o poeta Guilherme Mansur

O poeta e tipógrafo Guilherme Mansur, morto no último dia 27, criou, entre outras ações, a chuva de poesias, realizada em Ouro Preto durante o Fórum das Letras

Lucas de Godoy/Divulgação

“Guilherme Mansur virou estrela (...) tenho tanto a dizer sobre ele que só caberia em um livro”, publicou a professora e curadora de eventos literários Guiomar de Grammont, quando o poeta e tipógrafo morreu, no último dia 27 de setembro, de pneumonia. 

memória do poeta mineiro será homenageada na décima oitava edição do Fórum das Letras, evento promovido pela Universidade Federal de Ouro Preto, a partir desta quarta-feira (18/10). A poeta fluminense Cecília Meireles (1901-1964) é a outra homenageada do festival, cuja programação vai até sábado (21/10), na cidade histórica mineira. 

Cofundador do Fórum, Mansur foi responsável pela realização de diversas exposições e intervenções no festival literário, além de ter sido o criador de sua logomarca. “Para nós foi muito doído o falecimento dele. O Guilherme era muito especial. Sabe essas pessoas sem reposição no mundo? Ele era uma pessoa de criatividade constante, cheio de humor, brincadeira e fantasias. A perda dele abriu um buraco no coração de todos nós”, diz Guiomar

Com o tema “Materialidades da poesia”, a programação do Fórum contará com debates, exposições, espetáculos, oficinas para crianças, peça de teatro e, claro, a famosa chuva de poesias criada por Mansur. Durante a ação, realizada do alto das torres das igrejas de Ouro Preto, milhares de folhas de papel colorido com tipografias especiais são lançadas ao vento e lotam os pátios de poemas. 

a professora Guiomar de Grammont

a professora Guiomar de Grammont

Antônio de Souza/Divulgação

"O Guilherme (Mansur) era muito especial. Sabe essas pessoas sem reposição no mundo? Ele era uma pessoa de criatividade constante, cheio de humor, brincadeira e fantasias. A perda dele abriu um buraco no coração de todos nós"

Guiomar de Grammont, professora e curadora do Fórum das Letras


Mesas 

“Neste ano, trabalhei a curadoria de uma forma muito compartilhada, eu encontrava pessoas e pedia para elas proporem mesas. Todos os autores que me procuraram querendo participar estão na programação. É um evento que acolhe as manifestações de todos que querem se integrar de alguma maneira a essa festa”, diz a curadora. 

As mesas debaterão temas como o cenário da produção literária contemporânea no país, a oralidade e a poesia afrobrasileira e afrocolombiana, as dimensões materiais da palavra e os desafios enfrentados pelos editores independentes. 

Um dos destaques será o encontro entre Bruno Meyerfeld (correspondente do diário francês “Le Monde” no Brasil), o jornalista Leonardo Sakamoto e o escritor Ricardo Lísias, previsto para sábado. A mesa abordará os dilemas da democracia em tempos de redes sociais, com mediação do professor da UFOP Mateus Pereira. 

Sobre a homenagem a Cecília Meireles (1901-1964), que Guiomar de Grammont classifica como “uma das maiores poetas brasileiras da história”, ela explica que se deve ao fato de que neste ano o "Romanceiro da Inconfidência", uma de suas obras mais célebres, completa 70 anos. 

“Cecília foi sobretudo uma poeta que se dedicou muito a cantar Ouro Preto. A cidade foi uma musa inspiradora para ela. O ‘Romanceiro’ é uma obra máxima da literatura brasileira e foi uma homenagem gigantesca à nossa cidade e ao que ele representa na história do Brasil”, diz Guiomar. 

O livro será tema de debate na quinta (19/10), no Anexo do Museu da Inconfidência, em mesa com os poetas e pesquisadores Breno Fonseca, Denilson de Cássio Silva e Simone Andrade Neves, mediada por Daniela Laubé. 

O Fórum promoverá também a exibição do curta "Vagas absolutas", de André Rocha, sobre um encontro realizado em Ouro Preto para festejar os 121 anos de nascimento de Cecília Meireles.

O evento promoverá quatro exposições: “A viagem das garrafas", de Adriana Versiani, no restaurante Bené da Flauta; “La maison de Clarice”, que esteve em cartaz na sede da Academia Mineira de Letras, em BH, desembarca na Casa dos Contos; também na Casa dos Contos o público poderá visitar duas mostras em homenagem a Guilherme Mansur: “Cantando a pedra”, com curadoria de Gelcio Fortes, com obras do poeta, e "Rezas & escadas”, do coletivo de fotógrafos Olho de Vidro, do qual Guilherme era integrante. 

Guiomar de Grammont aponta uma melhora significativa nos investimentos no evento, que sofreu com a falta de recursos nos últimos anos. “Nesta edição, a universidade pôde nos apoiar muito mais do que no ano passado, quando só tivemos o auxílio de bolsas”, observa.

“Por isso mesmo que neste ano a gente pode trazer autores de grande importância. Realmente estava havendo antes um esforço de extinção da universidade pública e, agora, no governo Lula, nós estamos assistindo a um esforço de fortalecimento do ensino público e gratuito, o que é fundamental em um país com tantas desigualdades, como é o caso do Brasil.” 

18º FÓRUM DAS LETRAS
Debates, exposições, espetáculos, oficinas para crianças. Desta quarta (18/10) a sábado (21/10), no Anexo do Museu da Inconfidência (Praça Tiradentes, 139 - Centro Histórico, Ouro Preto) e na Casa dos Contos (Rua São José, 12 - Centro, Ouro Preto).  Entrada franca. Programação completa no site do festival.

*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes