Precedido de muito alarde, pelo apelo popular que seu personagem central tem, “Mussum, o filmis”, dirigido por Silvio Guindane e estrelado por Ailton Graça, estreia nesta quinta (2/11), em 400 salas de cinema do país. Com uma trajetória artística que se dividiu entre o grupo Os Originais do Samba e a trupe cômica Os Trapalhões, o longa repassa a vida de Mussum desde a infância.

O personagem é vivido pelos atores Thawan Lucas Bandeira (criança), Yuri Marçal (juventude) e Graça (adulto, quando ganha de Grande Otelo o apelido Mussum). Outro papel central no filme é o de Dona Malvina – mãe de Antônio Carlos Bernardes Gomes, nome de batismo do artista –, interpretado pelas atrizes Cacau Protásio e Neusa Borges.

O longa levou seis Kikitos no Festival de Gramado - melhor filme, ator (Ailton Graça), ator coadjuvante (Yuri Marçal), atriz coadjuvante (Neusa Borges), trilha sonora (Max de Castro), júri popular e uma menção honrosa do júri para a caracterização.

Vivendo um “pretagonista”, como costuma dizer, Graça diz que, para compor o personagem, teve que observar informações contidas no livro “Mussum: Uma história de humor e samba”, de Juliano Barreto, no qual o filme se baseia; no roteiro de Paulo Cursino; e na direção de Guindane. “Também tivemos que estar atentos ao momento atual, no sentido de saber quais são as pautas que estão em voga e que piadas não funcionariam neste momento, por exemplo”, diz. 

Cena de 'Mussum - O Filmis'

Ailton Graça interpreta Mussum na fase adulta; personagem é retratado desde a infância, com destaque para sua relação com a mãe solo

Desirée do Valle/Divulgação


HUMOR FÍSICO 

“O Mussum de 'Os Trapalhões' era um personagem físico, com um humor físico, então teve um trabalho de clown para chegar nesse lugar. Tivemos muitas aulas com o Negão da Serrinha (cantor, compositor e mestre de bateria), para entender como cantaríamos músicas dos Originais do Samba, como cada um do grupo tocaria seu instrumento. Foi uma preparação danada de boa, fundamental para o trabalho que a gente fez”, ressalta.

Mussum tinha trejeitos, caras e bocas, uma expressão muito caricatural, que, conforme aponta, exigiu um estudo conjunto do trio de atores. “Nós três fizemos questão de tentar entender quem é o Antônio Carlos, o perfil psicológico dele, porque, para viver o Mussum, só mesmo o Antônio Carlos. Tentamos encontrar os vapores emocionais dessa figura para poder dar forma e vida ao menino Carlinhos, ao Carlinhos do Reco-Reco e ao Mussum”, explica.

A relação de Antônio Carlos com a mãe é o que mais emociona o ator na história. “Cacau Protásio e Neusa Borges dão um show de interpretação, são atrizes gigantes. Cacau dificilmente volta a fazer comédia. Mentira, ela volta, mas também vai conseguir emocionar muita gente, futuramente, fazendo algum drama ou alguma tragédia. Esse filme poderia se chamar 'Dona Malvina, a mãe solo, e o seu filho Mussum', porque a atuação das duas é impressionante”, comenta.

Graça acompanhou com atenção a carreira de Mussum. Os Originais do Samba era um som frequente na vitrola de sua casa, assim como Martinho da Vila. “Era a nossa black music. Os Originais era um grupo em que todos tocavam, dançavam e cantavam. Era uma unidade vocal incrível. Enquanto os norte-americanos tinham Earth, Wind and Fire e Jacksons Five, a gente tinha os Originais do Samba. Era lindo ver aquele grupo performando daquele jeito.”

Sobre os Trapalhões, ele diz que os personagens transcenderam o grupo em termos de representatividade – especialmente Mussum. “Tinha esse quarteto, o cearense, o paulistinha, o mineirinho e o Mussum, que, a princípio, era o carioca, mas aquela figura acabou tomando uma forma periférica universal. O bacana é isso, foi o que o tornou maior ainda. Foi um cara que atingiu uma referência de brasilidade por meio dessa persona periférica, meio malandra, meio despachada”, comenta.

Na opinião de Graça, Mussum passou a ser um espelho para jovens pretos, periféricos, que querem ingressar na carreira artística sem perder de vista as origens, a base. “Mussum tinha uma relação com a (escola de samba) Mangueira, com a educação, com a defesa da educação nas bases periféricas. É um legado do qual a gente precisa cuidar, para não deixar que o racismo estrutural apague essa história tão gigante”, pontua.

Sobre o Kikito de melhor ator em Gramado, ele diz ainda estar tentando entender o que aconteceu. “Eu não tinha ideia de onde colocar o Kikito, então deixei no meu altarzinho, junto com minha Nossa Senhora. Minha esposa passa de vez em quando e diz: 'Pronto, agora nós temos aqui em casa o santo Kikito'. É uma felicidade gigante, que ainda estou processando e que vou entender melhor depois da estreia do filme.” 

 
MUSSUM, O FILMIS”
(Brasil, 2023, 123 min.) Direção: Silvio Guindane. Com Ailton Graça, Thawan Lucas Bandeira, Yuri Marçal, Cacau Protásio e Neusa Borges. Estreia nesta quinta-feira (2/11), em salas dos circuitos Cineart, Cinemark, Cinépolis e no UNA Cine Belas Artes.


ESTREIA NA NETFLIX

O documentário “Retratos fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho, aspirante do Brasil a uma vaga na disputa pelo Oscar de melhor filme internacional, estreia no catálogo da Netflix nesta quinta-feira (2/11). O filme faz uma espécie de uma viagem no tempo, ao retratar a relação do diretor pernambucano com os cinemas de rua de Recife. Já lançado no cinema, o título ficou 10 semanas em cartaz e foi visto por mais de 80 mil espectadores. Na Netflix, ele estará disponível em mais de 190 países.