grande virada de chave. Desde o início isso já tinha chamado atenção. Ela já tinha uma angústia, já tinha essas perguntas sem resposta, porque tudo começa a acontecer muito rápido. É uma personagem que vê a família dela ruindo, toda a realidade dela ruindo.

Onde ela nasceu, onde ela cresceu ruindo. E tudo isso durante a adolescência, que é um período muito complexo e cheio dúvidas, em que a gente começa a se questionar sobre quem a gente é que a gente começa a questionar os nossos pais, né? Então, acho que tudo isso é uma demanda psíquica muito grande para essa personagem. Foi muito importante ter esse incômodo, como se a pessoa não estivesse incomodada. Mas ela sempre sabe, ainda mais porque ela via que tinha alguma coisa estranha, mas ela não sabia o que era, não falavam para ela o que era isso; São muitas emoções ali para ela dar conta, né?

EM: Antes da série, você já fez um filme do Helvécio Ratton chamado o ‘Lodo’. Qual que foi aí a principal diferença na construção da personagem Ariane e do filme do Ratton?
 
Eu acho que o filme do Ratton tem uma característica que é ter pouquinhas cenas. Era outro contexto de construção. Aqui foi a primeira vez que eu tive de fato uma uma construção de personagem mesmo, né? Uma narrativa e tudo mais. Então, eu tive que fazer escolhas, né? Porque você sempre pode. E eu acho que junto com a Marina e também dentro do contexto familiar ali com a Bianca e com a Karine, principalmente que é com quem eu mais contraceno aí na série, a gente foi desenhando essa essa menina. 

Tem toda uma questão dela ter nascido e crescido em Abadiânia. Mas ela não se sente pertencente, né? É uma menina que tá ligada nas redes sociais, ela tá sempre com o celular. A gente foi construindo várias coisas que, ou já tinha no roteiro ou a gente foi colocando, que foram tornando a personagem concreta.





EM: Você começou a carreira bem pequenininha na publicidade. Como foi essa transição? Quando é que você sentiu que você queria atuar?
 
Então, eu comecei fazendo publicidade com 5 anos, né? Daí eu tive um período ali de 5 aos 10 anos que eu fazia bastante. E aí minha mãe falou ‘chega, vai estudar menina, você é uma criança’. E eu fui, diz aula  de teatro mesmo, porque eu acho que ela percebeu que era uma coisa que eu gostava muito . Eu nunca parei de fazer teatro e aí quando eu tinha uns 15- 16 anos, eu me encontrei com audiovisual nesses estudos e descobri uma grande paixão. 

Eu gosto muito do cinema, do audiovisual como eu gosto do teatro. Eu sou formada em teatro, e tenho um grupo de teatro. Então eu tenho muito esse background do estudo na cena, né? Fiz alguns curtas e tudo mais e aí enfim. E aí ano passado veio essa essa oportunidade. Foi um grande presente, foi o melhor primeiro trabalho possível.

 e como é que foi é você receber um convite para o teste? Como é que foi esse teste Cara essa história é muito bom, porque eu fiz eu eu fiz o teste recebi o primeiro teste, né normal ali com algumas informações e nisso eu já falei nossa incrível.





Quero muito fazer né, aí passou um tempo eu falei. Ah tá passou né, só mais um e tal e a gente passa por isso de não ter resposta muitas vezes, né no nosso trabalho então se a gente meio que acostuma você esquece vai seguir sua vida e aí uns meses depois é me chamaram para o segundo teste presencial, eu tinha feito um self, tape. E aí nesse segundo teste conheci a Marina. Eh, a gente fez uma leitura e já nesse já nesse dia logo depois ela falou que tinha rolado e eu não sabia não sabia quem eram as pessoas que iam fazer eu tipo tava lá, né? Fui fazer um teste.

EM: Você disse que nunca passou por uma situação de abuso e assédio. Para você, como foi se colocar como uma pessoa que passou por essa situação, mesmo não tendo essa vivência?
 
Eu pessoalmente não me lembro de ter vivido, mas eu sou mulher, né? Quantas amigas a gente não tem, quantas pessoas na nossa família a gente não tem que passam por uma dessas coisas? É uma coisa muito próxima da gente. Quando a gente faz uma personagem dessa, a gente tá carregando muitas mulheres com a gente. 

EM: Tem algum ator ou atriz dos sonhos que você gostaria de contracenar?
 
Quando fiz o teste para a personagem, eles pediram para eu falar minhas referências, né? As atrizes que eu mais admirava e tal e eu falei a Karine Teles  sem saber que ela estava no elenco. Era um grande sonho mesmo. É  uma atriz que eu sempre admirei desde a minha adolescência assim, mas tem muita gente, né? Eu acho que posso citar a Andreia Beltrão, a Maeve Jenkins, a Fernanda Torres… Tem muitas mulheres que eu tenho muita vontade de trabalhar, porque são pessoas que a gente vê que tem uma responsabilidade muito grande com o trabalho artístico e esse é o tipo de trabalho com o qual quero me comprometer.

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