O ritmista mineiro Tulio Araujo lança seu sexto álbum, “Awerejê” (Blue Cave Records), cujas nove faixas colocam o pandeiro a serviço de clássicos do jazz. Os arranjos são assinados por Felipe Vilas Boas e Deangelo Silva, que também gravaram guitarras, pianos e sintetizadores.
Tulio conta que o termo “pandeiro jazz” foi criado pelo nova-iorquino Scott Feiner. “Ele tocou com grandes feras do jazz na década de 1990. Veio para o Brasil por volta de 1999, se apaixonou pelo pandeiro, largou tudo e começou a brincar com esse instrumento. Ficamos amigos e ele se tornou minha grande referência quando comecei”, diz.
“Desde 2000, eu tinha o ímpeto de fazer coisas diferentes com o pandeiro, porém sentia que estava nos lugares errados. Eu tinha uma banda de samba e forró, mas não era ali que deveria fazer isso”, comenta. “Quando ouvi ‘Dois mundos’, disco do Scott, por volta de 2007, fiquei chocado no bom sentido.”
O instrumentista americano morreu no início de 2023. “As pessoas começaram a me dizer: ‘Olha, agora a estrutura do pandeiro com jazz está com você’. Senti ali a pressão da responsabilidade”, revela Tulio.
Com cinco discos lançados, o mineiro finalmente decidiu fazer o seu álbum de “pandeiro jazz”. Convidou Felipe Vilas Boas e Deangelo Silva para acompanhá-lo. “Eram as pessoas certas. Eu precisava de gente que tivesse tecnologia e fosse boa de arranjo. Não queria pegar os temas do jeito que são e simplesmente transcrever as baterias. A ideia era achar um lugar para o pandeiro”, explica.
Ele partiu, então, para buscar o repertório que lhe tocasse emocionalmente. “A ordem das músicas no disco segue a cronologia das datas em que foram gravadas. Começa com a década de 1930, quando o jazz aparece e é formatado nos Estados Unidos, vai passando pelo bebop da década 1940, até terminar nos anos 1970 e 1980”, detalha o pandeirista.
Centro espírita
Tulio tentou fazer com que o pandeiro soasse como tambores de candomblé. O mineiro conhece esse universo, pois tocou tambor no centro espírita da avó e sempre teve conexão com os ritmos africanos.
“Jazz é a música de resistência do povo preto norte-americano. Tem origem também nos tambores africanos. Foi a minha ponta de convergência com esta música pela qual sou apaixonado”, afirma.
Juntaram-se ao projeto de Tulio Araujo os músicos Bruno Vellozo, Yan Vasconcelos, Mariah Carneiro, Jorge Continentino, Evan Megaro, Larissa Umaytá e Henrique Azul, do Berimbaucomtudo.
“Talvez o brasileiro não se sinta tão próximo do jazz, porque acha que é mais um repertório. Ele está acostumado a associá-lo a Miles Davis, John Coltrane, Duke Ellington, aos grandes nomes. Na verdade, nem o Scott nem eu, que estou segurando a bandeira agora, paramos para gravar o repertório de jazz com pandeiro”, admite.
Mas com “Awerejê” esta história mudou. E o pandeirista avisa que o show de lançamento do álbum ocorrerá em 2 de dezembro, no Clube de Jazz do Café com Letras, em Belo Horizonte.
“AWEREJÊ”
Álbum de Tulio Araujo
Nove faixas
Blue Cave Records
Disponível nas plataformas digitais