Ilustração da palavra  'ka'i mbo'eha', que faz parte do dicionário dicionário kaiowá-português

Ilustração da palavra "ka'i mbo'eha", que significa bicho-preguiça, foi feita por Misael Concianza, indígena Kaiowá

Editora Javali/Divulgação
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, havia cerca de 750 línguas indígenas no território recém-descoberto. Com a colonização, e o consequente extermínio de milhares de nativos, esse número reduziu para 150, que se mantém até hoje.

O próprio kaiowá, segunda língua indígena mais falada no Brasil, foi considerada pela Unesco como vulnerável, correndo risco de ser extinta. “Isso ocorreu porque entre os Kaiowá normalmente são as mulheres que mantêm a língua. Elas, no entanto, começaram a trabalhar nas cidades próximas às comunidades, em sociedades não indígenas. Com isso, as crianças passaram a ter menos contato com as mães e as avós, ficando mais tempo na escola, expostas ao português”, comenta a pesquisadora e professora de história indígena da Universidade Federal da Grande Dourados (MS), a paraguaia Graciela Chamorro.

Ao longo dos últimos 40 anos Chamorro trabalhou na construção de um dicionário kaiowá-português – o primeiro do gênero –, que foi disponibilizado virtualmente no ano passado e ganha edição impressa pela editora Javali neste ano, com lançamento nesta quarta-feira (25/10), no Conservatório da UFMG.

As quatro décadas de trabalho renderam um calhamaço de 582 páginas, com 6 mil verbetes organizados em ordem alfabética. Para chegar a esse resultado, contudo, a professora contou a ajuda de 10 linguistas especializados no tupi-guarani (outra língua irmã do kaiowá) e cerca de 30 indígenas da etnia Kaiowá.

É  de um indígena Kaiowá, aliás, a autoria de ilustrações que fazem parte do dicionário. Misael Concianza Jorge desenhou cerca de 30 imagens que ilustram alguns dos verbetes.

Chamorro, no entanto, encontrou um problema de difícil solução: o kaiowá é um idioma falado, que não tem escrita convencionada. “O que se escreve hoje é com base no alfabeto latino”, ressalta a professora. Com o dicionário, Chamorro tenciona manter vivo o idioma. “É muito importante que a gente ensine as línguas e estude os registros históricos das línguas indígenas que não se falam mais. E que também possamos ajudar a revitalizar as línguas que estão em sério perigo de extinção”, conclui. 

Saiba mais

Para os Kaiowá, “antigamente o macaco vivia cansado e, como o bicho-preguiça, era preguiçoso, não queria se levantar; depois o bicho-preguiça lhe ensinou a ser mais leve e, por fim, esse macaco acabou sendo mais inteligente que ele”, roubando, saltando, mantendo a saúde boa


DICIONÁRIO KAIOWÁ-PORTUGUÊS
•  Organização: Graciela Chamorro
•  Editora Javali
•  582 páginas
•  Preço sugerido: R$ 150
•  Lançamento nesta quarta-feira (25/10), às 18h30, no Conservatório UFMG (Av. Afonso Pena, 1534, Centro). Entrada franca.