O cineasta alagoano – embora esteja radicado em Recife há algum tempo – Jonathas de Andrade e o músico pernambucano Homero Basílio começaram a trabalhar juntos em 2019, na produção do curta “Jogos dirigidos”. Jonathas precisava de alguém para desenvolver a trilha sonora de seu filme. Homero era essa pessoa.
Ao contrário do que normalmente ocorre nessas produções, Homero convidou Jonathas para visitar uma loja de instrumentos artesanais e lá ia apresentando ao cineasta, leigo no assunto, o que planejava usar na trilha, mostrando a sonoridade de cada uma.
“O Homero faz a música se tornar um personagem do filme”, elogia o diretor. “No resultado final, fez a música assumir um aspecto real do que está sendo vivido na tela”, continua.
A sinergia entre os dois deu tão certo que, em 2021, quando Jonathas estava rodando “Olho da rua”, curta feito somente com moradores de rua de Recife e que estreou no ano seguinte na Bienal de Veneza, chamou novamente Homero para assinar a trilha.
O resultado chamou a atenção dos críticos. “Nós recebemos um convite para fazer um cine-concerto do filme”, lembra Jonathas. Esse foi o insight para a dupla escrever “Olho da rua: O livro da música do filme”, livro que conta a história do curta por meio da trilha sonora e que será lançado em Belo Horizonte neste sábado (21/10), na Quixote Livraria, pela editora Impressões de Minas.
Dividido em “atos”, o livro começa apresentando os instrumentos utilizados por Homero. São, em sua maioria, desconhecidos do público em geral, como os cocos do pará – conjunto de quatro cocos da castanha-do-pará com tamanhos variados e escala única de notas –, os ganzás de madeira – chocalho que produz som agudo de característica única –, ou a ocarina – uma flauta de barro, arredondada, de origem mesopotâmica cujo som se parece com o de um apito.
Nos atos seguintes, a dupla seleciona cenas do filme para comentá-las por meio da trilha. “O drama provocado pelo prato chinês é quebrado drasticamente para uma sensação de leveza que inicia o ato". É assim que os autores narram a cena em que os moradores de rua se contemplam em frente a um espelho em uma praça.
Sobre a cena em que um grupo de pessoas dorme debaixo de uma árvore depois de comer, Jonathas e Homero escrevem: “Um sino e duas maracas seguem alguns gestos do elenco e a moringa entra como uma textura, fazendo um ritmo bem espaçado e lento… Com o sol baixo, à sombra das árvores, os participantes do banquete se deitam, conversam, dormem”.
“Inicialmente, a ideia era fazer um songbook”, revela Homero. “Eu queria uma coisa pensada para o músico, uma edição apenas pra tocar. E acabou que (o livro) se transformou nesse conjunto maravilhoso”, acrescenta.
A ideia de contemplar os músicos, contudo, não foi deixada de lado. “Olho da rua: O livro da música do filme” traz também partituras para que os músicos executam as canções mencionadas. O livro vem dentro de uma caixa impressa em serigrafia. O box conta ainda com anotações teatrais e um pôster mostrando os instrumentos utilizados na trilha sonora.
Sessão no Inhotim
O curta “Olho da rua” será exibido neste domingo (22/10), às 14h30, no Espaço Igrejinha do Instituto Inhotim (Rua B, 20 Fazenda Inhotim, Brumadinho). Em formato de cine-concerto, a sessão conta com apresentação ao vivo da trilha sonora, executada pelos músicos Homero Basílio, Emerson Rodrigues e Antônio do Rego Barreto Filho. Ingressos à venda por R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia) na bilheteria do museu ou pelo site do Sympla. Informações: inhotim.org.br.
“OLHO DA RUA: O LIVRO DA MÚSICA DO FILME”
• De Jonathas de Andrade e Homero Basílio
l Editora Impressões de Minas
l 85 páginas
l R$ 90
l Lançamento neste sábado (21/10), das 11h às 14h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). Entrada franca. Informações: (31) 3227-3077 ou pelo @quixotelivraria, no Instagram.
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