Clássico dos palcos brasileiros, a peça Auto da compadecida, de Ariano Suassuna (1927-2014), foi escrita em 1955. Ganhou várias versões no teatro, cinema e TV, narrando as aventuras dos pitorescos João Grilo e Chicó. A comédia parte do enterro e do testamento do cachorro de um padeiro para culminar na saga pelo sertão nordestino, com direito a cangaço, milagres, Jesus, diabo e até Nossa Senhora, a Compadecida.
Atemporal, a criação de Suassuna ganha adaptação de Gabriel Villela que remete ao Brasil contemporâneo. Depois de temporada de sucesso pelo interior e capital de São Paulo, o espetáculo, que marca a primeira parceria entre o premiado diretor com o grupo mineiro Maria Cutia, chega ao Sesc Palladium, em BH, com ingressos esgotados.
“É uma felicidade isso acontecer, esse reconhecimento. Em São Paulo, os ingressos também se esgotaram. Desde que estreamos em Ribeirão Preto, no começo de junho, tem sido maravilhoso. Neste fim de semana, vamos atingir o público de 10 mil pessoas. Voltaremos a encenar o Auto em BH, em janeiro, durante a campanha de popularização”, promete Leonardo Rocha, ator e fundador do grupo Maria Cutia, que está completando 13 anos.
O sonho de trabalhar com Villela é antigo. Vem desde 2012, quando a trupe do Maria Cutia assistiu à versão de Romeu e Julieta do Galpão, dirigida por Gabriel, no londrino Shakespeare’s Globe Theatre. “Quem fez a ponte foi a Babaya, que sempre cuidou da nossa preparação vocal e também de muitas produções do Gabriel. No começo do ano, ele nos ligou falando que tinha o desejo de trabalhar conosco. De cara, sugeriu o Auto da compadecida”, diz o ator.
A nova versão traz a estética barroca, marca registrada do diretor, além da linguagem do próprio Maria Cutia, valorizando a música, o teatro de rua e o circo. “A história tem muito a ver com o nosso universo, o teatro popular. A visão do Gabriel traz o enredo original, mas de uma outra forma. Ele relaciona muitas coisas com o momento de hoje usando pitadas de ironia, traço forte do Suassuna. O teatro de revista serve como pano de fundo para paródias sobre o Brasil atual. As notícias surgem em diversos momentos, sempre associadas às histórias dos personagens”, explica Leonardo Rocha.
Acostumado a trabalhar com músicas autorais, Maria Cutia recorre agora a canções conhecidas – entre elas, Alegria alegria, de Caetano Veloso, e América do Sul, de Ney Matogrosso. “Tudo executado ao vivo, como sempre. Porém, é uma novidade ter uma trilha que não seja uma inspiração nossa. Foi sugestão do próprio Gabriel. Ela foi pensada dramaturgicamente, pois as canções dialogam com o roteiro”, destaca Leonardo.
Figurino e cenário são um capítulo à parte. O elenco, formado também por Hugo da Silva, Mariana Arruda, Lucas Dê Jota Torres, Malu Grossi, Marcelo Veronez e Polyana Horta, visitou o ateliê de Gabriel Villela em sua cidade natal, Carmo do Rio Claro, no Sul de Minas. “Estavam lá figurinos de vários espetáculos dele. O Gabriel disse pra gente escolher os que mais tinham a ver com o Auto. Ficou uma interessante colcha de retalhos, há ali várias referências”, revela o ator do Maria Cutia.
AUTO DA COMPADECIDA
De Ariano Suassuna. Direção: Gabriel Villela. Com Grupo Maria Cutia. Sábado (5), às 21h; domingo (6), às 19h. Grande Teatro do Sesc Palladium – Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, (31) 3270-8100. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia).
Ingressos esgotados.