Às vésperas de comemorar os 20 anos da estreia do espetáculo Acredite, um espírito baixou em mim, o ator Maurício Canguçu sabe que tem pela frente um grande desafio para continuar mantendo a peça em cena por mais alguns bons e belos anos. Sem poupar nem a si mesmo, coloca o dedo na ferida: “Ao longo dos anos, perdemos um pouquinho o canal de comunicação com o público”, afirma, referindo-se aos nem tão novos assim caminhos demarcados pelas redes sociais.
“Uma geração mais nova de atores, como o pessoal do stand up, sabe fazer uso dessas ferramentas muito bem. Tanto é que espetáculos deles produzidos por nós em Belo Horizonte lotaram e exigiram sessão extra.” Maurício reconhece que esse déficit na comunicação está relacionado principalmente a uma questão geracional. “Nós não temos tanta paciência em usar as redes sociais como, por exemplo, quem já nasceu nesse meio, mas temos que estabelecer esse contato”, pondera.
Nesse novo caminho, Canguçu e Ílvio Amaral já deram o primeiro passo. Em sua produtora, a Cangaral, foi montado um setor para produção de conteúdos para a internet. Os primeiros resultados impressionaram os sócios. O primeiro vídeo do Espírito alcançou média de 3 mil visualizações (quase nada, comparando-se com as performances dos reis da internet). “Como trocamos os vídeos a cada segunda-feira, os números subiram de forma impressionante. Na última contagem, eram mais de 45 mil visualizações”, cita, acreditando estar no caminho certo para atrair o público que não desgruda os olhos do celular.
Ainda que os sócios da Cangaral identifiquem a necessidade de se adaptar aos novos tempos, a carreira de Acredite, um espírito baixou em mim prossegue. Nos 20 anos da estreia, que ocorreu em 30 de julho de 1998 no Teatro do Icbeu, haverá sessão comemorativa no Sesc Palladium. Em seguida, o espetáculo segue para temporada no Rio de Janeiro.
“Está muito difícil se manter em cena. As apresentações do Espírito não esgotam ingressos, como já aconteceu muitas vezes ao longo da história, mas os teatros por onde passamos não ficam vazios. Estão sempre cheios. Além da questão da perda do caminho do público, existe a crise”, aponta o ator, que, ainda assim, é pura alegria quando relembra o início de tudo.
A começar pela descoberta do texto, um dos 10 enviados por Gugu Olimecha, atendendo a um pedido dos atores, que estavam em busca de algo interessante para montar. Maurício e Ílvio não desgrudaram os olhos de O bofe à milanesa, título original da peça sobre um gay que morre precocemente e, inconformado com sua partida da Terra, encarna no corpo de um machista, ocasionando diversas confusões.
Como naquela época, os “tijolinhos” com a programação de teatro publicados nos jornais eram fundamentais para levar o público ao teatro, os atores, espertos, se esmeraram em encontrar um modo de colocar o nome da montagem em evidência. Pensaram em Ghost, mas não colou. “O nome batia com o filme estrelado por Demi Moore. Até que alguém, não me lembro quem, sugeriu, Acredite, um espírito baixou em mim. Pronto! Nunca deixamos de ser o primeiro nos tijolinhos”, conta Maurício, soltando uma sonora gargalhada.
Montar a peça foi uma questão de sobrevivência; o sucesso que ela fez foi muito além da expectativa inicial dos artistas. Como responsáveis pela gerência do teatro do Icbeu, Maurício e Ílvio não poderiam deixar a casa sem programação. Primeiro, planejaram montar a peça É dando que se recebe. “Essa, sim, pensávamos que seria nosso Trair e coçar”, lembra Maurício, na época confiante em um possível sucesso retumbante da montagem. Era uma grande produção e acabou sendo adiada. O jeito foi conseguir levantar outra em 15 dias. Foi aí que o Espírito entrou na roda e fez história.
MILHÕES Números exatos de quantas pessoas viram o espetáculo não há. “Paramos de contar quando chegou por volta dos 2 milhões. Acho que passou de 3 milhões”, estima o ator, citando que, entre todos os estados da federação, a peça (ainda) não foi levada a apenas três – Rio Grande do Sul, Acre e Maranhão. A lista de famosos que estiveram na plateia inclui presenças inesquecíveis nas temporadas em Belo Horizonte. Bibi Ferreira veio a convite dos atores, quando Ílvio era dirigido por ela em Deus lhe pague. Marília Pêra quis ver o trabalho da irmã, a diretora Sandra Pêra, e conferir a desenvoltura dos atores em cena.
