“O Hamilton de Holanda acertou. É bom você ter uma obra assim e ele focou em trazer a visão dele, mas sem deixar de ser a obra. A cada participação, eu vejo o quanto está mais próxima de mim, do ponto de vista da minha visão das músicas. E o ponto de vista dele está ali, em todos os detalhes. O ritmo é um dos elementos mais importantes da música.” – Djavan.
Hamilton de Holanda é, há algum tempo, o instrumentista brasileiro de maior presença no exterior. Em carreira solo há 20 anos, o músico lançou 30 discos e é detentor de vários prêmios. Em seu projeto mais recente, porém, reverente, Hamilton celebra a obra de um dos mestres da MPB no álbum “Samurai – A música de Djavan” (Sony Music).
Ao passear por um repertório de 12 composições, o bandolinista tem contato com a diversidade da obra do artista alagoano. Em cinco faixas, ele conta com a participação de convidados, e em duas tem a companhia do homenageado. Djavan solta voz em “Luz” e “Lambada de serpente”. O uruguaio Jorge Drexler interpreta “Lilás”; Gloria Groover potencializa a faixa título; o pianista cubano Gonzalo Rubalcaba exibe talento em “Irmã de neon”. A saxofonista norte-americana Lakacia Benjamin participa em “Samurai”; e a indiana Varijashree Venugopal, que toca flauta, e Isa, a voz, em “Oceano”. Já o pianista brasileiro Salomão Soares marca presença em “Capim”.
O que o levou a dedicar um álbum ao legado de Djavan, esse mestre da MPB?
Veio de uma gratidão, o ano era 2004, quando ele me recebeu no estúdio dele. Eu me senti também maduro para entrar na linguagem, no tipo de linguagem da música dele, que é uma música que tem várias caras, vamos dizer assim, né? Tem a parte mais groovada, mais pop, tem a outra mais romântica, mais nordestina de Luiz Gonzaga, brejeira. Tem também uma ligação com o jazz. Antes, havia gravado dois discos de composições autorais. Um deles, inclusive, me deu o Grammy Latino. Então, eu me senti bem maduro para encarar o desafio.
Que avaliação faz do trabalho do cantor e compositor alagoano?
Eu acho o Djavan um compositor único, porque ele conseguiu juntar vários talentos. De tocar muito bem, cantar muito bem, escrever poesia bem, saber de harmonia no violão. Tem muitas qualidades que fazem com que a arquitetura da música dele seja muito específica e praticamente música clássica, uma música que tem muitos detalhes. Ela tem essa popularidade, ela tem esse ar de música popular que todo mundo gosta e que canta, que dança. E, ao mesmo tempo, é cheia de detalhes na construção, seja da melodia, da harmonia, que fazem uma obra única e que está entre os maiores compositores da música brasileira. Ou seja, homenagear o Djavan é homenagear a música brasileira.
Como foi para você a participação de Djavan?
O Djavan não podia faltar, né? Mostramos as músicas para ele e sugerimos duas, “Luz” e “Lambada de serpente”. E ele adorou, até agradeceu, pois fazia tempo que não as cantava, “Luz”, principalmente. E ficou feliz de reencontrar a música no estúdio.
E quanto aos outros participantes?
O critério foi uma coisa meio afetiva. Cada um teve uma história.
Em relação ao repertório, o que levou a escolher essas 12 canções?
Também foi uma questão afetiva. A ligação das músicas com o bandolim; melodias que caíssem bem no bandolim, para interpretar de uma maneira que mantivesse a questão artística do autor. E, acima de tudo, um desapego. Porque, desde o começo, eu pensei: 'não vou conseguir gravar tudo'. O Djavan tem um repertório imenso, maravilhoso. Então me desapeguei e fui nas músicas que pudessem manter a essência do autor, além de mostrar as várias faces do compositor.
De que forma o homenageado recebeu a celebração?
Pelo que ouvi e senti, ele gostou muito. Ficou contente e comentou que aquele disco parecia ter sido feito na casa dele, pela conexão com a música dele. Durante a audição, sorria, batucava junto e, enfim, elogiou. E, acima de tudo, se disse muito honrado.
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