Passado, presente e futuro se encontram e formam o eixo conceitual da 12ª edição do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte (FAN-BH), que tem início nesta segunda-feira (23/10) e segue com uma vasta programação, concentrada no Parque Municipal, até o próximo dia 29. O evento é realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, em parceria com o Instituto Lumiar, selecionado via chamamento público.
O 12º FAN-BH terá mais de 100 atrações gratuitas, entre shows, espetáculos teatrais e de dança, sessões de cinema, oficinas, rodas de conversa, residência artística e exposições. Na abertura, a partir das 17h30, três cortejos multilinguagens sairão de diferentes pontos da Região Central da cidade, para se encontrar no Parque Municipal.
Um deles é o da tradicional Guarda de Congado 13 de Maio, que parte do Largo do Rosário, em Lourdes (Rua da Bahia com Timbiras). Da Praça Sete e da Praça da Estação, saem, respectivamente, os blocos afro Angola Janga e Tambolelê, representantes do carnaval de Belo Horizonte. Todos os cortejos serão recepcionados pelo Bloco Afoxé Ilê Odara, um dos mais antigos da capital mineira.
Completando a programação de abertura no Parque Municipal, a cantora e compositora Maíra Baldaia apresenta um pocket show. Para encerrar a noite, o convidado é Chico César. Ao longo da semana, haverá shows de Virgínia Rodrigues, Grupo Fundo de Quintal, Banda Black Rio, MV Bill e um amplo painel do hip hop que se produz atualmente na cidade.
A programação do FAN-BH 2023 foi pensada por uma comissão artística composta por duas representantes do poder público – Rosália Diogo, coordenadora do Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, e Vanessa Santos, coordenadora do Cine Santa Tereza – e pelas gestoras culturais da Ubuntu Produções, representantes da sociedade civil – Isa Paulino e Ana Paula Paulino.
Uma equipe composta por sete curadores de diversas áreas contribuiu para garantir uma abordagem multidisciplinar. São eles Ana Pi, pesquisadora de danças urbanas e dançarina contemporânea; Glaw Nader, pianista, cantora e produtora; Tatiana Carvalho, curadora e consultora de cinema e audiovisual; Douglas Din, rapper; Wanatta Aruanã, arte educador, produtor cultural e grafiteiro; Maria Aparecida Moura, professora da UFMG; e Pai Ricardo, Sacerdote da Casa Pai Jacob do Oriente.
Isa Paulino diz que a tríade temporal passado-presente-futuro, que norteia o 12º FAN-BH, foi pensada a partir do conceito do Sankofa, que dentro da cultura africana se relaciona com a necessidade de olhar para trás para poder avançar. Ela diz que, no contexto do festival, trata-se de um chamado às novas gerações para que se reconectem com as raízes culturais e históricas da matriz africana.
“É um festival consolidado, com 28 anos de história, muito representativo para quem o acompanha desde o início, mas existia um desejo nosso de que as novas gerações também enxergassem o FAN como essa referência, se sentissem parte, entendendo as diversas linguagens que o permeiam. Pensamos que, com isso, estaríamos falando de passado, presente e futuro”, diz.
Ela observa que essa tríade também remete à trança, eleita como símbolo desta 12ª edição. “É uma tecnologia ancestral que permeia o povo preto; talvez a primeira grande tecnologia usada no sentido de indicar caminhos, formar um mapa na cabeça das pessoas que eram escravizadas. É um símbolo formado de três partes, três fios entrelaçados. Representa o que queremos contar em termos de história e o que queremos apresentar de novas linguagens para uma geração mais velha”, explica.
Um dos destaques da programação será a roda de conversa aberta ao público com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, sobre o tema “Futuros desejáveis, caminhos possíveis: Reflexões sobre cultura preta, tecnologias ancestrais, cidadania e reparação histórica”, prevista para terça (24/10), a partir das 19h30, no teatro Francisco Nunes. Ela também vai participar de um bate-papo, reservado apenas para convidados, com representantes de quilombos urbanos.
Vanessa Santos chama a atenção para o fato de que esta é a primeira vez que o festival recebe uma ministra da Igualdade Racial, o que é muito simbólico. “Para além de um encontro da cultura e de exaltação da arte negra, o FAN é um canal de diálogo com outras políticas públicas, um espaço de reflexão, para pensarmos questões importantes para a comunidade negra hoje”, pontua.
Além da presença de Anielle Franco, ela destaca as sessões de cinema, programadas junto a escolas, para tratar da questão racial; o trabalho de formação com professores de instituições públicas de ensino, para que levem esses tópicos para a sala de aula; e um programa voltado para adolescentes – negros, em sua maioria – cumprindo medidas socioeducativas.
12ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE ARTE NEGRA DE BELO HORIZONTE
A partir desta segunda-feira (23/10) até o próximo dia 29, com programação concentrada no Parque Municipal e ações em diversos outros espaços de Belo Horizonte. Entrada franca, sujeita à lotação dos espaços. A programação completa está disponível no site da Prefeitura.
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