Pouco tempo depois, Marília assinou a direção de A saga da senhora café. Cintia Abravanel também esteve por aqui. E foi ela quem levou a produção pela primeira vez para São Paulo. “Ela veio e quase assistiu ao espetáculo de pé. Esquecemos de marcar o lugar, mas conseguimos uma cadeira extra.” A filha de Sílvio Santos, que, na época dirigia o Teatro Imprensa, adorou a peça e fez o convite, que só foi aceito no ano seguinte. “Ficamos muito inseguros em relação a uma temporada em São Paulo.”
Maurício se lembra com precisão quanto foi gasto para montar o espetáculo: “R$ 30 mil”. Quanto esse investimento rendeu, ele diz não ter a menor ideia. Sabe apenas que, até hoje, o Espírito é que garante todas as demais montagens da Cangaral. “Conseguimos também pagar os funcionários da empresa e oferecer uma boa qualidade de trabalho para os atores dos nossos elencos. E não são só eles. Os benefícios da peça vão além do palco. Até pipoqueiro já foi beneficiado. Certa vez, um me disse que onde o Espírito estava ele ia atrás, pois sabia que haveria muita gente para assistir”, conta. A peça rendeu também um filme. “Péssimo”, resume o ator.
Ao longo dos anos, Maurício esteve em cena sempre para viver Vicente. Ílvio, que interpreta Lolo, ficou ausente algumas vezes. Uma delas para se recuperar de uma cirurgia. Já Normanda, Lucas e o eletricista/O homem do céu já foram interpretados por exatos 45 profissionais. Um deles, Marino Canguçu, sobrinho de Maurício, é motivo de orgulho. “Na festa de cinco anos da peça, ele, vestido de anjo, nos prestou uma homenagem. Hoje, está em cena comigo. Contracenar com ele é motivo de muitas alegrias.”
Na encenação comemorativa da segunda-feira (30), todos os profissionais que já passaram pelo elenco devem fazer uma participação especial. Vai ser uma sessão de outro mundo!
Confira como o Estado de Minas noticiou a estreia do espetáculo
“Uma geração mais nova de atores, como o pessoal do stand up, sabe fazer uso dessas ferramentas muito bem. Tanto é que espetáculos deles produzidos por nós em Belo Horizonte lotaram e exigiram sessão extra.” Maurício reconhece que esse déficit na comunicação está relacionado principalmente a uma questão geracional. “Nós não temos tanta paciência em usar as redes sociais como, por exemplo, quem já nasceu nesse meio, mas temos que estabelecer esse contato”, pondera.
Nesse novo caminho, Canguçu e Ílvio Amaral já deram o primeiro passo. Em sua produtora, a Cangaral, foi montado um setor para produção de conteúdos para a internet. Os primeiros resultados impressionaram os sócios. O primeiro vídeo do Espírito alcançou média de 3 mil visualizações (quase nada, comparando-se com as performances dos reis da internet). “Como trocamos os vídeos a cada segunda-feira, os números subiram de forma impressionante. Na última contagem, eram mais de 45 mil visualizações”, cita, acreditando estar no caminho certo para atrair o público que não desgruda os olhos do celular.
Ainda que os sócios da Cangaral identifiquem a necessidade de se adaptar aos novos tempos, a carreira de Acredite, um espírito baixou em mim prossegue. Nos 20 anos da estreia, que ocorreu em 30 de julho de 1998 no Teatro do Icbeu, haverá sessão comemorativa no Sesc Palladium. Em seguida, o espetáculo segue para temporada no Rio de Janeiro.
“Está muito difícil se manter em cena. As apresentações do Espírito não esgotam ingressos, como já aconteceu muitas vezes ao longo da história, mas os teatros por onde passamos não ficam vazios. Estão sempre cheios. Além da questão da perda do caminho do público, existe a crise”, aponta o ator, que, ainda assim, é pura alegria quando relembra o início de tudo.
