Mudança feminista em ópera gera polêmica na Itália

A magnum opus do compositor francês Georges Bizet acaba de ganhar um novo capítulo. No coração de Florença, uma das cidades mais importantes para a história da música, e da arte em geral, o teatro Maggio Musicale decidiu reconstruir a narrativa da ópera Carmen e o libreto original foi transmutado para que o desfecho pudesse, à lupa dos dias atuais, denunciar o feminicídio. Desde que a obra foi apresentada, em março de 1875, o final da peça nunca tinha sido alterado, mesmo que algumas releituras já tivessem 'atualizado' o andamento dos quatro atos originalmente escritos. A mudança da vez, que vem causando polêmica, surpreende a plateia no quarto e último ato da ópera, quando, originalmente, o personagem Don José esfaqueava e matava Carmen. Na montagem atual, a protagonista saca uma arma e, se antes morria, agora mata seu antigo algoz com um tiro. O diretor responsável pela versão, Leo Muscato, afirmou que a intenção é ''Denunciar a violência contra a mulher''. Na Itália o feminicídio mata uma mulher a cada três dias. A subversão de um libreto, que, vale lembrar, já era controverso desde a primeira aparição pública, causou revolta em algumas parcelas da sociedade italiana e gerou vaias na plateia e ameaças nas redes sociais. O prefeito da cidade de Florença, que também é diretor da casa de espetáculos, rebateu as críticas: ''O teatro deve ser denúncia e a cultura deve ser reinterpretada no tempo presente''. (Estagiário sob supervisão do sub-editor Fred Bottrel)