Após o encerramento das atividades de sua marca de acessórios, em março de 2017, Mary Arantes decidiu juntar a bagagem acumulada em mais de 34 anos de negócios com o artesanato para se dedicar à pesquisa de arte popular brasileira.
Criadora da Mary Design, foi uma das pioneiras no upcycling, transformando materiais como botões e garrafas pet em artigos de luxo. Teve o trabalho reconhecido no Brasil e no exterior e criou uma extensa rede de contatos. Quando fechou a loja, investiu primeiro em um bazar, o Bazarte, que teve adesão do público, mas “ocupava demais durante o ano inteiro” a designer, que decidiu deixá-lo de lado.
Do antigo negócio nasceu a Quermesse da Mar”, evento trimestral que promove o comércio local, fomentando a inserção de pequenos artesãos no mercado.
Realizada no bairro Serra, no espaço que abrigava a fábrica e o showroom de sua antiga marca, a feira oferece um mix de marcas de variados nichos, com curadoria feita pela própria Mary.
Realizada no bairro Serra, no espaço que abrigava a fábrica e o showroom de sua antiga marca, a feira oferece um mix de marcas de variados nichos, com curadoria feita pela própria Mary.
Ao longo das 25 edições da feira, a curadora notou alguns artistas que se destacavam. Eram, em sua opinião, verdadeiros talentos fora dos circuitos das galerias que mereciam um espaço individual de exposição.
É o caso de Humberto Eustáquio da Silva, de 76 anos. Desta sexta (27/10) até domingo, o espaço de Mary Arantes uma individual do artista. Na exposição “O oco de si mesmo” ele irá apresentar obras têxteis, bordados e colagens.
É o caso de Humberto Eustáquio da Silva, de 76 anos. Desta sexta (27/10) até domingo, o espaço de Mary Arantes uma individual do artista. Na exposição “O oco de si mesmo” ele irá apresentar obras têxteis, bordados e colagens.
Salão
Dono do antigo salão Batom, na Savassi, Humberto se consolidou como um cabeleireiro de sucesso em meados da década de 1970. O que muitos não sabiam, inclusive a própria Mary, que durante anos foi cliente do local, é que por trás do cabeleireiro tímido existia um grande artista.
Nascido em Carmo do Paranaíba, ele entrou no mundo das artes manuais via costura. Ao lado de seus 11 irmãos, Humberto Eustáquio cresceu em uma família rígida e construiu silenciosamente seu acervo de obras, sem mostrá-las para ninguém.
“Ele não tinha coragem de mostrar para o mundo porque veio de uma criação muito tradicional. Achava que ser um artista poderia ser um escândalo para a família”, explica Mary. “Quando entrei no ateliê dele, quase caí para trás. Sou uma pessoa que pesquisa arte o dia inteiro e fiquei extremamente encantada com a beleza das obras”, comenta.
Artista de facetas múltiplas, produziu ao longo de décadas cerâmica, joias, quadros, bordados, entre outros. Fez tudo para si mesmo e manteve os trabalhos guardados até agora.
“A obra dele é muito velada, tem muito dessa coisa do esconder, ela é toda feita de véus de coberturas. É como se a vida dele e tudo o que ele guardou dentro dele estivessem ali naquela mostra”, observa a designer.
“A obra dele é muito velada, tem muito dessa coisa do esconder, ela é toda feita de véus de coberturas. É como se a vida dele e tudo o que ele guardou dentro dele estivessem ali naquela mostra”, observa a designer.
Esta é a segunda “exposição-relâmpago” realizada por Mary. A primeira foi feita em parceria com a artista plástica Eula Teixeira.
“Os circuitos de galeria de arte têm grande parte do poder de decidir quem vai ou não ser visto. Mas existe uma contracorrente que vai no sentido de tornar a arte possível de uma forma mais simples”, afirma.
“Os circuitos de galeria de arte têm grande parte do poder de decidir quem vai ou não ser visto. Mas existe uma contracorrente que vai no sentido de tornar a arte possível de uma forma mais simples”, afirma.
“Faço isso porque fui uma artesã pequena que saiu do Vale do Jequitinhonha aos 12 anos. Nesse percurso, percebi o quanto é difícil sobressair no mercado, então o meu trabalho hoje é ser ponte entre as pessoas”, diz Mary.
“O OCO DE SI MESMO”
Exposição individual de Humberto Eustáquio, aberta ao público desta sexta (27/10) a domingo (29/10), na Rua Ivaí, 25, Serra. Sexta e sábado das 10h às 19h e domingo das 10h às 17h. Entrada franca.
*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes
Outras exposições
>>> Performances na Casa do Baile
A edição 2023 do Festival Durante chega ao fim com performances que terão como cenário a Casa do Baile (Av. Otacílio Negrão de Lima, 751 - Pampulha). Nesta sexta (27/10), o projeto promove três apresentações, seguidas de bate-papo com artistas e curadores. Diez e Cristiano Belarmino; Maria Ambuá e Izabella Coelho, e Moisés da Silva Melo se apresentam a partir das 14h. Às 16h30, ocorre o bate-papo com os artistas. Entrada gratuita.
>>> Mostra de Arte Digital
Hoje é o último dia para conferir a 1ª Mostra de Arte Digital da Galeria de Arte Cemig (Avenida Barbacena, 1.200 - Santo Agostinho). As cinco obras que compõem a exposição foram desenvolvidas com o objetivo de proporcionar ao público a oportunidade de experienciar e interagir de forma imersiva com esses trabalhos, que misturam projeções, música, dança, moda e luzes em movimento. Aberto à visitação gratuitamente das 10h às 20h.
>>> "Enigma da fuga"
Em “Enigma da fuga”, a artista natural de Juiz de Fora Thaïs Helt apresenta uma coleção de desenhos e objetos inéditos, criados durante o confinamento imposto pela pandemia e no pós-pandemia. A exposição poderá ser vista deste sábado (28/10), na Lemos de Sá Galeria de Arte (Rua Germano Chatti, 255, Mangabeiras). Visitação: de segunda a sexta, das 10h às 17h, e sábado, das 10h às 13h, até 30/11.