A começar pela descoberta do texto, um dos 10 enviados por Gugu Olimecha, atendendo a um pedido dos atores, que estavam em busca de algo interessante para montar. Maurício e Ílvio não desgrudaram os olhos de O bofe à milanesa, título original da peça sobre um gay que morre precocemente e, inconformado com sua partida da Terra, encarna no corpo de um machista, ocasionando diversas confusões.
Como naquela época, os “tijolinhos” com a programação de teatro publicados nos jornais eram fundamentais para levar o público ao teatro, os atores, espertos, se esmeraram em encontrar um modo de colocar o nome da montagem em evidência. Pensaram em Ghost, mas não colou. “O nome batia com o filme estrelado por Demi Moore. Até que alguém, não me lembro quem, sugeriu, Acredite, um espírito baixou em mim. Pronto! Nunca deixamos de ser o primeiro nos tijolinhos”, conta Maurício, soltando uma sonora gargalhada.
Montar a peça foi uma questão de sobrevivência; o sucesso que ela fez foi muito além da expectativa inicial dos artistas. Como responsáveis pela gerência do teatro do Icbeu, Maurício e Ílvio não poderiam deixar a casa sem programação. Primeiro, planejaram montar a peça É dando que se recebe. “Essa, sim, pensávamos que seria nosso Trair e coçar”, lembra Maurício, na época confiante em um possível sucesso retumbante da montagem. Era uma grande produção e acabou sendo adiada. O jeito foi conseguir levantar outra em 15 dias. Foi aí que o Espírito entrou na roda e fez história.
MILHÕES Números exatos de quantas pessoas viram o espetáculo não há. “Paramos de contar quando chegou por volta dos 2 milhões. Acho que passou de 3 milhões”, estima o ator, citando que, entre todos os estados da federação, a peça (ainda) não foi levada a apenas três – Rio Grande do Sul, Acre e Maranhão. A lista de famosos que estiveram na plateia inclui presenças inesquecíveis nas temporadas em Belo Horizonte. Bibi Ferreira veio a convite dos atores, quando Ílvio era dirigido por ela em Deus lhe pague. Marília Pêra quis ver o trabalho da irmã, a diretora Sandra Pêra, e conferir a desenvoltura dos atores em cena.
Pouco tempo depois, Marília assinou a direção de A saga da senhora café. Cintia Abravanel também esteve por aqui. E foi ela quem levou a produção pela primeira vez para São Paulo. “Ela veio e quase assistiu ao espetáculo de pé. Esquecemos de marcar o lugar, mas conseguimos uma cadeira extra.” A filha de Sílvio Santos, que, na época dirigia o Teatro Imprensa, adorou a peça e fez o convite, que só foi aceito no ano seguinte. “Ficamos muito inseguros em relação a uma temporada em São Paulo.”
Maurício se lembra com precisão quanto foi gasto para montar o espetáculo: “R$ 30 mil”. Quanto esse investimento rendeu, ele diz não ter a menor ideia. Sabe apenas que, até hoje, o Espírito é que garante todas as demais montagens da Cangaral. “Conseguimos também pagar os funcionários da empresa e oferecer uma boa qualidade de trabalho para os atores dos nossos elencos. E não são só eles. Os benefícios da peça vão além do palco. Até pipoqueiro já foi beneficiado. Certa vez, um me disse que onde o Espírito estava ele ia atrás, pois sabia que haveria muita gente para assistir”, conta. A peça rendeu também um filme. “Péssimo”, resume o ator.
Ao longo dos anos, Maurício esteve em cena sempre para viver Vicente. Ílvio, que interpreta Lolo, ficou ausente algumas vezes. Uma delas para se recuperar de uma cirurgia. Já Normanda, Lucas e o eletricista/O homem do céu já foram interpretados por exatos 45 profissionais. Um deles, Marino Canguçu, sobrinho de Maurício, é motivo de orgulho. “Na festa de cinco anos da peça, ele, vestido de anjo, nos prestou uma homenagem. Hoje, está em cena comigo. Contracenar com ele é motivo de muitas alegrias.”
Na encenação comemorativa da segunda-feira (30), todos os profissionais que já passaram pelo elenco devem fazer uma participação especial. Vai ser uma sessão de outro mundo!
PARECE QUE FOI ONTEM
Confira como o Estado de Minas noticiou a estreia do espetáculo