Era uma vez um jovem que ousou acreditar que podia fazer tudo o que sonhasse, e assim, cem anos depois, sua empresa se tornou um império. The Walt Disney Company comemora seu centenário nesta segunda-feira (16/10) consolidada como o maior conglomerado de entretenimento do mundo.
Muito além das animações que fizeram a Disney famosa, a companhia engloba estúdios, rádios, canais de TV, jogos, serviço de streaming, resorts, cruzeiros, parques temáticos e infinitos produtos licenciados. Todas essas atividades são perpassadas pelo objetivo de proporcionar uma experiência guiada pela emoção do consumidor.
A capacidade de entender que a fidelização dos clientes através dos sentimentos fez com que a empresa se tornasse, para além de um patrimônio avaliado em US$ 155 bilhões, capaz de influenciar comportamentos e criar ideais nos mais variados campos sociais. Ao longo dos últimos cem anos, diversas gerações sonharam em encontrar a fada madrinha, copiaram os vestidos das princesas, consumiram toneladas de produtos ou fizeram festas temáticas.
Não por acaso, nos últimos anos a Disney tem se esforçado para se adequar à crescente conscientização da sociedade a respeito da importância de promover a diversidade e a inclusão para manter seus domínios. Apesar do ano permeado por crises, a Walt Disney Company é dona de uma trajetória de peso, tema de livros e estudos, que mostra que resiliência e magia andam juntos na terra do Mickey.
O início de um sonho
Walter Elias Disney nasceu em Chicago em 1901, mas logo a família se mudou para Marceline, no Missouri, cidade que inspirou a entrada dos parques que construiria na vida adulta. Teve uma infância humilde, entrando para o ramo da animação em 1920 e pouco tempo depois fundou sua primeira empresa, a Laugh-O-Gram Films, que faliu em 1923.
Walt teve que sair de seu apartamento e morar no estúdio, período no qual mal se sustentava, até que viajou para Los Angeles, Califórnia, para encontrar o irmão mais velho, Roy Disney, que estava hospitalizado.
Walt fundou a Disney Brothers Cartoon Studio em 16 de outubro de 1923 em parceria com Roy na garagem de um tio em Los Angeles. Ali criou as primeiras animações: a série Alice Comedies (1923), na qual uma atriz mirim interagia com personagens animados, e Oswald, o coelho sortudo (1927). Ambas fizeram certo sucesso na época.
Entretanto, uma vez que as animações do Oswald eram feitas sob encomenda para a Universal Pictures, por uma questão contratual, a distribuidora detinha os direitos autorais da obra, forçando Walt a ceder a autoria do personagem. Em seguida, contratou quatro animadores e fundou seu próprio estúdio, que passou a se chamar Walt Disney Studio, garantindo que deteria todos os direitos autorais de suas criações. Na nova configuração do estúdio, Roy era responsável pelo setor financeiro, Iwerks pelos desenhos, enquanto Walt cuidava da produção e direção das animações.
Foi ali que, em 1928, Walt e o desenhista Ub Iwerks criaram o que seria o maior símbolo da Disney: o Mickey Mouse. O camundongo estreou no curta Steamboat Willie (1928), e não demorou para ganhar uma namorada, Minnie Mouse (1928), um cachorro, Pluto (1930), e os amigos Pato Donald (1931), Pateta (1932), e Margarida (1940).
Primeiras animações
Com o sucesso das primeiras animações, o grande investimento do Walt Disney Studio foi a aposta na produção do primeiro longa-metragem animado da história de Hollywood. Inicialmente, os curtas de animação eram apresentados nas seções de cinema antes do filme principal, para entreter o público, logo, a ideia de fazer do desenho o filme principal era considerada loucura.
Mas Branca de Neve e os sete anões, lançado em dezembro de 1937, foi um sucesso, com direito a aplausos de pé no lançamento. A obra quebrou o recorde de arrecadação em 1938, ano que ganhou um Oscar honorário pela importância de sua inovação no setor audiovisual. Walt recebeu uma estatueta em tamanho normal acompanhada de outras sete miniaturas, em alusão à princesa e aos sete anões.
Assim, teve início a Era de Ouro da Disney, que conta com os clássicos Pinóquio (1940), Fantasia (1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942).
"Alô amigos"
Entretanto, com o avanço da Segunda Guerra Mundial, a Disney se viu na necessidade de adequar as animações ao contexto que os espectadores viviam na realidade. Assim surgiu animações como A Face do Fuehrer (1943), curta-metragem anti-nazista no qual Donald vive em uma distopia e se vê forçado a trabalhar em uma fábrica de projéteis para Hitler.
