Em 2007, o encontro de Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta, Maria Mourão e Rejane Faria no curso de artes cênicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi determinante para a trajetória dos atores-diretores. O quinteto criou o grupo Quatroloscinco, que há 12 anos mantém o trabalho de pesquisa e prática artística pautado na dramaturgia contemporânea.
Até 3 de fevereiro, o coletivo estará em cartaz na Funarte, de quinta-feira a domingo, com o espetáculo Fauna, que integra a programação da 45ª Campanha de Popularização Teatro e Dança.
O ator e dramaturgo Marcos Coletta diz que o texto aborda a dificuldade que as pessoas têm de se relacionar. “Não é uma história linear, mas uma peça-conversa que convida o público a interagir e falar sobre as parcerias da vida”, afirma. Marcos, que divide o palco com Assis Benevenuto, avisa: “Não há uma cena específica para a qual chamamos a plateia, o diálogo acontece o tempo todo”.
BAR A cenografia foi idealizada pensando na horizontalidade entre atores e público. O espaço é organizado em 360 graus, sem lugar demarcado para palco e assentos. Ítalo Laureano, que assina a direção da montagem, compara o formato a uma conversa de bar.
“Os diálogos informais sempre são ruidosos, porosos, sem ordem… Muitas vezes, não se conclui um assunto. O espetáculo também não tem início, meio e fim. Gostamos de lançar perguntas, dialogar a partir do que o público tem pra dizer. Planejamos 60% da peça. Os outros 40%, a plateia daquela noite específica é quem constrói”, garante.
O espetáculo, que já passou por vários cantos do Brasil, consegue dialogar com públicos diferentes, observa Laureano. “É curioso observar as peculiaridades. Na Região Norte, por exemplo, as pessoas interagem com muita facilidade, são bem empolgadas. No Sul, o público é um pouco mais desconfiado. O Brasil é um país muito grande. Nosso principal cuidado é sermos acessíveis. Queremos falar com todo mundo sem usar linguagem acadêmica ou especializada”, comenta.
AMÉRICA LATINA O Quatroloscinco, reforça Ítalo, surgiu justamente da vontade de explorar narrativas que fogem do modelo tradicional: “A gente se conheceu fazendo uma disciplina sobre teatro latino-americano. Temos pouca relação com os países vizinhos e, muitas vezes, pegamos modelos europeus, norte-americanos… O Quatroloscinco tem em comum a vontade de questionar, inovar”.
Marcos Coletta se orgulha dos 12 anos de trajetória da companhia. “Em um país que não tem suporte para a cultura e apresenta condições tão desfavoráveis, ser artista é ir contra a corrente. Arte não faz parte da cesta básica. Por isso, temos o privilégio enorme de poder contar nossas histórias e ainda viajar pelo Brasil”, conclui.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria
FAUNA
De Marcos Coletta e Assis Benevenuto. Direção: Ítalo Laureano e Rejane Faria. Com Marcos Coletta e Assis Benevenuto. Funarte. Rua Januária, 68, Centro, (31) 3213-3084. De quinta-feira a domingo, às 20h. R$ 15 (Sinparc). Em cartaz até 3 de fevereiro.