O nome de Zé Ibarra começou a despontar em 2015, a bordo da banda Dônica, que integrava ao lado de Tom Veloso, o caçula de Caetano. De lá para cá, o cantor e compositor carioca galgou degraus de forma vertiginosa: ganhou o Grammy Latino e o Prêmio da Música Brasileira com o incensado grupo Bala Desejo e participou de turnês de Milton Nascimento. Em maio passado, chegou ao seu primeiro projeto solo, “Marquês, 256”, com o qual aterrissa em BH no próximo sábado (28/10).
Em única apresentação n’A Autêntica, ele vai mostrar, acompanhado por sua banda, as oito canções que compõem o registro audiovisual, gravado no formato voz e violão, nas escadarias do Edifício Marquês de São Vicente, na Gávea, onde passou a infância. Completam o roteiro do show músicas que fez com o Bala Desejo e versões de clássicos da MPB que foram importantes em sua formação.
“Marquês, 256” traz as regravações de “San Vicente” (Milton Nascimento e Fernando Brant); “Vou-me embora” (Paulo Diniz e Roberto José); “Dó a dó” (Dora Morelenbaum e Tom Veloso); “Hello” (Sophia Chablau); “Olho D'água” (Waly Salomão e Caetano Veloso, registrada por Maria Bethânia); e “Vai atrás da vida que ela te espera” (Guilherme Lamounier). O projeto ainda inclui as autorais “Itamonte” e “Como eu queria voltar”, feita em parceria com Tom Veloso e Lucas Nunes.
Ibarra diz entender o projeto como uma espécie de prólogo de seu primeiro álbum em carreira solo, previsto 2024.Ele explica que, no show que traz a Belo Horizonte, a transposição do formato mínimo de “Marquês, 256” para o contexto de uma banda – Thomas Harres (bateria), Giordano Gasperin (baixo), Gabriel Quinto (guitarra), Pacato (percussão) e Chico Lira (teclado) – se dá de maneira gradual. “É um show dividido em dois atos. Começa voz e violão e depois entra a banda. Acho interessante pensar o show como uma narrativa”, afirma.
Caminho do disco
Se “Marquês, 256” não é propriamente um álbum de estreia, ele surge como um esteio e um marco em sua trajetória. “É um trabalho que vem como forma de eu existir artisticamente e também como retrato de uma época. É um lugar onde eu pretendo voltar sempre, porque diz respeito a como a música chegou na minha vida, ainda na infância. É, também, um movimento no sentido de eu me colocar como compositor e intérprete, que indica o caminho do disco que lançarei no ano que vem”, destaca.
Ibarra diz que sempre se considerou mais instrumentista e produtor, e que “Marquês, 256” inaugura, para o público, o Zé Ibarra cantor – a despeito de ele ser o vocalista principal na Dônica e de, na turnê “Última sessão de música”, que marcou a despedida de Milton Nascimento dos palcos, o jovem músico carioca ter seus momentos solo ao microfone.
“Eu me entendo como um cantor simples, de música simples, que vai direto ao ponto. Sempre quis esse lugar, saindo um pouco da piração dos arranjos. 'Marquês' é um trabalho singelo. Com ele, já fiz shows no Nordeste, no Sudeste, na Europa, e tem sido ótimo, porque amo cantar e sinto que as pessoas se conectam”, relata.
O artista considera que essa trajetória de êxitos que se sobrepõem é mais fruto do acaso do que de planejamento. “Eu diria que tem aí 98% de acaso e 2% de planejamento. É uma trajetória muito louca, a maneira como fui me aproximando dos meus futuros caminhos por vias meio incertas, com questões que não controlo. A Dônica nasceu por acaso, de um encontro. As turnês com Milton também vieram como um acaso. E o Bala Desejo surgiu muito por acaso”, afirma
Segundo ele, trata-se de estar aberto e aproveitar as brechas. “A vibração da música feita em conjunto, a coisa da euforia, eu vou, não tenho muita medida, porque é como se fosse um chamado, um dever, mas, de fato, é uma coisa que vem acontecendo muito rapidamente. As portas foram se abrindo e fui entrando”, diz.
Ibarra destaca que se entende como músico desde que tinha 4 anos. O percurso que vem cumprindo não é, portanto, totalmente desprovido de planejamento. Ele começou a compor quando tinha 11 anos, no exato momento em que a música de Minas Gerais, sintetizada no álbum “Clube da esquina”, chegou em sua vida.
“Essa história de começar a compor foi como se um banco de dados tivesse se aberto e as informações todas começassem a sair. Nessa mesma época, tive contato com a música de Minas, então ela fundou minha pessoa como compositor. Quando ouvi Milton pela primeira vez, pensei que eu queria aquela atmosfera, aquelas harmonias, aquelas melodias”, ressalta.
Ele observa que, se o Bala Desejo é mais tropicalista, a Dônica é “100% a música de Minas”. Com o trabalho solo que começa a desenvolver, a inspiração do Clube da Esquina, de Milton e de seus pares, volta de maneira muito clara e forte, conforme aponta. “Foi e continua sendo para mim algo inaugural. 'San Vicente', 'Cais', 'Céu de Brasília' têm colorações que só se encontram ali. Quero manter isso aceso, mas buscando minha própria expressão.”
ZÉ IBARRA E BANDA
Show no sábado (28/10), às 22h, com abertura de Eddu Porto, n’A Autêntica (Rua Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia). Ingressos de R$ 100 a R$ 140 (inteira) e de R$ 50 a R$ 70 (meia estudante ou social), à venda no site da casa e na bilheteria (das 10h às 15h, até sexta). Meia social estendida a todos, mediante doação de 1 kg de alimento não perecível.