A obra contém uma clara propaganda do “american way of life” (estilo de vida americano), ao mostrar Donald abraçando uma réplica da Estátua da Liberdade e declarando “Estou muito feliz em ser um cidadão dos Estados Unidos da América” quando descobre que tudo não passava de um pesadelo.
Também nessa época a Disney criou os personagens Zé Carioca (1942) e Panchito (1944), representando o Brasil e o México respectivamente, em uma promoção da política da boa vizinhança. As animações Alô Amigos (1942) e Você já foi à Bahia? (1944) retratam de forma lúdica a geopolítica dos anos 40, na qual os EUA buscavam criar laços de amizade com a América Latina com objetivos estratégicos e econômicos através da expansão do mercado externo para seus produtos.
Disney vira uma empresa de entretenimento
Passado o período de guerra e com a economia nos Estados Unidos prosperando, os estúdios voltaram a produzir histórias de contos de fadas, como Cinderela (1950), Alice no País das Maravilhas (1951), Peter Pan (1953) e A Bela Adormecida (1959).
Com a empresa crescendo cada vez mais, Walt se entregou a mais um sonho, que também foi considerado loucura: A construção de um parque de diversões. Roy foi categoricamente contra o projeto, mas Walt criou a empresa WED Enterprises e seguiu com o empreendimento. Walt juntou uma equipe de artistas, arquitetos e engenheiros e deu o nome de “imagineers” (junção de imaginação e engenheiro em inglês) e deu asas à imaginação.
Para juntar o dinheiro necessário, Walt fez da televisão sua aliada e tornou-se o primeiro produtor a criar filmes especialmente para a TV. A Disneyland, localizada em Anaheim, na Califórnia, foi inaugurada em 17 de julho de 1955.
Naquele momento, Disney estava revolucionando o conceito de parque de diversões. Com um enorme castelo no centro de tudo, ele criou um espaço onde pais e filhos pudessem se divertir em segurança. A atenção aos detalhes foi desde o paisagismo até os funcionários, treinados para serem corteses e carismáticos o tempo todo. Além disso, era um lugar onde as crianças poderiam encontrar seus personagens preferidos e fazer o mundo da imaginação se tornar realidade.
A perda do alicerce
O período entre 1970 e 1988 ficou marcada como A Era das Trevas da Disney. Walt Disney fumou durante grande parte da vida, o que levou a um câncer de pulmão e a sua morte em 1966. Com a perda da personificação de tudo o que a empresa representava, a magia do estúdio pareceu esvanecer. Para dificultar mais o cenário, a Disney perdeu outro pilar com o falecimento de Roy Disney em 1971.
Com os animadores criando sem a supervisão de Walt, o estúdio criou uma série de animações melancólicas ou com visual mais sombrio e teve dificuldade de emplacar boas bilheterias. O uso da xerografia para baratear o custo das produções custou a qualidade do acabamento dos desenhos.
Um dos exemplos mais marcantes foi O Caldeirão Mágico (1985), que quase levou a Disney à falência. O filme era o mais sombrio e violento criado pela Disney, além de não contar com nenhuma canção, destoando da imagem que o estúdio havia construído até então. Com o investimento de US$ 40 milhões, o filme faturou apenas US$ 21,3 milhões.
Com o prejuízo, a empresa foi forçada a se mudar para um local menor e investir em animações de baixo orçamento e com roteiros sem grandes inovações, focados no entretenimento de toda a família.
Com o novo foco, a Disney voltou a brilhar e foram criadas animações de grande sucesso, como A Pequena Sereia (1989), A Bela e a Fera (1991), Aladdin (1992) e O Rei Leão (1994).
Era atual
Consolidada mais uma vez no mercado das animações, a Disney concentrou-se em expandir suas atividades. Walt Disney Company atualmente opera três segmentos de negócios principais: A Disney Entertainment, responsável pela produção de conteúdos nas diversas plataformas, A ESPN, focada na distribuição de conteúdo voltado para esportes, e a Disney Parks, Experiences and Products, responsável pelos 6 complexos de parques pelo mundo, pela rede de cruzeiros, resorts e produtos comerciais.
Em 1996 a companhia adquiriu o canal de TV americano ABC, e entre 2009 e 2019 foi a vez das aquisições da Pixar Animation Studios, que até então era uma parceria, da Marvel, estúdio responsável por realizar as versões cinematográficas dos quadrinhos da editora de mesmo nome, da Lucasfilm, responsável pela franquia Star Wars e da 21st Century Fox, entre outras.
A Disney também possui o serviço de streaming Disney+ e a desenvolvedora de jogos Playdom. Além disso, desenvolve projetos de educação, publicação editorial, arquitetura e filantropia.