O universo dos quadrinhos na cultura pop constrói heróis e vilões. Ele nos ajuda a pensar sobre o que é extraordinário no ser humano. A primeira advogada do Brasil propôs a modernização das leis do Estado antes mesmo da criação do Supremo Tribunal Federal (STF). Era Esperança Garcia. Ela morou no interior do Piauí no século 18, teve pelo menos um casal de filhos, ia à missa aos domingos, quando podia, enquanto seus direitos eram cerceados pela escravidão.
Agora, é possível testemunhar a história da jurista nas páginas pretas e brancas de "A voz de Esperança Garcia", HQ recém-lançada. Hoje considerada heroína, Garcia endereçou uma carta à coroa portuguesa para reivindicar melhores condições de vida e escapar do capitão Antônio Vieira do Couto, branco famoso por torturar negros escravizados, inclusive o próprio filho de Esperança.
O manuscrito foi feito em 6 de setembro de 1770. Ou seja, seis anos antes da Independência dos Estados Unidos (1776). A Revolução Francesa só foi ocorrer 19 anos depois (1789). A tão aguardada declaração dos direitos humanos se tornaria pública apenas em 1948. A carta tem outro marco histórico, a data de sua elaboração virou Dia da Consciência Negra no Piauí.
O enredo do gibi é ambientado a 280km da capital Teresina, onde hoje fica a cidade de Nazaré do Piauí, com 6.665 habitantes. É ali que a protagonista ri, chora, ora, sente saudades e busca formas de aproveitar esses sentimentos em sua defesa.
Do outro lado, capitão Antônio, o antagonista, não partilha das mesmas habilidades da advogada. Sua personalidade remete a integrantes da galeria de vilões da cultura pop dos últimos 80 anos, como o Coringa, arquirrival do Batman, e Darth Vader, que apesar de ter surgido nos cinemas com “Star wars: uma nova esperança”, em 1977, também aterroriza mocinhos nos gibis do presente.
Roteirista de “A voz de Esperança Garcia”, João Luiz diz que existem uma série de similaridades na história com Coringa, Vader e obras de arte como a sua HQ. “Fizemos de propósito”, conta. “As intertextualidades podem ser compreendidas ou captadas por diferentes públicos.”
Parceria da livraria Quinta Capa Quadrinhos com o projeto Rumos, do Itaú Cultural, “A voz de Esperança Garcia” ganhou 2 mil impressões. Parte está disponível para a venda no site da livraria. A outra foi doada para escolas públicas, bibliotecas, e quilombos dos estados de Piauí e Maranhão. Também é possível baixar a edição de forma gratuita no site avozdeesperancagarcia.quintacapa.com.br.
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