A memória de três monumentos da cultura brasileira – os escritores Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado e o artista plástico Candido Portinari – se faz presente, na figura de seus herdeiros, na 3ª edição do Festival Literário Internacional de Itabira – Flitabira, que começa nesta terça (31/10) e segue até 5/11, com programação que inclui mesas-redondas, shows e aulas-espetáculos.
Guiado pelo tema “Arte, literatura e correspondências”, o evento se debruça este ano sobre a obra epistolar de Drummond, que cultivou ao longo da vida o hábito de trocar cartas com amigos, escritores, artistas e intelectuais.
Hoje, nos 121 anos de nascimento do poeta itabirano, será exibido no YouTube do Flitabira uma sessão de leituras de cartas de Drummond feitas por representantes do mundo das artes. No X (ex-Twitter), ocorre o Concurso Nacional de Palíndromos CDA, o #desafiopalindromoCDA121, sob a curadoria de Leo Cunha e Ricardo Cambraia, inspirado pelo fato de 121 ser um palíndromo.
A abertura oficial do 3º Flitabira será na quarta, às 18h. Pedro Drummond e João Candido Portinari – respectivamente neto Drummond e filho de Portinari – vão ler cartas trocadas pelo poeta e pelo artista plástico. Em seguida, haverá palestra de Ailton Krenak e uma mesa com o jornalista Jamil Chade, a respeito da guerra Israel x Hamas.
No sábado (4/10), Pedro Drummond e João Candido Portinari voltam a se reunir, em companhia de Paloma Jorge Amado, filha do escritor baiano, em uma mesa redonda sob o tema “Memória”. O neto do poeta diz que foi pego de surpresa com o convite para participar desse encontro.
“Eu estava ciente de que participaria de uma mesa para falar da relação de meu avô com artistas argentinos e, de repente, venho saber dessa outra mesa. Achei uma ideia bonita, mostrar como essa amizade entre Carlos, Portinari e Jorge Amado era importante e segue nos dias de hoje, porque estamos unidos pelo afeto dos nossos saudosos familiares. Com João me encontro de vez em quando; Paloma não frequento tanto, mas cultivamos essa estima que atravessa gerações”, diz.
Sobre a leitura da correspondência entre Drummond e Portinari na abertura do evento, Pedro destaca que as missivas revelam o quão grandes amigos eram e o quanto se admiravam. “Tem uma carta que Carlos escreve para Portinari em que ele faz um monte de elogios e depois fala que não sabe se teria coragem de dizer aquilo tudo pessoalmente. Eles tinham, ambos, essa noção da importância do próprio trabalho e do trabalho do outro”, diz.
Vou partir do que tenho de concreto: o retrato do meu pai pintado por Portinari quando ele tinha 18 anos, em 1930, e as cartas que meu pai enviou para Drummond a partir de 1938, bem como as que recebeu dele. Nós três vamos mergulhar nesse manancial de memórias de todo esse período
Paloma Jorge Amado, escritora, filha de Jorge Amado
Edição única
A filha de Jorge Amado, por sua vez, vai aproveitar a oportunidade para entregar em mãos a Pedro um volume de cartas trocadas entre seu pai e Drummond. “É um livro que ainda nem existe formalmente, porque não fizemos contato com nenhuma editora nem nada, mas tenho essa edição única, que ficou muito linda. É um livro de puro amor entre escritores que são muito benquistos”, afirma.
Esse livro, conforme diz, é um dos indicadores do caminho que a mesa de sábado entre os herdeiros dos artistas deve seguir. “Vou partir do que tenho de concreto: o retrato do meu pai pintado por Portinari quando ele tinha 18 anos, em 1930, e as cartas que meu pai enviou para Drummond a partir de 1938, bem como as que recebeu dele. Juntos, nós três vamos mergulhar nesse manancial de memórias de todo esse período, com tudo o que presenciamos”, afirma.
Ela entende esse encontro como uma “continuidade” que a faz ter esperanças na cultura brasileira. “Somos guardiões da nossa memória, temos que preservar os grandes criadores da história deste país – falando especificamente desses três – e levá-los às novas gerações. E nosso encontro vai preceder a mesa com o tema 'O sentimento do mundo', com Conceição Evaristo e a ministra Cármen Lúcia, o que me enche de orgulho”, ressalta.
A escritora mineira, a propósito, recebe, logo em seguida, o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores. Com mais de 100 autores presentes, o 3º Flitabira conta, em sua programação, com nomes como Eliana Alves Cruz, Estevão Ribeiro, Fabrício Carpinejar, Jefferson Tenório, João Carrascoza, Lívia Sant’Anna Vaz, Márcia Tiburi, Maria Ribeiro, Pasquale Cipro Neto, Paula Pimenta, Rosa Freire d’Aguiar, Sérgio Abranches e Wagner Schwartz, entre outros.
Achei uma ideia bonita, mostrar como essa amizade entre Carlos, Portinari e Jorge Amado era importante e segue nos dias de hoje, porque estamos unidos pelo afeto dos nossos saudosos familiares
Pedro Graña Drummond, curador da obra de Carlos Drummond de Andrade, seu avô
Circuito cultural
O Flitabira promoverá neste ano um “circuito cultural”, que começa abaixo da rua Tiradentes e termina na Casa de Drummond, na Praça do Centenário. A montagem inclui estabelecimentos de gastronomia e artesanato e um palco que vai receber o 1º Festival Literário de Viola Caipira, com a participação de Roberto Corrêa, Marcos Assunção, Ivan Vilela e Fabrício Conde. Outras atrações são a exposição “Portinari Negro”, já instalada na Praça do Areião, com 42 reproduções de telas de Candido Portinari. A seleção e a curadoria são do Projeto Portinari, fundado em 1979 por João Candido, que se mantém como diretor-geral da instituição.
3º FLITABIRA
Festival Literário Internacional de Itabira, a partir desta terça-feira (31/10), no centro histórico de Itabira, com todas as atividades gratuitas. A programação completa pode ser conferida no site do festival.
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