O escritor Fernando Sabino

Bate-papo Em homenagem ao centenário de Fernando Sabino (1923-2004) abordará sua bibliografia, com destaque para "O encontro marcado"

O Cruzeiro - 23.10.1973/Arquivo EM

“O meu interesse por Fernando Sabino surgiu quando eu aprendi a ler”, diz o filósofo paulista Adauto Leva, convidado da edição do projeto Letra em Cena dedicada à obra do escritor mineiro, nesta terça (24/10), no Café do Centro Cultural Unimed-BH Minas.

Adauto se lembra com clareza de seu primeiro contato com os textos de Sabino, cujo centenário de nascimento foi celebrado no último dia 12. O ano era 1977, e a mãe dele, professora de literatura e língua portuguesa, havia recebido, em casa, a primeira edição da coleção “Para gostar de ler”, da editora Ática. 

Os quatro primeiros volumes da série destinada a estudantes reuniam crônicas de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga e Paulo Mendes Campos. 

Sucesso de vendas na época, a coleção é hoje lembrada com nostalgia por muitos que a leram na infância e juventude, incluindo Leva. Ele mergulhou na coleção e, com o passar do tempo, a releu diversas vezes. 

Foi se encantando cada vez mais pela escrita de Sabino, começou a comprar por conta própria as coletâneas de crônicas do escritor, até que, prestes a completar 18 anos, leu “O encontro marcado”, como leitura obrigatória da escola. “Eu me apaixonei de vez. A partir dali, não tinha mais volta", diz.

“O encontro marcado” (1988) narra a vida do personagem central, Eduardo Marciano, da infância até a idade adulta, com traços autobiográficos de Sabino. Adauto atribui o sucesso incessante do livro à perenidade do tema abordado. 

“Todos os ritos de passagem para a vida adulta vividos pelo personagem principal não vão embora nunca, eles continuam aí. O mundo se tornou digital, mas os nossos ritos de passagem são mais ou menos os mesmos”, aponta. 

Ele construiu uma obra em que fala de coisas cotidianas com um olhar muito atento. Sabino tem um trabalho de vocabulário muito rico, ele descreve todas as situações com muita facilidade, sejam elas cômicas, embaraçosas ou hilariantes

Adauto Leva, filósofo



“A gente ainda tem que lidar com alguém que morreu e o quanto isso dói, a gente tem que lidar com as frustrações, tem que lidar com as dificuldades de alcançar os objetivos, com uma rasteira que alguém te passa, tem que lidar com o preço do sucesso. Isso tudo está no Eduardo, e é o que sustenta a obra.” 

Conduzido pelo jornalista e curador do projeto, José Eduardo Gonçalves, o bate-papo deve indicar três caminhos possíveis e complementares para se conhecer a obra do autor. Trechos de seus livros serão lidos pelo ator Glicério do Rosário. 

Leva foi convidado pela editora Record, detentora dos direitos autorais de Sabino, para escrever o posfácio da edição comemorativa de “O encontro marcado”, lançada neste mês. 

Ele observa que Sabino “tem um texto muito bem feito. A escrita dele é muito limpa, não fica nada sobrando. O leitor não fica em dúvida sobre o que está lendo. Um segundo aspecto é que ele construiu uma obra em que fala de coisas cotidianas com um olhar muito atento. Sabino tem um trabalho de vocabulário muito rico, ele descreve todas as situações com muita facilidade, sejam elas cômicas, embaraçosas ou hilariantes”. 

LETRA EM CENA. COMO LER FERNANDO SABINO - CENTENÁRIO
Nesta terça-feira (24/10), às 19h no Café do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244 - Lourdes). Retirada de ingressos gratuitos no site Sympla. 


*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes