Nos últimos tempos, a cachaça deixou de ser o único destilado produzido em Minas Gerais. Desde que o gim reapareceu nos drinques de bares e restaurantes, o cenário mudou. Belo Horizonte e cidades do interior agora abrigam destilarias que produzem artesanalmente à bebida a base de cereais e especiarias (com destaque para o zimbro). A cada rótulo, uma surpresa.
André Sá Fortes foi dono de bar de coquetelaria e sentia falta de destilados artesanais, fora a cachaça, no Brasil. Isso já era tendência na Europa e ele acreditava no potencial do nosso mercado. “Então, me associei a uma pessoa que tinha uma destilaria em Londres e já entendia do negócio”, conta o fundador da Yvy, palavra que significa território em tupi-guarani.
Os sócios criaram três rótulos para mostrar, através do gim, como a cultura brasileira se desenvolveu. O primeiro rótulo, Mar, faz referência à chegada dos imigrantes, por isso destaque para as especiarias (como cardamomo, noz-moscada e canela), que motivaram as expedições para o Brasil.
O segundo gim, Terra, com lançamento previsto para novembro, colocará em evidência a cultura indígena. Já o terceiro, Ar, programado para março do ano que vem, fará uma junção entre as influências externas e a cultura local.
A Yvy quer mostrar que gim não precisa viver só de tônica. Um dos drinques servidos no Herbário, bar da marca no Mercado Novo, é o coladinha, uma versão de piña colada com gim, água de coco e suco de abacaxi caramelizado. “O mineiro já está começando a entender as suas preferências, mas falta entender que, assim como a cerveja artesanal, você não precisa ter um só gim preferido. Cada um tem caraterísticas diferentes e a experimentação deve acontecer mais”, opina André.
Da cerveja para o uísque e do uísque para o gim. Pelos olhos de Paula Lebbos, a Backer enxergou um novo mercado e entrou de vez para o mundo dos destilados artesanais. “Fazendo pesquisas mundo afora, percebi que o gim era a bebida da vez, como a vodca era na minha época de juventude.
Nada mais apropriado para a Backer do que criar um gim com matéria-prima usada na fabricação das cervejas. Na composição do Lebbos Hop Gin (que recentemente ganhou medalha de bronze na Califórnia como melhor gim contemporâneo), o malte e a flor de lúpulo se misturam a botânicos tradicionais, como o zimbro. “É um gim mais seco, bem leve e com aromas de frutas, não só limão e laranja. Tem uma pegada de mel e pêssego que o lúpulo trouxe”, descreve.
TÔNICA Segundo a diretora de marketing, a Backer vai lançar, em breve, uma água tônica natural feita com lúpulo para combinar o seu gim.
Uma fazenda em Camanducaia, no Sul de Minas, abriga uma das primeiras fábricas brasileiras de gim. O paulistano Augusto Simões Lopes desbravou esse mercado numa época em que só existiam importados e industrializados. “Tive a oportunidade de experimentar gim em vários países e me apaixonei pela bebida. Vi que não existiam opções no Brasil e resolvi empreender”, conta. O Jungle Gin nasceu em 2017 e já ganhou quatro medalhas internacionais.
Augusto se baseou nos gins que experimentou pelo mundo para criar a sua própria receita.