No ano em que os videogames tomaram Hollywood de assalto, a adaptação "Five nights at Freddy's: O Pesadelo sem fim" mostra que talvez fosse melhor se cada turma continuasse no seu próprio canto. O filme é baseado em um jogo de terror de 2014 do desenvolvedor indie Scott Cawthon. Ele chegou em momento oportuno e ganhou a internet nos anos seguintes, com youtubers gravando com frequência seus próprios sustos em troca de milhões de visualizações.
Nele, o jogador é um segurança noturno de um restaurante infantil dos Estados Unidos, conhecido por ter robôs de animais antropomorfizados. Não sabemos quem é o segurança e quais são suas motivações. Tampouco sabíamos, ao aceitar o emprego, que esses mascotes têm vida própria e assassinaram os seguranças anteriores. O objetivo, portanto, é sobreviver às tais cinco noites do título.
O jogo inteiro acontece numa sala de segurança ladeada por duas portas. Dela, é necessário monitorar as várias câmeras do restaurante, sempre de olho nos robôs, para evitar que se aproximem e te matem. Há, no entanto, duas restrições – a bateria e a quantidade de objetos que podem ser usados ao mesmo tempo.
Esses elementos – combinados com a possibilidade de tomar um susto a qualquer momento – fizeram de um jogo indie uma franquia milionária. E aí vem o filme.
Enquanto as mecânicas do primeiro jogo dialogam com a própria natureza cinematográfica – a observação constante, o perigo oculto contido numa imagem –, o filme sequer se lembra disso e transforma o terror e a paranoia em um drama familiar insosso.
Em "Five nights at Freddy's”, Mike Schmidt (Josh Hutcherson, da franquia "Jogos vorazes") é um segurança de shopping atormentado desde a infância pelo desaparecimento de seu irmão mais novo. Ele mora com a irmã ainda mais nova, Abby, por quem se tornou responsável depois da morte de seus pais.
Emocionalmente instável, Mike se mete em uma briga e é demitido. Para não perder a guarda de Abby, cobiçada pela tia, precisa mostrar que é um homem direito e aceita um bico oferecido por Steve Raglan (Matthew Lillard, de "Pânico").
O trabalho é na pizzaria Freddy's, abandonada e associada pelos adultos à infância nos anos 1980. O segurança será responsável por impedir a entrada de invasores. Andando pelo local, se depara com os animatrônicos. Além de lidar com a quantidade crescente de coisas estranhas acontecendo por lá, Mike também se preocupa com Abby, seus desenhos estranhos e amigos imaginários. Os dois núcleos então se conectam e fazem do filme uma história de redenção do segurança – ele não pode errar com a irmã como fez com o irmão.
Sem "janela indiscreta"
Os sustos e a violência, discreta por conta da classificação indicativa (14 anos), não causam o mesmo impacto que no jogo. Se este conseguia evocar "Janela indiscreta" e "Atividade paranormal", o filme só transmite indiferença.
"Five nights at Freddy's: O pesadelo sem fim" erra, principalmente, ao se basear mais nos efeitos do sucesso do primeiro jogo – como suas sequências e as adaptações literárias que expandiram esse universo – do que nos elementos criativos que permitiram esse mesmo sucesso há quase uma década.
“FIVE NIGHTS AT FREDDY'S: O PESADELO SEM FIM”
EUA, 2023. Direção: Emma Tammi. Com Josh Hutcherson, Elizabeth Lail e Piper Rubio. Em cartaz em Belo Horizonte, em salas dos complexos Cineart, Cinemark, Cinépolis e Cinesercla.
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