A trajetória literária da mineira Ana Elisa Ribeiro registra uma vasta produção em gêneros diversos, dos infantojuvenis aos livros técnicos, passando pela poesia, a crônica e os ensaios. Nesse conjunto, os contos caminham a passos mais lentos. Em 2015, ela lançou seu primeiro livro de narrativas ficcionais curtas, “Beijo, boa sorte”, e chega agora ao segundo, “Causas não naturais”, cujo lançamento em Belo Horizonte será neste sábado (21/10).
Ana Elisa diz que passou muitos anos escrevendo contos, lentamente, muitas vezes por encomenda, para integrar coletâneas. Dos 16 textos que compõem “Causas não naturais”, três tiveram, originalmente, outras destinações. O que abre o volume, “Dois pontos”, foi publicado na antologia “20 contos sobre a pandemia” (Autêntica, 2020).
“Última canção”, com outro título, está na antologia independente “Conte outra vez”, que homenageia Raul Seixas. “Dois olhos negros”, por sua vez, é um conto inspirado no disco “Labiata”, de Lenine, e não chegou a ser publicado em uma coleção de e-books que tinha como mote álbuns musicais porque o projeto acabou. Todas as outras 13 histórias de “Causas não naturais” são inéditas.
“Vou reunindo esse material. Quando vi que tinha um volume com certa coerência, consegui chegar, excluindo algumas coisas, a esse novo livro de contos”, afirma. Essa coerência a que se refere diz respeito, conforme aponta, mais a um ambiente presente no conjunto das narrativas. “É um livro mais grave, tem a coisa da violência urbana, das mortes que não são naturais e que são muito comuns.”
Ela diz que a questão social, com foco na precariedade, num sentido mais amplo, perpassando os traumas da pandemia e seus efeitos, está no cerne da obra. “Pincei muitas notícias de jornal que são tão absurdas que parecem ficção. Alguns desses contos são baseados em fatos. Quando vi que estava fazendo uma coisa com essa vibração, do violento, do não natural, algo incrustado na vida da classe média, entendi que era tudo sobre um ambiente, um tipo de gente e suas mazelas. Mas alguns contos do livro fogem disso”, destaca.
Outra motivação para a feitura de “Causas não naturais” foi seu desejo de se exercitar em uma prosa mais longa. “Em 'Beijo, boa sorte', os contos são muito curtos, e agora eu quis experimentar textos com mais fôlego. Outra coisa é que leio contistas e percebo que livros do gênero têm sido lançados com mais frequência; estão publicando volumes de contos muito bons por aí, como o 'Erva brava', da Paulliny Tort, o que me deu certa coragem.”
Gargalo mercadológico
A despeito da percepção sobre um maior fluxo de obras chegando ao mercado, ela considera que as editoras ainda têm certa reserva com relação aos livros de contos, considerado um gênero que vende pouco, porque os leitores prefeririam romances.
Ela é uma das editoras da Autêntica Contemporânea, selo do Grupo Autêntica pelo qual “Causas não naturais” é lançado. O livro marca sua estreia como autora pelo selo. Trata-se do segundo volume de contos do catálogo da Autêntica Contemporânea, inaugurado com “Voladoras”, da equatoriana Mónica Ojeda.
“Entendo minha literatura juvenil como pequenos romances. Pensar em conto é só uma mudança de plano em relação ao leitor que você quer atingir. Não há, portanto, grandes dificuldades que tenham a ver com a produção em si, com escrever um conto. Compor um livro, no sentido de reunir essa produção, é que é desafiador, porque você vai escrevendo aleatoriamente, então, às vezes, precisa de colegas para ler, para pensar junto”, diz.
No lançamento, hoje, de “Causas não naturais”, na Livraria Jenipapo, haverá bate-papo da autora com a professora Maria do Rosário Alves Pereira, do Cefet-MG e da Universidade Federal de Viçosa. Ela diz que a condução da conversa estará mais a cargo de sua interlocutora. “Ela não me contou sobre os assuntos que pretende levantar a partir do livro. Mas Maria do Rosário estuda a literatura produzida por mulheres, então pode ser que faça um paralelo entre mim e outras escritoras contemporâneas, de forma a me posicionar nesse cenário”, diz.
“CAUSAS NÃO NATURAIS”
Lançamento do livro de Ana Elisa Ribeiro, neste sábado (21/10), às 11h, na Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi), acompanhado de bate-papo entre a autora e a professora Maria do Rosário Alves Pereira. Acesso gratuito.